16.6.10
pensei num título duas vezes
lerebi
3x no cartão
junk-soul
reflexo
to na porta de casa, baqueteando com os dedos uma música cansada de ser trilha sonora de uma vida sem música, longa espera;
12.6.10
10.6.10
cactus e hormônios
iazul
9.6.10
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ao meu pequeno príncipe
brown eyes
às vezes eu me assusto com tudo que tu significa pra mim porque eu sei que se um dia tu for embora nada no mundo vai conseguir preencher esse espaço, e às vezes eu me assusto porque eu me pego pensando em tu e querendo me entregar todinha pra tu, e eu tenho medo de terminar vazia e sozinha. acho que isso é medo natural que todo mundo sente, mas eu tenho ainda mais medo pq quando eu to ctg eu não sinto esse medo, e eu me permito me abrir todinha, sem nenhuma defesa, porque tem algo que me diz "aqui não precisa disso". quando eu to ctg eu não meço as minhas palavras, eu não roo as minhas unhas, eu não faço nenhum esforço para ser quem sou, eu não quero estar em nenhum outro lugar com mais ngm. quando eu to ctg a gente pode ta em qualquer lugar, fazendo qualquer coisa, e eu me sinto completa porque o que eu gosto realmente quando to ctg é a liberdade natural que tu me da de simplesmente ser eu.
não me imagino existindo de nenhuma outra forma nem pra mais ngm, e acho que isso é a maior felicidade que alguém pode sentir, a maior fidelidade que alguém pode oferecer.
tu é meu livro preferido.
how my heart behaves
Meu coração é um ideograma desenhado a tinta lavável em papel de seda onde caiu uma gota d’água. Olhado assim, de cima, pode ser Wu Wang, a Inocência. Mas tão manchado que talvez seja Ming I, o Obscurecimento da Luz. Ou qualquer um, ou qualquer outro: indecifrável.
Meu coração não tem forma, apenas som. Um noturno de Chopin (será o número 5?) em que Jim Morrison colocou uma letra falando em morte, desejo e desamparo, gravado por uma banda punk. Couro negro, prego e piano.
Meu coração é um poço de mel, no centro de um jardim encantado, alimentando beija-flores que, depois de prová-lo, transformam-se magicamente em cavalos brancos alados que voam para longe, em direção à estrela Vega. Levam junto quem me ama, me levam junto também.
Meu coração é um bordel gótico em cujos quartos prostituem-se ninfetas decaídas, cafetões sensuais,deusas lésbicas, anões tarados, michês baratos, centauros gays e virgens loucas de todos os sexos.
Meu coração é um entardecer de verão, numa cidadezinha à beira-mar. A brisa sopra, saiu a primeira estrela. Há moças nas janelas, rapazes pela praça, tules violetas sobre os montes onde o sol se põe. A lua cheia brotou do mar. Os apaixonados suspiram. E se apaixonam ainda mais.
Meu coração é um filme noir projetado num cinema de quinta categoria. A platéia joga pipoca na tela e vaia a história cheia de clichês.
Meu coração é uma velha carpideira portuguesa, coberta de preto, cantando um fado lento e cheia de gemidos - Aí de mim! Ai, ai de mim!
Meu coração é o laboratório de um cientista louco varrido, criando sem parar Frankensteins monstruosos que sempre acabam por destruir tudo.
Meu coração é um mendigo mais faminto da rua mais miserável.
Meu coração é um traço seco. Vertical, pós-moderno, coloridíssimo de neon, gravado em fundo preto. Puro artifício, definitivo.
Meu coração é um anjo de pedra de asa quebrada.
Meu coração é um bar de uma única mesa, debruçado sobre a qual um único bêbado bebe um único copo de bourbon, contemplado por um único garçom. Ao fundo, Tom Waits geme um único verso arranhado. Rouco, louco.
Meu coração é um sorvete colorido de todas as cores, é saboroso de todos os sabores. Quem dele provar será feliz para sempre.
Meu coração é uma sala inglesa com paredes cobertas por papel de florzinhas miúdas. Lareira acesa, poltronas fundas, macias, quadros com gramados verdes e casas pacíficas cobertas de hera. Sobre a renda branca da toalha de mesa, o chá repousa em porcelana da China. No livro aberto ao lado, alguém sublinhou um verso de Sylvia Plath: "Im too pure for you or anyone". Não há ninguém nessa sala de janelas fechadas.
Meu coração é um deserto nuclear varrido por ventos radiativos.
Meu coração é um cálice de cristal puríssimo transbordante de licor de strega. Flambado, dourado. Pode-se ter visões, anunciações, pressentimentos, ver rostos e paisagens dançando nessa chama azul de ouro.
Meu coração é uma planta carnívora morta de fome. Faquir involuntário, cascata de champanha, púrpura rosa do Cairo, verso de Mário Quintana, vitrina vazia, navalha afiada, figo maduro, papel crepom e um milhão de etcéteras!
minúsculo ser
eu me achava incompleta, vazia como uma casa sem móveis, dormia no chão de mim. tantas visitas, e pouca presença. tanto vento, e pouco ar; tudo preenchido com fumaça, bolhas de sabão e espaço. foi depois de algumas noites caminhando pelo nada que descobri que tudo estava ali exatamente por não estar, como uma placa de "reservado" numa mesa que espera alguém, e que era o propósito de cada ausência me mostrar uma parte de mim a ser preenchida, como um passo que antecedia meus pés num caminho invisível traçado antes do saber, farejado apenas com o coração. uma vez nesse caminho, a sensação de perdido aos poucos deu lugar à mim, e sem pedir informação à ninguém, resolvi nunca mais parar para sempre. (...)