3.4.17

pai

cada momento é uma semente que se planta na minha memória e brota três noites depois, quando todo resto já passou, todo o resto exceto pela imagem das tuas mãos pressionando a garganta que me ensinou a falar, chacoalhando o seio do meu primeiro alimento.

por que me prende tanto o que eu não vi? se eu estivesse presente, teria evitado?
pai, tuas mãos já me bateram tanto, mas é a violência do estranho evitável que me agride. e se eu estivesse lá, aqui?

é quando olho ao redor e todos parecem ninguém, pois é exatamente para ninguém que se conta o que não aconteceu. mas aconteceu, bem aqui onde eu durmo, bem naquela que foi minha cama por nove meses ansiosos.

a violência não assusta mais, eu também já fui mão; só não diga inevitável.

tuas palmas ecoam na minha lembrança o som de "pai, pai, pai" contra a minha mãe.

Nenhum comentário: