30.7.15
limite entre o agreste e o sertão
isso de colocar linha, de definir as coisas nisso e naquilo é muito do homem. a natureza não é assim; ela respeita as transições. entre o agreste e sertão tem uma terra que não é nada, que é um pouco de tudo.
23.7.15
sobre isso
o hálito cetônico dos dias quando dizem "passou"
se morrer de amor, bem
mas se for de Alzheimer, melhor
sobre a densidade dos momentos
passarão os dias; vividos intimamente e se de tão perto ouvidos, soam como uma nota perdida após outra. mas uma vez que dão-se as mãos, uma vez chegado o final da coisa, então tranquila senta e escuta a música completa que teus fracassos unidos ecoam
saudade
se engana quem pensa que é feita de distância
pior é aquela que se sente e se toca
de tão espero que respira
a falta que faz
talvez seja hora de voltar aos cadernos
aos terços
mas sempre me faltaram palavras e fé
hi-lo
somos duas margens de um rio que inunda a cada gesto seco desapercebido
por que o mau humor?
não sei sorrir em despedidas
violão, hambúrguer & eu
se eu tivesse cordas
se minha carne fosse crua por dentro
talvez assim me tocasse
nem que fosse com os dentes
não
i crawl towards your heart
like a wounded bird poor of flight
but a river has
não.
rastejo em direção ao teu peito
como um pássaro ferido no voo
e entre os abismos de nossas montanhas, teus seios ansiosos
nasceu um rio seco de amor
21.7.15
saudade
estranho sentimento aveludado
escrito em letra de forma
único da língua portuguesa
e da tua língua, quando longe.
oi luiza
eu sabia que você vinha. eu te amo, às vezes contra a minha vontade. muitas vezes me sinto incapaz de amar alguma outra coisa além de mim, e até a mim mesma, às vezes é um amor fraco ou pequeno. acho que os pequenos corações sofrem mais, tendo que se fazer maior na medida que são povoados por tantas pessoas. amei pouco e muito nessa vida, nunca e sempre amando as pessoas que de fato amei. quero ter você comigo, quero te dar cartas entregues em cada beijo com as coisas que eu nunca saberia dizer pra mais ninguém. o futuro é uma eterna inquisição, o presente é uma máquina de escrever que não para, o passado é uma história que não se apaga; gostaria de poder pegar todos esses três ingredientes da minha vida, junto com minha pequena porção de mim, esmagá-los em algo bom, em algo tolerável, e te dar de comer disso, preencher esse teu vazio, esse teu vazio tedioso com um pouco de mim, mesmo que pra isso tenha que me fazer um pouco menor, um pouco menor do que já me vejo. mas não. meu amor, meu amor te fará vomitar de tão grande, te deixará náuseas que outros invejarão, tão grande e violento será a passagem dele pela tua vida. e depois, anestesiada por essa porrada inesperada, minhas maos te colherão tal uma flor rara que brotou no meu peito, tal uma ave milagrosa que pousou na minha cabeça e me concedeu pensamentos melhorezinhos.
oi luiza, teu nome as vezes ecoa na minha cabeça de forma redundante, como pequenas pancadas de belezas em cada parte interna de mim, às vezes em lugares que nem sabia existirem mais. oi luiza, oi, oi, oi. as vezes os dias passam como um arrepio para lembrar de quando passavam sem você, como se antes de ti tudo fosse uma preparação para esse momento. oi luiza, porque as vezes sinto que você não escuta meu coração que bate e apanha, que mudou seu caráter latente para poder dizer três sílabas quando bate: lu-i-za lu-i-za lu-i-za lu-i-za.
ah, meu amor, a dona da minha besta mais feroz, você me espreme nas tuas mãos cansadas de pegar os sonhos e eu só quero escorrer por entre teus dedos como um suco de algo melhor. não entendo das coisas infinitas, eu mesma sou comigo uma coisa tão perecível que só me resta escolher a melhor forma de morrer nessa vida, e eu escolho você no final de cada pergunta.
oi luiza, para que nunca tenha que te dizer tchau.
te amo
a rosa muda
és uma rosa, descolorida pelo tempo cruel que nunca te matou
apagada por ventos que nunca te levaram
consumida por abelhas que nunca te amaram
és o retorno da vida ao estado natural de todas as coisas, rosa desacontecida
um caule de vertigem, e nada mais.
na barriga de pássaros
foi-se o tempo em que o amor era rei
ou rainha
ficaram apenas tuas roupas velhas no meu corpo de migalhas
migalhas que nem os pássaros ousam pedir
me engole, deixa eu voar na tua barriga e pousar, na primeira excreta, onde quer que a vida queira
padece
é a pressa que cai
inalcançável presa dos dias
são passos sempre grandes demais para pernas pequenas como as minhas
a vida inabitável das pessoas
o mundo ao redor é quase outro, despelado e indecifrável
tão óbvio é o drama, tão óbvia loucura essa de sentir
meu desespero, meu desespero sozinho se camufla entre sombras de árvores e de gente
gente sempre tão certa de si
eu não caibo aqui
não me encaixo nessa pele que se estica cansada a cada respiração
frouxa
o peito sobe e desce
a gravidade avança
a terra gira imóvel
e eu me coço num lugar que nem sabia que existia
eu não reclamo mais
me sento num banco de balançar e balanço
me levanto e ainda balança esse órgão que habita meu crânio
quem me deu esse cérebro certamente não sabia
que ele funcionaria tanto
queria estar mais perto agora
de mim, da alegria, da fantasia de estar feliz
mas estou aqui com esse peito e essa cabeça que não cabem em nada
com essa dúvida que nada diz
todos dormiram e eu fiquei acordada vendo os gatos de rua
as paredes grudentas de solidão
e uma falta de palavras que atiça esse mergulho
contra as paredes
13.7.15
noite
nao te findes, fome
o que seria do povo magro sem ti
de que rangeriam os dentes afiados de tanto roçarem uns nos outros
quem morde a carne morde também a ausência da carne
como sorriria minha boca sem tua ausência entre os molares
há um gesto contido nos músculos da face
a tensão abraça o estômago e aperta
não te findes, fome
já não cabe mais nada
noite
a vassoura repousa os restos do chão num canto sujo
passa teus olhos sobre mim, diz meu nome, me batiza
olho para a rua procurando meu nome
que boca dirá tuas palavras novamente?
noite
sinto tua falta, tua estranha falta que se anuncia tão logo chegas
sou um pássaro pobre de voo
sou um estômago revestido de tuas secreções mais íntimas
uma veia do peito enlaçada numa artéria da cabeça
noite
tenho um câncer herdado nas veias
o câncer das horas que me foi transmitido na hora exata do primeiro choro
uma doença que me ensina a viver morrendo
de dia, de noite, calada no quarto ou queimando em outra
minha vida, por que me obrigas a isso?
os cigarros alimentam a fera para que a noite da minha alma não caia na terra
apenas pouse vez ou outra nos restos escuros dos teus passos vazios
noite
uma janela basta
com vista para fora, com olhos discretos e murchados de tanto ver
escorre a noite, essa velha traiçoeira que me pede esmolas
e se esconde de dia em palácios luminosos
quando visto tua pele e teu manto escuro
te peço um beijo, e nada acontece
quando me encolho num canto de mim, derrotada pelo esforço de querer
rastejas feito cobra
me olhas feito cão
e me beijas o teu assombro
noite
sou um homem irrealizado em mulher
pequena mulher de músculos e rosas úmidas
pequena vontade contida no fundo da garganta
de calçar outros passos, de caminhar outra vida
é necessário que me doas para que possa te dizer quanto dói
todo o resto que o mundo parece não sentir
ou ao menos sentir melhor que eu
noite
aponta o caminho com a bússola das tuas vontades
e eu sigo
pelos canais de uma Veneza afundada
lembrando os passos da água em meio a tormenta
sou uma calçada iluminada por sombras dos pés que marcharam
até onde tinham que ir
assim como eu tenho que sentir tua ausência
mesmo quando repousas sobre meu peito
noite
dançamos dolororidas obras de arte
dançamos silenciosas preces
estamos perdidos na dança do tempo,
na herança dos dias que nada perdoam e nada geram
a não ser essa dor órfã
noite
gira no meu peito um furacão cego
sou um cão que rosna sem dentes para uma noite sem piedade
você dorme na cama
na cama para a qual gemestes, delirando,
na cama na qual parimos essa vida a dois
a três
a mil
incontidos nesse peito fraco e pintado de estrelas
as estrelas do peito se apagam, a noite murcha, tal qual a rosa das tuas pernas
e o que me resta são teus gritos abafados num travesseiro
o que me resta é toda dor infinita.
12.7.15
quem sabe
tão terrena é a vida, de amor, de carne, de vento fresco, e quando acaba, sempre no mesmo sopro inútil de um último suspiro, como um susto invertido, ou um desdém mentiroso.
red like my mothers eyes
todo nascimento é vermelho
assim como toda vida é espelho
(quem sabe um pouco mais fiel)
a realidade de quem a possui
mergulho
adormeço como uma pedra atirada na água mais funda
rezo, peço, não creio que acredite,
mas pior que o fundo do profundo
só a tensão das superfícies
frida
o ronco dos cães em muito se assemelha ao dos homens. será que sonham? será que se assustam ao acordar lembrando quem são?
um dia minha alma há de descansar inteira
eu me vendo por pouco, eu sei, mas é sempre mais caro o preço da solidão.
9.7.15
seeing myself
Most of the times I feel like I don't really know who I am, like I'm looking at myself through this reflection on the water of a lake but I'm not really that image, I'm the water and all its unknown creatures underneath.
7.7.15
anxiety
The hole in my chest just keeps getting larger
The thoughts in my mind just keep getting darker
If you had a girl, could I please adopt her?
Just let me try once more, raise a lie once more
It's not really fair we get only one life before us
I swear I have tried all the pills, these white coats just give me the chills
I used to believe in some kind of magic
But now I prefer the term "addict"
This fucking mind sucks all my reality
And I'm stuck with nothing more than this
6.7.15
to build a wall around my head
presa em um momento que parece custar toda uma vida
pendura um espelho no rosto dos outros
talvez assim eu veja o que realmente
importa
4.7.15
im stickin with you
meu amor se preocupa tanto
nós vivemos num mundo de vaidade
e eu não sou tão bonita assim.
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