30.10.15
tpb
não me importa se um dia és norte e no outro sul
eu te amei todos os dias
até nos dias em que o amor era outra coisa
talvez um pouco mais escura,
meio sem rumo
totalmente sem sentido
29.10.15
28.10.15
para Solange:
tenho consciência do momento exato que vou explodir, por exemplo; segunda-feira Luiza me disse que era borderline. Sim, no primeiro momento o que senti foi inveja, depois rapidamente uma raiva de mim mesma por senti-la, e então, mesmo que ela me pedisse "fala, me conta, pq ficasse tão estranha de repente?" não conseguia sair de mim, nem aceitar dentro de mim, a ideia do sentimento que tive. por que invejava aquil? seria o alívio que eu queria ou a atenção de ser o centro, a border? E depois o que? Travei em raiva. Primeiramente de mim, porém expressa totalmente através dela. Saco de pancada. "Voce tá com raiva pq queria ser border, não é? Eu sei que é" e então a gota d'agua. "Pare o carro, eu quero sair, pare o carro, me deixa ir embora, vc não entende nada" e então passou-se uma hora de falta de ar, de vista vermelha de ódio. Eu saiba que ela mandaria a mensagem, eu respondi bufando "morre, eu te odeio, vai embora, vc n entende nada!"
"EU TE ODEIO VC JÁ TEM SEU DIAGNÓSTICO AGORA ESPERO Q VC MORRA DELE"
tremendo de raiva, bufando de raiva, raiva irracional, abro a porta e vou comprar cigarros e por um segundo me sinto perdida, em lena consciência do que fazia, alimentando ainda mais aquela raiva.
"Ele disse que algumas pessoas não precisam de muitas consultas e que eu era o tipo de borderline que faz mal pra si mesmo"
(Então eu sou o tipo ruim, o tipo que faz mal pros outros, o tipo que eu mesma não queria ser, o tipo que destrói, o tipo que inveja esse diagnóstico no lugar de estender uma mão e ouvir)
"Por que tas assim tão estranha? Tas parecendo outra pessoa, às vezes tu parece outra pessoa"
"Não to estranha, só quero ouvir"
(Eu sei que to estranha e eu não sei o que fazer pq a qualquer momento o monstro vai surgir aos golpes, só queria q ngm me perguntasse nada e eu não fosse eu)
"Não, tu tas estranha sim, o que foi que eu fiz? Tu tava de boa agorinha."
"Não é nada, fiquei esperando esse tempo todo e tava ansiosa pra saber como foi tua consulta"
(Eu to ansiosa, eu quero explodir, se eu te contar o que pensei vc ngm jamais gostaria de mim, eu sou de fato uma pessoa ruim)
"Queres fazer alguma coisa?"
"Me deixa em casa"
(Por favor, não me deixa, por favor, eu sou uma pessoa ruim, vai embora)
"Oxe, tu quer ir pra casa?? A gente mal ficou juntas hoje. O que é que tu tem hein, pelo amor de Deus? Não adianta dizer que tá normal"
"Eu to normal, só to cansada"
(Eu quero tudo e nada e não queria ser eu no meio de toda essa ansiedade, eu não sei, eu vou perder o controle, eu não sei quem sou)
Para na farmácia, quase um piloto automático, tomada pela ansiedade, pelo medo, pela raiva, meu deus se vc existe de onde vem tanta raiva? Compra o remédio, eu nem existo nesse mundo onde meu cartão de crédito foi negado, eu quero ir embora de mim. De novo tudo isso, e ao mesmo tempo que machuca, tem alguma coisa de bom, de vivo. Em cinco minutos estarei urrando de raiva e desespero, abandonada por algo que eu mesma criei. Em cinco minutos eu descarrego minha metralhadora de palavras em você sem nenhuma, N E N H U M A, consideração por você, pelos seus sentimentos. Em dez minutos eu me martirizo, eu sou a pior pessoa do mundo, sempre EU.
"A culpa é sua, vc disse que eu queria ser borderline"
(Eu sei que a culpa é minha mas eu não aguento isso, então te dou ela a todo custo)
"Vc podia ter conversado comigo, eu não aguento mais isso, esse acaba e volta, vc não sabe conversar, simplesmente explode sem falar nada"
"Eu sei"
(Eu sei)
E agora, o que tenho a dizer sobre isso e sobre os dias onde chego em casa e já sei que vou me martirizar procurando algo sobre borderline ou histrionismo, onde sinto surgir o desespero no meio de um sorriso que mal acabei de dar, sozinha no meu quarto pesquisando mil coisas e me perdendo no que sou e não sou, perguntando para André o que eu sou, afinal, pela milésima vez, você vai enjoar de mim, por favor na me abandona tá? Ele ri, me diz que não, tenho meus problemas mas não sou nada disso, e que diferença faz um nome? Você não vai deixar de ser feliz seja lá o que vc for. Mas não para aí, eu deveria estar estudando, eu deveria estar fazendo alguma coisa boa para mim mesma e to aqui, mais uma vez me perdendo no desespero e buscando ajuda e me perguntando coisas que são duras demais pra responder sozinha pq às vezes eu sei as respostas, mas queria que fossem outras. Eu estou perdendo tempo e postergando tudo, foi assim no vestibular, foi assim na faculdade, vai ser assim pra residência também? Sera que esse não passa de um mecanismo meu para me impedir de seguir em frente com a vida que eu tanto temo, que eu tanto me sinto incapaz? Eu não sei mais no que acreditar, a verdade é essa, não sei se acredito nas minhas próprias mentiras ou se me perco nas verdades absurdas, ou os dois, eu não sei quem sou e demora um longo tempo até que volte a bater no ritmo normal, o coração. Então eu escrevo, estou aqui, escrevendo, não é útil, mas também não me dói tanto, alivia. E quem garante o amanhã? E quem garante os próximos trinta minutos? Tudo muda o tempo todo e eu só tento me manter sabendo, ao longo de tudo que me acontece, ou que faço. Preciso assumir que faço as coisas, que não sou vítima ou irresponsável pelas minhas ações. Sei. Desde quando saber me trouxe algo bom? Quando foi que essa inteligência me trouxe descanso? Tantas vezes consegui pensar até ficar infeliz, nunca o contrário. Vou tentando falar algumas das coisas indizíveis, como o sentimento de inveja. E a terrível certeza que uma parte de mim quer que tudo isso aconteça. Até quando?
27.10.15
Mae
Mãe, me ajoelha de fronte a tua cruz
Me prega que eu preciso parar um pouco e descansar
Suspensa de todo suspense
Mãe, me acolhe
Embora doa, você pode doer comigo
Como se hoje fosse domingo
E toda vida uma missão de paz
Mãe, te perdoo por me perdoar
Eu que coube em teu ventre
Hoje não caibo em nada
Me liga de volta ao que era
Me gera um pensamento bom pra eu não poder lembrar
Chegamos, grita o marujo
De bocas secas, gengivas sangrantes
Os dentes ainda soltos
Na minha pele doce
Você precisa de limão, meu amigo
É terra?
É firme?
Prometeste descanso, senhor capitão
Finco os pés
Choro quando afundam
Em mais uma nuvem bem densa de escorridos e transcorridos
Azeda ilusão
Quase cítrica, quase cura
Você precisava disso
É triste o fim, o fim infinito das coisas que não terminaram ainda
O fim repetido
O indesejado fim conquistado
Miro lá longe e todo meu reino não passa dos cacos que cultivei
Sentada no peito de alguém
Só para ver mais alto
Quando inspira
E cair de frio na barriga
Quando assopra
O fogo manso abafado não precisa respirar mais
Precisa apagar
Luiza
Sim, foi descuido quando meu peito sem querer bateu no teu
E foi escudo quando minha mão, sedenta dos teus cabelos,
Se lançou contra teu sorriso
E foi um aviso
Minhas linhas às vezes se apagam
O teu sorriso dilui
Nas palavras que lanço feito dardos num alvo profundo
Eu te perdoo por me perdoar
É que, sem querer, eu te quero tanto
E tão perto e dentro
Que não sei cruzar a ponte sem antes me atirar
E te ver morrendo
Feito duas chamas no mesmo incêndio
Eu não ouso te apagar
Sim, foi descuido, foi escudo, foi duro dos dois jeitos
Sei bem, meu amor não é perfeito,
Mas ele foi feito pra te dar
Luiza
Sinto tua falta desde o primeiro abrir dos olhos até o último bocejo na noite inquieta. Acordo com uma injeção fria pela espinha, um líquido gélido e viscoso que me lembra exatamente onde estou: aqui sem você. Sei que é para melhor, principalmente o seu melhor. Não sei porque insisto em destruir tudo que amo, quase que destruindo a mim mesma em dobro. Garotaria de ter a resposta para essa e tantas outras perguntas, mas talvez isso seja a vida, esse eterno acontecimento do nao-saber. Sei que cada segundo que passa fica um pouco mais eterno, e que cada pequena eternidade dessa parece uma vida longe de ontem. Gostaria de cortar minhas maos e dá-las para que você as beijasse e me dissesse que está tudo bem agora, que elas não machucariam mais, mas ainda teria a culpa que mao nenhuma carrega.
26.10.15
25.10.15
24.10.15
estou aqui
voltei depois de dois dias de ausência, de ossos roídos sem medula. um casal de dias inferteis, posso dizer, onde toda tentativa de desejo era um fruto podre ainda no galho. estou de volta, Luiza dorme envolta das colchas como um pequeno novelo de ossos frágeis e pensamentos densos. tudo me acalma e me anuncia o recomeço que já nem conheço: acabou a era, se é que posso chamar tão curto período de tempo de era, da solidão inócua. mas assim me pareceu, para quem estava dentro da ampulheta esperando ansiosamente o último grão daqueles dias caírem. e agora o shift, a mão voluntariosa é imprevisível que levanta a ampulheta e gira, quase que invertendo os polos da terra. mas não, sei que o que me aconteceu aconteceu apenas para mim, sendo assim indizível a exata quantidade de tempo que se passou desde aquele último inverno. tenho mil estações, não como um trem que segue sua linear, com pausas programadas, sempre cheio e vazio de gente. sim; tenho mil estações tal qual uma locomotiva, louca emotiva, a qual todas as noites pequenos homens levantam do chão sua rotina de ferro e as desviam por outros caminhos, por vezes inabitados, por vezes em círculos sadicos ao redor de um centro que jamais atinge. há colisões, por vezes, entre minhas estações, porém não se engane quem acha que são frutos de acidentes; o caos segue a linha e a linha estava sempre deitada antes dos passos, não podendo haver acidente devido à ausência de espontaneidade no desastre.
23.10.15
22.10.15
21.10.15
I dont know
what am I doing to myself?
Is there a museum for broken people
Where schoolkids go
To learn about love?
Carolina e o futuro
no golfo da Flórida
ou no Nordeste do Brasil
o futuro está sempre aqui
Presente no medo
never tell me again
todos temos problemas, coisas com as quais temos que lidar, e todos nós levamos eles para casa de noite, e levamos para o trabalho de manhã cedo. Eu acho que tudo isso, essa impotência, essa constatação, esse mal presságio, estar à deriva em um mar sem boia nem salva-vidas, quando você achou que seria você quem jogaria a boia
deus eu te perdoo por não existir, eu te perdoo por me deixar falando sozinha, te perdoo como Clarice tb te perdoou. deus, vc é uma criança com brinquedos demais nas mãos, e nem mãos vc tem. eu te perdoo por nunca me explicar o motivo daquela noite na qual acordei aos murros e pedi pra vc me levar. eu te liberto de mim como obrigação sua, eu peço licença e me emancipo da sua divindade sempre ausente demais. deus, você não tem ouvidos, mas eu te perdoo por não me ouvir. deus crápula, você merece perdão e eu sei q vc pede, chorando no seu travesseiro de nuvem. pra quem vc reza, deus? teu filho morreu, nunca casaste, nunca nem te viram para poder te estenderem uma mão por acaso. eu te perdoo pelas esquinas cheias de fome e por esse meu peito rasgado de perguntas q vc plantou e foi embora.
20.10.15
19.10.15
name your bullets wisely
Por uma ou duas vezes cruzei-me com o amor, sendo "cruzar" uma palavra talvez polida demais para a ocasião: duas ou três vezes lembro de ter acariciado um gatilho de armas antigas enquanto explicava as histórias, quase mitos, de batalha. uma noite, enquanto quase todos dormiam, todos exceto por mim e meu coração curioso, vesti minhas pantufas, peguei minha lanterna e fui até a sala onde, delicadamente, feito fosse levitar das paredes, estavam emparedados todos os armamentos, escolhi a mais leve, uma pequena pistola que ficava logo abaixo do imponente rifle. caminhei até a entrada do bosque e, em um só suspiro, atirei duas vezes para o nada, nascendo no escuro um som sobrenatural, aterrorizante, o som que acordava os velhos restados de seus pesadelos de guerra, como ecos de grito presos ali dentro daquele tambor de seis balas.
voltei para o quarto, voltei para a cama, no outro dia comentavam sobre o estrondo da noite passada, mas não dei um pio.
hj sei que de alguma forma aqueles dois pedaços de chumbo vagaram por aí, rasgando carne, madeira, osso, tempo, e voltaram exatamente para o meu peito nos dias de Andrea e Luiza
17.10.15
14.10.15
sabe, olharás assim de soslaio, como que sem querer ver que de fato ansiava para olhar; e dirás, assim sem mais nem menos, que aquela festa cocotinha cheia de gente que se orgulhava de suas semelhanças, o meio no qual você, explicitamente orgulhos nao se encaixava, aquela festa ja tinha dado o que tinha que dar. Algumas caipirinhas de vodka importada, um arranjo de mesa de exoticas tulipas laranjas e um dolorido demain de pés no gelo de tanto salto alto. Queria a sensação de uma chave que encaixa na fechadura exata, o cheiro de estofado do hall. As pantufas jogadas debaixo do sofá onde adormeciam deitadas umas sob a outras as páginas de "Demian". Queria banho quente e desenhar uma cara melhor na fumaça do boxe. Depois deslizar entre os lençóis, finalmente despida, os pés gelados para fora do colcha ouriçando levemente os mamilos que encontravam-se livres para experimentar outras superfícies que não as rendas ásperas do sutiã.
13.10.15
12.10.15
saudade
tem um jeito de te falar das coisas q sinto que não seja gritando?
que saudade de ser sua
dos teus olhos me acariciando pela luz bem mansa
suculenta vontade crescendo nos teus dentes
e nos teus lábios rosados
11.10.15
10.10.15
my kids
my kids will know how much i lover their mama
and that theres nothing in this world that can bring them down
but themselves
she's over bored and self-assured
não vai e me deixa aqui
em plena crise de abstinência;
às vezes leva até mim mesma
é um dom mesmo
i wish i could belong somewhere like that, like clouds belong to skies and people fit into each other, but im always too much for anything
in you
not numb
occupied
no show
again
inside
so safe
not lost
again
i cant deny sometimes my thoughts disturb me
but not as much as you
no number
no self
no one
but when?
we live to die and die for love
but i can never tell the difference in you
sometimes I know my heart is deadly
meu deus como eu te amo e como isso não cabe em nada, nem mesmo em você.
today
eu amo demais as pessoas e esse vasto sentimento inabitado que toma conta de mim é como cultivar um deserto.
morning
é você e não tem jeito, o reflexo do sol nascia nos teus olhos cansados pois já era dia, tá muito frio, que horas são?, meio dia e vinte, fudeu meu amor, fudeu, to morrendo de fome, cadê o cardápio meu amor? tu levou lá pra baixo num foi? tu é uma fofa.
Luiza
olhava nos teus olhos de diabo caramelo
atentando meu peito como a migalha atenta o faminto
teus olhos de sugador
pretos de tantas almas
que ali ficaram
pela última vez sorrindo
eu te amo e isso me dilui em algo bem mais denso que a vida
eu te amo e eu me perco nesse verbo
sem mapa, sem endereço de casa
nem casa
nem
7.10.15
carta para mim mesma
você exige demais da vida. vive escrava dos seus pensamentos como um andarilho é preso às ruas: acha que eles te trarão glória, fama, sucesso. acha que chegara onde deus sabe onde. a menina, menina mesmo, sem identidade de maior e sem sexualidade definida; você não sabe o que quer, a não ser olhos. quando te falta a atenção, pensa demais e logo vem à tona teu problema, que é nenhum, na verdade, e muitos para ti.
afaste-se dos outros ainda que tudo que desejas seja o contrário, quando nas tuas crises de angústia te faltar ser vista. afaste-se para lembrar de fato o que és: nada. nenhum impulso brota tão intensamente quanto aqueles que surgem diante dos outros. não te aceites, menina. te aceites, e serás escrava sempre desse eterno arrependimento que é tua vida. não serás nada, nada além de um espelho carente de reflexo. o mundo lá fora não te toca, teus pés no chão não sentem o chão frio, mas importam-se apenas com as pegadas que deixastes. queres ser memorável, não é mesmo? como é pequena, a menina. como te esmaga essa ideia de grandeza que jamais brota, sempre a semente do quase e nunca.
nesses dias que passam, tua fidelidade foi pouca a ti mesma. o que transcorreu foi fruto de que, afinal? de vontades ingênuas ou de puro medo, o medo que vejam de fato o quão raso é o teu brilho? mais uma vez te digo e não falo nada, mas como essa carta é apenas nossa, creio que entendas as entrelinhas, afinal, é nelas que passamos grande parte do nosso intolerável tempo sozinhas. a vida te distrai e distraindo-se, voltas a encenar para quem quer que seja. sim, sei o que pensas, mas preciso dizê-lo; acabou mais um ato. fuga para o norte.
no momento, não sabemos de nada. de nada mesmo. se recorremos ao passado, sabemos que muito do que vem à tona na superfície da mente é fruto de tuas armadilhas mentais. por exemplo, há tempos que falo e nada digo.
você tem medo de você, você tem medo de terminar sozinha em algum calabouço da sua vida, ou etérea em mais um castelo que fantasiamos juntas e que juntas destruiremos. por que pensar? eu não sei.
livre-se dos outros e deixe que sigam sem tuas interferências infantis, desejando ser sempre esse centro sem eixo. você vê a estrada pronta antes mesmo de calçar os sapatos e ainda ousa dizer que foi tudo acidente? não, com você não existe o espontâneo; é tudo planejado e revisado e revivido. como te dói ser assim, eu sei, mas tua dor não deve nunca justificar as atrocidades que fizestes. a mão cansada não justifica a queda da espada sobre a cabeça dos inocentes. e mais uma vez, não dizemos nada.
tua mente se fecha no instante em que a consciência se acende, mostrando por dentro todo o vazio que existe e cada canto inabitado de ti é uma sombra do desejo de ser vista. criamos tantas cortinas, criamos tantos empecilhos, somos bruxas, eu e você, só eu. o desejo de ser profunda é a prova do quanto és rasa.
volto a te escrever quando não estivermos mais olhando, quando conseguir afastar esse vigia incansável que não nos permite compartilhar tudo que sabemos.
i am sorry
for running wild against everything you struggled for, for killing peace and then cleaning the knife on your shirt.
histri
tenho medo do quanto dependo dos outros, questionando minha própria existência longe dos olhos alheios.
dormir no almoço
não quero encontrá-los, assim perderei-me novamente; não que eu esteja encontrada, não. apenas me dói o quão sou facilmente entretida, facilmente sorrio, desempedrada no primeiro olhar e então acabou-se; torno-me escrava de suas presenças.
6.10.15
have you ever seen a man shot without bleeding?
I was nine years old the first time i saw blood unvoluntarily come out of me.
At the heart of things
I am here where it beats louder
Closer to the sin
I am drowning soundless
I dance at the heart of things
5.10.15
10con
descontentamento: aperte-me em seus braços e me diga se também não sentes todos esse espaço sendo ocupado insensível.
10ne
você quer se apaixonar de novo, mas pelo mesmo que agora desfazes. preciso me reinventar? para que teus olhos sejam dignos de pousar em mim? minha pele, trem de pousa, pista ferida dos cavalos mancos, eu? traçar com os dedos um novo X na terra batida e gritar "pula"? eu não. desnecessário.
not
nadou até a beira, repousou os braços sob o chão de cimento batido, depois; desejou o submerso, desejou não sabe que haviam superfícies, odiou profundamente a piscina rasa, quis desfazer-se aos poucos engilhada, desmembrana.
leonina fraca
sente-se às margens dessa deusa e sinta seu respirar sagrado invadindo sua solidão desraigada. a leoa corre, avança, enforca a prole pelo pescoço e traz até o ninho, quase mortos, pra acordar e caçar.
amanhã o corpo
amanhã eu acordo e as dores dos outros tem hora marcada num consultório sem janelas, sem ventilador, o único ar novo é aquele ar moribundo que sai da boca do paciente antes de anunciar as novas e velhas mazelas do corpo. é como um caixao para os vivos, o corpo.
vinco
antes de escrever, sou o vinco na folha imaculada. a cratera na barra da camisa de seda, perfurada por estranho objeto incendiário. queimou tudo de vestir, menos a pele, o mais inseparável dos adornos, totalmente desnecessária.
saudável
new age concert, você aplaude de pé e eu te aguardo sentada, sentada no colo da minha paciência que já beira zero de tanta ignorância.
o mundo
não choro mais, você disse pra mim. que estranha ausência se acomoda nos parques das cidades, o vento rodando os giradores como as almas das crianças, os balanços rangendo os dentes doloridos de tanto mastigar o dia até chegar a noite com o silêncio abafado dos tímpanos pressurizados. já não escuto mais o que dizem, apenas sei que roda sob estranhas inclinações e forças que não entendo, o mundo.
Luiza
você queria seu nome no título e o meu embaixo, na mesma capa, meu nome de autora e o seu de obra. mas não desdobra mais o fio da história, empacou e quando puxei, havia nada no fim da linha a não ser um rebento indicando o que antes havia de haver ali.
hein
deste lado de cá, de quem sonha tão triste acorda, morrer é não acordar nunca ou dormir cedo demais?
o dedão do pé
vem cambalear nesse tropeço de mar morto, quase uma sereia se não fosse os pés descalços e os dedos avulsos, despontados em todas as direções que o pé teima em não seguir. a linha é clara, a estrada é reta, quem mandou nascer unha do dedo do pé e levar topada na testa?
caetano
Caetano, tu quer pera? quer pai, pedra, palmeira? quer xerem de almoço com leite de coco? quer uma rede trançada na mão? deita aqui calado, faz careta, chupa o meu dedo mindinho: se derreter, é teu.
fine
eu não acredito nos outros, talvez por saber em mim mesma que garantias nada mais são do que incertezas ainda confusas, fins ainda não finados
fine
deve haver um lugar onde as coisas se findam tranquilamente e sem questionar o que veio antes daquele momento.
rattle
costumava arder embaixo da minha pele uma camada de ausência, eu sentia tanto, era tanto amor, meu Deus, eu sei que amei. preciso permanecer grata pelo que foi, ainda que segure a carcaça do desvivido em minhas mãos? preciso mesmo ser grata por esse invólucro? ou deveria sacudi-lo como a cabeça dos loucos, como o chocalho da cascavel anunciando um ataque disfarçado de mato e música mexicana barata?
dias
é um dia quente e uma noite agradável. e o intemperavel tempo, essa lesma morna que nem passa nem morre.
eu vou embora
peço desculpas de antemão para mim mesma lá na frente, por saber tudo que sei e insistir em esquecer, para que assim leve a vida da maneira mais madura que se tem que levá-la. aguardam ansiosos no final, com flores e um sorriso de vitória: você sobreviveu.
vive às custas de um talvez
finge ter fé, vive esperando o milagre. basta um pé atrás do outro e o embalo dos passos que se segue, saia da inércia. eu não sei mais dizer o que quero ou eu não quero dizer mais nada?
esperar dona mulher da foice
trabalhar, dormir, comer, casar, qual o sentido? nenhum, não é sentido. pra cima é norte, pra baixo é sul. ou não. vire 180 graus e tudo muda, mas a pergunta persiste intransigente: qual o sentido? eu não aguento mais acordar todo dia e ter que olhar no espelho pra saber que continua tudo a mesma coisa. look up, look up; thats what the spirit guides said.
quando foi que minha pele engrossou? era como um homem coberto de queimaduras profundas, sem uma pele para protegê-lo do mundo, totalmente exposto aos olhos crus. sentia cada gota molhada de chuva como um banho de ácido; afogava-se de ardor. era o sol também, inimigo. e a brisa, e os odores fortes, e a línguas dos cães, e o choro forte do bebê. tudo é ameaça para quem não tem defesa. mas
havia engrossado a pele, a finalmente pele. depois de tanto viver, acumulou um pouco de todas as experiências tão sentidas e deu que formou-se uma fina camada furta-cor das coisas: era poeira, raio de sol, cheiro de cigarro, resto de parede, sangue. era uma fina seda perolada, sem cor de pele nenhuma. quando foi que minha pele engrossou? e sentiu novamente o calo nas mãos,
your love
me, the dog and the moon
strange things have happened to me
but nothing as crazy as love
i know how to remember
but i can never feel it again
its like the national anthem
from a foreign hellish nation
but
sung with your tongue
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