28.10.19

amar zona

basta um noticiário sobre o aumento das queimadas na amazonia e agora tudo parece ter cheiro de queimado, um caso isolado de sarampo no interior de campinas e todos os pronto-atendimentos se enchem com filas de pessoas sadias desejando danadamente fazer parte dessa minuscula estatistica, manchas de petroleo que boiam, afundam e invadem as praias e coincidentemente os relatórios entregues ao final do dia vem com manchas semicirculares de café preto.

o grande corpo de voluntariado,
mas as pessoas não se uniram formando um megazorde contra as catastrofes ambientais, seria mais uma corrida silenciosa e individualista sobre quem recolhe maior quantidade de óleo de origem desconhecida, sim, há um cinismo evidente por tras de qualquer ato voluntario, pois assim como dizemos ao agradecer, nada é sugerido, tudo vai bem, obrigado,
o ministro do meio ambiente, ou do ambiente do meio, aquele local sorrateiramente bem conhecido pelos lobistas, esse sim sabe o que faz e o que deixa negligencialmente de fazer.


faixas de pedestre

nunca estacione na primeira faixa de carros que antecede um sinal vermelho, prefira sempre a segunda ou a terceira, dando preferencia ainda às faixas do meio, onde uma fortaleza de laterias de onibus ou paralamas de carros com adesivos de "deus é fiel" te cerca. evite, a todo custo, ficar na primeira fileira onde se faz contato visual direto com os pedintes ou artistas de rua, sempre tirando de você aquele punhado de moedas desperezadas que na verdade dariam uma boa quantidade de dois ou tres reais. se voce pensar em quantas esqueinas e pedintes se cruza em um caminho, uma viagem de quatro quarteiroes pode valer quase dez reais. mas essa não é a pior das cobranças. quando nao tiver dinheiro, acene, faça um legal com dedos, aplauda qualquer apresentação de um moonwalk de michaels jacksons derretidos pelo sol ou crianças fazendo malabarismos com fogo, as vezes, quando tenho, dou uma baga ou qualquer quasntidade pequena dd maconha que possa ajudar a entorpecer aqueles dias de faixa de pedestre. em hipotese alguma, se deve olhar diretamente nos olhos dos mendigos, eles são fundos demais e suas historias jamais poderiam ser cointadas em um breve abrir r fechar de sinais, espelhos vazios de todas as portas que os fecharam até as condicçoes de marginalizados.

há também os pequenos acontecimentos banais que se celebram em faixas de pedestres. uma mulher negra e jovem, seus cabelos altos em um coque de emaranhados, vestindo um oculos que, mais a baixo na cena, se converte em um acessório contra sua deficiencia; a mulher carrega a sua frente uma bengala para cegos, tateando como quem chacoalha uma cobra pelo rabo, para que essa assuste qualquer possivel desastre adiante dos seus proximos passos (o que nao falta na cidades sao bueiros e buracos a ceu aberto). ela vem de braços enlaçados com uma jovem albina, branca translucida, quase trasparente, como se tivesse faltado náo apenas tinta em todas as lojas do céu, mas também fibra nos armazens, sobrando apenas um giz ou cal que, pelo visto, foi o que serviu à ela. uma dupla improvavel, sera que cega sabia que sua acompnhante nao possuia qualquer cor? sera que a albina invejava a toda melanina da negra cega? mais uma vez, o sinal se abre e eu sigo pelas ruas indefinidas, as marcas brancas que delimitam cada faixa não foram pintadas. talvez se a albina esfregasse seus pés, pintaria de branco?

19.10.19

U ESSE TÊ

Saber falar com a mulher que me habita não é como despir a roupa e se olhar no espelho, é mais uma mão estendida, paciente, com uma isca trazendo à tona os tubarões do auto-mergulhar; saber falar comigo é saber não dizer nada e apenas esperar, ou correr em plenas lagrimas rindo com o sol ofuscando meus olhos e pés marejados. E quando eu falo comigo mesma, eu minto para que eu não acredite na dura mediocridade dos meus pensamentos...

Vai,
Vai,
Vai que só a ti cabe ir são
Em tu ir são
Intuição

Meu faro para letras prolixas é tal qual a gestante nauseada de cheiro de marlboro.


Hoje eu perdi doze horas do meu dia em uma instituição de saude sem janelas, hoje eu me decepcionei às 17:34 e eu fui la fora clarear a mente mas já estava escuro e eu não tinha ticket de estacionamento.

Hoje, hoje, hoje... o teu dia virá.
Intuição.


16.10.19

amores que transbordam

Amores que transbordam. Olho e caminho pelo mar procurando dentro de mim o mais profundo sentido da frase, repito ao vento “amores que transbordam” e uma longa pausa. Feito os canais da Agamenon? Ou as barragens de PIrapama? Ou rios após longas chuvas? Copos enchidos distraidamente? Toneis de óleo despejados a estibordo? Pelo que entendi, você quer amores como corpos de água pequenos, que tenham limites para que haja transgressões, acidentes, demonstrações de um afeto que não pode nunca ser infinito. Tem que acabar na beira, para então derramar uma gota, e outra, e logo ali se perder a razão.

Se eu pudesse escolher um amor, eu escolheria o mar. A maior força da natureza e, salvo algumas exceções, não se impõem em ninguém. Quase tudo aceita. Se derrama e recolhe com maestria, sem se exceder nem faltar. Eu escolheria um amor infinito onde nao pudesse demarcar limites, onde cada dia vivesse a possibilidade de uma nova profundidade, hoje me contentando com a Fossa das Marianas, amanha, quem sabe? Poderia molhar meus pés na estreita costa do Benim e você seria o mesmo mar do amanhecer da Bahia, regido pelos mesmos deuses e orixás e justo à todas as suas criaturas. Eu queria um amor justo. Feito roupa molhada na pele quando me entrego numa onda, sem saber. Imprevisível e doce, ainda que na palavra o gosto venha bem salgado. Não suportando areia e o imbróglio sem fim das ondas, me mudaria para o oceano dentro e viveria dos meus braços e pernas e da minha força e amor por você, e quando me cansasse, finalmente me entregando inteiramente até o último pedaço, me receberias de águas abertas, afundando até teu fundo, ocupando ainda mais espaço e causando em ti uma dor ainda mais líquida, e nem por isso transbordarias.

25.9.19

tecelã

Burra e monotemática,
os ossos mal vestindo a pele
Tão medíocre caber em si

Acon
tecemos
de grandes expectativas
Empu
tecemos os telespectadores
Em algum dia longíquo
o extraordinário apodrece
esperando quem nunca seremos

Tecemos as noites de retalhos tão pequenos
Tecemos acordados ou dormindo com a respiração incansável
Acon
tecemos os dias,
Todos os nossos e os alheios e os que jamais veremos,
Nessa noite de hoje,
Tao insignificante e necessária

Assim somos, cascas amassadas,
Frases parti
das ao meio pelo acaso que apelidamos des
tino
Amor
tecendo aquilo sagrado e frágil que realmente somos

Tenha fé
Se eu cair, eu volto logo.

29.8.19

amar ela

meu anzol é de carne
a isca sou eu
a vara a gente improvisa 

b

voce me pergunta de matilde campilho
logo a mim que atravessei a cidade de bicicleta atrás de você
e não posso te contar de minha caixa torácica louca

17.2.19

fé menino

vestido, salto alto, maquiagem, é como vestir as roupas de um defunto.

13.2.19

how crazy is that

imagina o primeiro acidente automobilístico; ingenuamente patético, como duas tartarugas que vagarosamente se destrambelham,
gatos não foram feitos para prédios, eles pulam de qualquer janela. 

20.9.18

infinity list of "to buy"s: newest version of what i currently have

https://shop.revolog.net/product/all-in-one


queria todosssss! acho que na real tenho tanto medo de ser medíocre, de ser só mais uma fotógrafa, uma preguiçosa que não faz nada por puro medo de arriscar e confirmar minha mediocridade.

fast food makes me slow



sinto que voltei a ser uma ameaça. para mim, para Nina. uma parte de mim que viver essa euforia intensa e outra parte quer me denunciar. esquece.

sou mesmo meu único problema. 

pra vocês e pra uma parte de mim eu sou a mimada ingrata, a menina que teve todas as oportunidades e tá aí formada há três anos, dando plantaozinho em hapvida enquanto os colegas já vão pra segunda especialização. 

eles nos contam de belíssimos céus e vistas maravilhosas enquanto nos cortam as asas. 


mas e o medo e as retaliações e 

(com)postáveis

eu não sei o que falar,
tudo agora são futuras evidencias,
clarevidencias


aquela merda necessária


28.10.17

as memórias chegam molhadas e quase vivas
de novo

10.9.17

and what is it you looking for?

any unbruised bright shiny free love.

26.6.17

you are shark bait
a drop of blood and I'm the sea
And love, oh love is a hungry tiger
That can't swim 

home was never a place
just a face to fear


25.6.17

left behind

whatever you say
just sounds like something that we used to feel
what is love? what is creation?
i cannot despise myself
because I no longer care
I was always so good at being the victim
Waiting for your plot like a lapdog
Strolling around just to see what is
That I never wanted to miss a breath you took

Needless to complain
It's your fault that I'm doomed
Because if there wasn't you than there would not be me
And I would hang around waiting
Or hang myself

bees

needless to say
I should know more by now
than just to taste the honey for the sting


run to the sea

tanta gente que não sabe cuidar,
tanta gente que não deixa ser amado,
tanta gente que só quer alguém
para apontar o dedo sujo da própria doença
como se fosse bonito quebrar o sorriso

não é justo, meu bem, você sempre disse com tanta certeza
embora fosse errado o que você dizia
sobre a dor de quem carrega na caixa torácica
essa loucura que é sentir demais

corri até o rio e ele queimava vermelho
então corri até o mar que me abraçou e disse
tudo que é imenso tem o seu mistério
mas nem eu posso preencher esse teu peito sedento
que tantas histórias já engoliu
da superfície até o fundo, você foi junto em cada descida
voltava sempre só, perdia sempre uma vida
e era sempre a tua

feelings come, feelings go

eu passo por você como um sopro frio que te faz levantar a gola da camisa e seguir em frente pois o futuro é logo ali na esquina atras de dois tragos de um camel azul
o futuro é sempre uma pequena derrota que cantaremos com vozes roucas,
os dias fogem à galope descompensados
eu tenho tanto medo de te perder e eu tenho tanto medo de você,
e eu te amo do meu jeito explosivo que ninguém procura entender
mas que buscam sempre nas noites de frio



parece sono mas é só tristeza,
a mesma que escorre dos rios para o mar e ninguém segura
eu sinto tanta falta das coisas que nunca tive
como uma casa na praia e o teu amor


meu bem, roda a chave mais uma vez
você não dorme com medo com medo do escuro
e eu não durmo com medo de você

são as janelas que assistimos que falam demais da violência
e pouco do amor
sem perceber que a diferença é quase nada

meu bem, todo mal que fizemos logo, logo vai passar
será lembrado como um gosto doce no fim do engasgo,
no meio da ilha,
a lembrança do que foi é sempre mais bonita
do que os barcos que naufragamos 

19.6.17

o que é justo


Quando penso no que é justo, imagino uma roupa apertada que me dificulta o movimento. Me vem à mente uma ruela estreita, quase uma brecha, pela qual preciso passar. Penso no amor, esse pequeno fiapo de arame que me talha o peito e delimita minha respiração a pequenos suspiros.

(E você me disse que nada disso era justo comigo.)

Quando penso no que é justo, percebo que sinto-me claustrofóbica. O justo, em termos de justiça, do honesto, sei que a muito pouco do que existe se aplica. Já a angústia, o aperto, a mão invisível, esses me colam a pele com tamanha precisão que sim, me encurralam com o mais tangível dos sinônimos: é mais do que justo, é justaposto.

(Então o ciclo girassol, passatempo, maltratar, pontapé - culminando em mais uma tentativa frustrada de separar cirurgicamente o que é de cada um.)

Estamos diante do impasse de nossas interpretações do que é justo, meu amor. Ou seria mais justo dizer que estamos diante do impasse de nossas interpretações do amor?
Pesquise então o que é justaposição, e aí talvez tenhamos uma trégua:
Para você, a circunstância irremediável em que duas coisas estão unidas de maneira que nada as separem (nada, meu bem, nem mesmo o que deixamos de ser para que pudéssemos assumir essa posição).
Pra mim; a forma como os corpos inorgânicos humildemente acumulam suas camadas de erros.

5.6.17

sorriremos diante das incertezas, sabendo no fundo que certeza há sempre: tudo será varrido pelo tempo.
o tempo lambe as feridas com a dedicação de um cão amigo, passa sua língua estéril nas mais podres mágoas,
lambe lambe
e vai embora passando feito velhos cinicos 
só mais uma, eu digo para mim mesma, só mais um cigarro e tudo isso evaporará tambem