31.3.10

quando eu era pequena, adorava brincar aquelas brincadeiras de criança de antigamente.
nada de video game, computador ou game station, eu gostava das brincadeiras onde a gente se arriscava de verdade, caia de verdade, doía de verdade, morria de verdade.
game over era game over, ahahaha.
gostava de escalar árvores e lá no quintal da praia tinha um pé de manga com um balanço.
e eu sempre queria chegar no galho mais alto, porque se era para cair, que fosse do mais alto. e eu sabia, eu tinha toda a segurança do mundo que alguém ia me pegar na queda, que eu seria levada para casa e minha mãe faria curativos e me daria sorvete e que em breve eu estaria lá em cima novamente.
era uma segurança sem preço, uma segurança subjetiva e inconsciente que me dava a coragem para arriscar em tudo na minha vida, sempre o mais alto de tudo.
eu tinha coragem para me jogar na vida e não importa o que acontecesse, eu chegaria em casa no colo de alguém e mamãe faria curativos.
ai um dia mamãe me empurrou, eu cai de casa e ninguém fez curativos, ninguém me deu sorvete e disse "pronto, pode voltar lá para cima".
(to be continued)

para mim

eu vou ser eu, quietinha aqui na minha.
não vou atrás de nada, vou ficar aqui paradinha trabalhando no jardim da alma.
vou ficar enfeitando a casa, vou ficar nessa limpeza narcisista, não vou atiçar ninguém.
para que ficar na porta de casa, vendo quem passa, chamando para entrar sem ter o que servir?
para que uma casa cheia de visitas que me lotam de vazio e vão embora à noite, justo à noite que é quando mais preciso de alguém?
vou aprender a cozinhar e alguém vai gostar da minha comida, ainda que cozinhe mal.
vou aprender a varrer a casa e alguém vai gostar se sobrar um pouco de poeira por preguiça.
eu vou ficar aqui, cantarolando o que penso e se alguém passar por perto e ouvir e gostar, será bem vindo a gostar de mim.

mas tem que ser tudo natural.

texto por tabela

um amigo meu recebeu a felicidade ontem, de repente.
ele para mim é o dono da felicidade, ele ganhou a loteria da vida e agora anda num carro movido a amor. e todas nós estamos pegando carona nisso, a gente fica por perto para respirar aquele ar mais puro, para ver de perto os detalhes de algo que ajudamos a construir, para sentir um pouco daquela paz e nos alimentarmos das sobras deliciosas.
olha o sorriso dele, por baixo da barba mal feita.
olha o brilho nos olhos dela, por baixo da lente de contato azul.
ele, que há tempos vinha sofrendo por outra-ela, ele que já havia perdido as esperanças, que acordava todo dia julgando a vida óbvia e triste.
ela, que é sempre meiga, que está sempre sorrindo bonita e gargalhando pegando nos braços, ela que eu não conheço muito mas sei que deve ser alguém especial, pois reanimou-o apenas sendo ela, espontaneamente.
e foi tudo tão rápido, e todos diziam "mas que rápido, ele ontem era assim e hoje está assado!" e todos diziam
"mas que rápido, ele ainda sofre?"
"mas que rápido, espera um pouco!"
"mas que rápido, cuidado com a pressa para não se machucar!"
mas era tarde, ele já havia se jogado, ela já estava lá para segura-lo e no lugar da rápida queda, os dois voaram.
de mãos dadas pela faculdade eles flutuam, pelos corredores trocam beijos, e a gente fica nos "ahhhhhhh"s e "ooooooo"s pelos cantos, comendo daquilo com os olhos, felizes por tabela.
ele é o dono da felicidade, e ele merece tudo isso pelo simples fato de que ele se jogou de coração no coração
dela.

e que nada disso seja rápido.

bom dia

acordar tem sido uma coisa estranha há alguns meses...
acordo e ele já está lá, o frio na barriga. é como se eu não tivesse preparada para levantar dali e seguir com minha vida, como se eu dormisse, sonhasse, acordasse e andasse para longe de tudo que sonhei.
e no começo eu tinha raiva, ficava lutando contra aquilo e rolando na cama até dormir de novo, para tentar acordar saudável e disposta, mas tudo que conseguia era perder a hora pois era sempre ele que me acordava, o maldito frio na barriga.
meses se passaram assim, nessa luta que me custou várias aulas na faculdade, consultas no médico, entre outros...
até que um dia eu vi que não dava mais, não dava mais; dormir havia virado uma conquista, acordar tranquila uma vitória, e não é assim que as coisas devem funcionar na vida, não é assim que escolhi a minha vida. então eu aceitei, simplesmente.
aceitei que aquele frio não estava lá por pirraça, ele queria me dizer alguma coisa que eu vinha ignorando com remédios há meses. eu aumentava as doses e ele aumentava os gritos, até que eu já não dormia e ele já não mais acordava, estava lá 24h me fazendo companhia. acordei um dia e disse "oi, medo? você está ai?" e meu estômago respondeu tenso "sim, estou, vai me ouvir hoje?"
e tivemos um lindo diálogo naquela cama de tantas histórias, e eu me permiti sentir e ouvir o meu medo. acredite, os melhores conselhos vem de lá.
e foi só depois de aceitar aquela condição humana de quem está preso na vida que minha vida começou a fluir sincera.
acordo todo dia e ele ainda está lá, sempre o primeiro a me receber com um "bom dia, maria" e eu respondo "bom dia, medo, tenho que ir, tenho que ir ajeitar minha vida. até amanhã?"
e ele responde "não sei, tudo depende de você!"

song for all

So today I wrote a song for you
Cause a day can get so long
And I know its hard to make it through
When you say theres something wrong

So Im trying to put it right
Cause I want to love you with my heart
All this trying has made me tight
And I dont know even where to start

Maybe thats a start

Cause you know its a simple game
That you play filling up your head with rain
And you know you are hiding from your pain
In the way, in the way you say your name

And I see you
Hiding your face in your hands
Flying so you wont land
You think no one understands
No one understands

So you hunch your shoulders and you shake your head
And your throat is aching but you swear
No one hurts you, nothing could be sad
Anyway youre not here enough to care

And youre so tired you dont sleep at night
As your heart is trying to mend
You keep it quiet but you think you might
Disappear before the end

And its strange that you cannot find
Any strength to even try
To find a voice to speak your mind
When you do, all you wanna do is cry

Well maybe you should cry

And I see you hiding your face in your hands
Talking bout far-away lands
You think no one understands
Listen to my hands

And all of this life
Moves around you
For all that you claim
Youre standing still
You are moving too
You are moving too
You are moving too
I will move you

30.3.10

o futuro

o futuro é uma linha invisível no chão.
não o vemos, mas sentimos quando os pés encostam na linha.

o meu preço

não há razão para tanta urgência, para todo esse agora, para tanto tentar ser.
quem me acordou dizendo "agora, seja!"? fui eu? ou foram os outros?

a vida deve flutuar por cima dos dias como uma mão que abençoa, com a sutileza de um deslizar de dedos pelos cabelos que adormecem. se já não mais adormecemos, não sonhamos. eu gosto dessa embriaguez sóbria que me ronda, sem urgência, sem cobrança de nada, sem peso.
me desabotoei de toda aquela armadura de vida estrangeira e me vi nua, solta, solta demais até, confesso... mas foi necessário para me olhar, e me olhei nos olhos e me disse "voe, aqui não é você, vai pousar na tua alma." e eu fui voando num vôo cansado de asas pesadas, de asas pesadas de saudade, deixando para trás a segurança de um ninho, o conforto de um abraço, o peso de um corpo morto.
peguei um par de asas inexperientes e segui sozinha, bem sozinha mesmo, tão só que esqueci de mim e só aí pude me ouvir.

esse foi o meu preço.
nunca estará pago, mas agora eu sei quanto sou.

eu não pousei ainda, eu sei, mas sinto o cheiro de terra, sinto que essas asas já pedem casa, já deram o que tinham que dar. tanta liberdade para perder-me já foi suficiente para encontrar a coisa sem nome, o sentimento sem nome, só alma, a minha. agora sei que foi preciso, que foi necessária essa travessia de céus, e que o céu pode ser casa também, que o céu agora é parte de mim e será para sempre.
que todo pássaro de verdade tem como característica esse bater de asas de si, de si para o céu e de volta para novas asas.
sem pressa, sem precisão, vou pousar onde eu cair.
porque queda também é vôo.

29.3.10

just to fold back into line...

viu? você errou.
viu o erro bem grande, enxergou bonito a realidade.
porque você não aprende, hein menina?
porque insiste em ver essas coisas demais onde não tem nada, menina?
agora você lembra como é o gosto da realidade, agora que sua boca já está ardendo de sal.
e agora lá vou eu ter que limpar tudo de novo, me reciclar e voltar para o fim da fila por sua causa, menina besta cor-de-rosa.
muito besta, muito menina, nunca se lembra que algumas coisas simplesmente ficam melhor na saudade,
alguma coisas nasceram para ser passado.
aprenda logo a ser mulher,
menina.

borboletas no estômago

foi assim que me descreveram hoje esse medo de quem se deu; borboletas no estômago.
(como quando a gente anda de montanha-russa, como quando a gente ama)
sejam bem vindas, todas elas, e todo o colorido que trouxerem consigo!

texto cego

posso acordar e me perguntar "o que estou fazendo?" ou posso simplesmente permitir que seja.
assim, de olhos fechados, acordar e permitir que seja o que for.
posso esquecer tudo e acreditar que as pessoas mudam e que eu também mudei ou posso continuar presa naquele medo.
é libertador pisar fora do medo, mas sempre fica um pouco no rastro, por isso vou devagar, por isso limpo sempre meus pés antes de entrar em qualquer pessoa, para entrar em paz.
não quero mais manchas nos caminhos que traçar, não quero mais olhar para trás e farejar aquele velho e estranho sentimento.
quando penso que sei, grande parte das vezes eu não sei, mas quando eu sinto é sempre certo.
quanto mais eu penso, menos eu quero sentir e talvez toda essa racionalização seja uma forma de me poupar, de viver seguro.
quero trocar a falsa segurança por confiança.
e se, por um instante no passado eu apenas quis, se por um tempo eu sabia possível,
hoje eu sinto que posso.

e
eu
vou.

lady river

às vezes acho que falo outra língua, que digo absurdos, que ninguém me entende.
eu sei que penso colorido em todos os sentidos possíveis, mas é fugindo do óbvio que me sinto viva.
para mim a vida tem gosto, peso e altura e consigo segura-la e senti-la como se fosse concreta.
doce, leve e infinita; ai está tudo que preciso saber para saber que está tudo bem.

e eu não consigo não gostar, essa coisa de viver me instiga a ir além dos limites que sempre vi nos outros, no fundo é tudo tão mais. é doce o se jogar, é leve o voar, é infinita a queda. e até quando caio, é bom sentir aquela dor de quem tá vivo! não doer me dói, eu gosto de sensações extremas, o meu oito pode até ser escuro, mas meu oitenta é eufórico. sou de lua, de sol, de marte, de vênus, e apesar de tudo gosto de ser-me, ainda que muitas vezes me falte experiência.
pior sempre fica e melhor sempre é pouco, como posso querer me conformar com qualquer coisa diante disso? não importa o que eu faça, sempre existirá um degrau a mais para baixo e outro para cima e são esses andares desconhecidos da vida que me inquietam, curiosidade do bem.
justo hoje a vida me recebeu assim, de braços abertos e justo hoje mergulhei em todas as coisas sem resposta, e mergulhei exatamente por saber não haver resposta.
foi de cabeça que me joguei nesse perder a cabeça sem fim, e é perdendo a razão que a gente se abre para tudo aquilo que só pode ser sentido, é se perdendo em mim que me conheço.
frio na barriga, você é bem vindo!

eu não sei e é melhor assim; qualquer definição me limitaria,
eu sou além,
sou tão profunda que minhas explicações se afogam antes de fazerem sentido.

28.3.10

todo dia

hoje me emocionei com coisas tão pequenas que fiquei besta com a vida, com a minha.
são detalhes que passam despercebidos aos de coração fechado.
um dia o telefone toca diferente, um dia alguém nos toca de forma diferente, em cheio, e de repente a gente acorda sem entender o que esteve fazendo todo esse tempo.

alguém me disse hoje que não tinha um dom, que não sabia no que era boa na vida e eu pensei muito a respeito. porque alguém nasceria apenas massa, simplesmente algo para ocupar esse espaço que já está tão pouco nesse mundo? não, não era possível, todos tem um motivo aqui, ninguém existe por existir.

todo ser humano, todo ser humano é capaz de amar, e amar é um dom. banalizaram o amor, mas amar é um dom. tanta gente ta fazendo coisa ai e colocando nome errado, tanta necessidade urgente de alguém leva a crer que é amor, mas não é bem assim. amar não é apenas um dom, desculpe, é um dom à dois.

todo mundo muda o mundo, o dia todo. essa é a dinâmica da vida, essa é a questão sem resposta.
amor.

(to be continued, encore...)


só se faz uma vez

não gosto dessa história de "só se faz uma vez".

"vinte anos, só se faz uma vez"

me diga uma idade que você fez duas vezes, me diga um dia de sua vida que você repetiu igualzinho, me diga uma vez só, por menor que tenha sido, que você fez duas.
duas vezes a mesma ação com o mesmo sentimento na mesma intensidade.
não existe, existe?

então não acho válido esse argumento "aproveite, só se faz uma vez"
claro, não aguentaria dois dias desse, hoje simplesmente não parece hoje.

tudo que eu queria hoje é presença e paz.
mango tree,
nada que ninguém possa me dar.



tenho 20 anos e não permitirei que ninguém diga que esta é a idade mais bonita da vida.
"tengo 20 años y no permitiré que nadie diga que ésta es la edad más hermosa de la vida."


26.3.10

pela metade

a sinceridade é uma coisa séria.
minha vida inteira fui desleal comigo e muito pouco sincera, e talvez por isso agora me sinta tão assim, desvivida. machuquei muita gente nessa coisa desonesta, inclusive a mim, a minha parte que sempre descordou de tudo aquilo. 
se eu pudesse voltar atrás, e como sei que não posso, escrevo, se eu pudesse voltar atrás mais longe do que a palavra pode chegar, eu teria feito as coisas diferentes.
eu não me arrependo do que me foi reservado, graças a deus levei uma vida muito contente e cheia, mas teria feito bem diferente.
teria sido sincera, comigo.

e aquela sensação de turista teria viajado para longe.

25.3.10

dentinho

dente de leite,
dente deleite,
doente de leito.

quem garante que era teu, esse dentinho?
daqui em diante, tudo que desaparecer é sintoma.

banguela

chove, chove, dentro e fora,
não há chuva fora de hora
chora bem muito, chuva
chove bem muito, choro
molha o sorriso banguela
tapa aquele buraco
que aquele buraco é dela

encharca tudo que pesa
encharca tudo que chora
morde com fome a pressa
morde com fome o agora
aquela banguela morreu
tapa aquele buraco
que aquele buraco é meu

24.3.10

relatividade

- um tumor no cérebro é coisa séria?
- depende do cérebro.

23.3.10

biblioteca

"tu prefere estar assim, normal, ou sofrer por um amor não correspondido e sentir-se viva?"
"prefiro sofrer e sentir-me viva, odeio não sentir nada e amor não correspondido não existe..."
"não existe? como assim?"
"não é amor não correspondido, é apenas amor singular."

snif snif

toda minha infância está aqui comigo, agora.
essa cebola maldita que me faz chorar a cada camada que adentro!

sinto muito

até pouco tempo atrás, o contrário do amor era o ódio.
e as pessoas, sabendo disso, fingiam odiar aqueles que amam, fingiam aquele ódio mortal de quem teve um beijo negado, fingiam aquela repugnância de quem suplicou um último abraço, fingiam todo aquele sentimento para mascarar o outro, e até aí tudo bem, tudo legal, eu entendo, extravasavam ao contrário, mas botavam-se para fora.
ai se dá que recentemente alguém descobriu que estávamos todos enganados, que não é o ódio que devemos sentir nessas horas em que já não sentimos mais nada por alguém, mas sim a indiferença! e logo as máscaras de raiva foram trocadas por máscaras serenas, cordiais, sutilmente indiferentes, até felizes!
e sinceramente, isso me deixa louca, todo esse fingir sentir, ou não sentir, no último caso, porque eu sinto, oras! como posso comer tudo que sinto e digerir indiferente? eu prefiro o ódio, a raiva, o rancor, qualquer expressão por mais distorcida que seja, eu prefiro isso pois eu sinto,
e sinto muito
por tudo isso.

pai

tem um leão ferido, bem aqui do meu lado.
e aquele porte confiante foi derrubado pelo grisalho da juba, e o grito de força agora dá lugar a gemidos de dor, e já não ruge mais como rei da selva, já nem espanta mais ninguém além dele mesmo, aquele rugido, rugido-miado de quem sabe.
ele agora sabe, o pobre leão, que a selva não mais o pertence, que nunca pertenceu, que é selvagem mesmo e será selvagem até morrerem, os dois.
ele está ferido, é bem óbvio para qualquer um que queira ver, e eu vejo, mas não sei se quero.
não sei se quero estender uma mão, pois tenho medo que ele a coma.
novamente.

má educação

a vida toda eu fui uma criança bem educada.
tirava notas boas, cumprimentava a todos sorrindo, respeitava os mais velhos, nunca falava em tons escuros, nunca abordava assuntos proibidos, escutava calada, deixava que apertassem minhas bochechas, não falava de boca cheia, não incomodava a ninguém.
ninguém além de mim e aquela coisa que não conseguia domesticar.

22.3.10

disneylove

é sempre assim quando o assunto é desenho da disney;
"felizes para sempre"
anunciam o feliz, nunca mostram o sempre.
felizes!
param.
sempre?

du(elos) de anzóis

chega de iscas cruas, olhemos ao redor, o que vemos?
iscas, não é mesmo? e por baixo das iscas, suponho que há anzóis, correto?
vocês estão me acompanhando?
então agora escolham uma isca e mordam, sem medo. vai doer, mas mordam, garanto que do outro lado da dor existe alguém que vai te puxar para fora daqui e respirarás bem melhor.
vão em frente, mordam, deixem que entre na carne e depois deixem que a carne entre em vocês e alimentem-se o máximo que puderem, em breve seremos todos autófagos e felizes de nós mesmos.
deliciem a dor, mordam o momento e roam até o talo do anzol, e quando sentirem o puxão
saberão.
saberão tantas coisas que essas palavras não poderão molhar, saberão na hora crua do puxão que aquele anzol agora faz parte de vocês e ai de quem achar feio, ai de quem reclamar das fisgadas constantes, sintam o anzol cru, esqueçam a isca, é só o disfarce, o real agora está em suas mãos, em suas bocas, fisguem-no, puxem de volta, relutem em vão, mas relutem por desencargo de consciência pois em muito breve estarão desnorteados e precisarão de consolo.
"eu lutei até o fim!"
 e derrotadinhos, iremos todos em direções diferentes, para mãos diferentes, mãos cuidadosas ou não, que tirarão os anzóis ou não, que nos colocarão num aquário de abraços ou não, que nos devolverá ao mar ou não. 
estaremos todos vulneráveis pelo cansaço (e aqui não tem "ou não", é coisa certa) e, com pequenos pés atrás, aprenderemos a nos doar àquelas mãos, a comer naquelas mãos.
e um dia enxergarás além das mãos, além da carne e do osso, enxergarás o anzol que habita aquela mão e te identificarás nas dores daquela mão; ela também ansiava por ti e ela também doeu dias de varas secas, de barriga vazia, na ansiedade da espera vazia, até que ela sentiu o puxão de alguma coisa que hesitava ser sua, e sentiu a carne apertar contra a vara, e sentiu o incomodo da linha que rasgava a pele, e sentiu a dor do anzol quando tentou resgatar-te.
você agora nada confortável no sangue daquela mão e o teu sal cura as feridas dela.
a emoção agora será visceral e é muito importante que ocorra essa identificação mútua, se não teu sal em excesso secará demais o sangue e te afogarás no seco ou, não farás força o suficiente para curá-la e estarás nadando em sangue não estancado, e a mão morrerá.
uma vez encontrado o equilíbrio, trate de amá-la com tudo que ela te deu até que não haja mais nada a ser salvo, até que não haja mais nada a ser respirado, até que sejam felizes para sempre,
até que venha uma onda e vire o barco e voltaremos todos para aqui.

21.3.10

beira-mar

todos saíram para fora, e eu aproveitei o silêncio para sair para dentro.
dentro não, meio; entre o que sinto e o que sei, bem aqui onde sou completamente desconhecida. vim pedir perdão e dizer que eu gostaria de gostar de tudo que gostaria de gostar, mas infelizmente essas coisas sempre foram além de mim.
todo dia acordo e tento ser alguém que vai me surpreender, mas nunca durmo muito longe de onde acordei, daqui e é neste aqui que me encontro, tropeçando em pontos e vírgulas sem sair do lugar, numa esteira de palavras e velocidades volúveis e estáticas. já nem me reconheço nessas últimas frases, mas vai ficar de pompa e se brotou, oras, é porque tinham que brotar mesmo.
mas vim, e vindo cheguei e aqui estou, ainda que não saiba o que é aqui e quem estou no momento. 
perdi, novamente.
beirei algo palpável.

roubo:
"às vezes eu desejo que não estivesse viva. mas eu não sei como morrer. não há nenhum botão para desligar. não importa o quão ruim eu me sinta, meu coração não para de bater e meus olhos se abrem pela manhã."

coisas contidas

viver é um passatempo, para alguns.
para outros e para mim viver é apenas uma distração da morte, esse eterno perdurar das coisas que vão se arrastando para o fim, até um ponto onde o fim torna-se desejável e elas cessam de ser, ainda vivas.
o fim de qualquer coisa é um pouco o fim de nós, e as coisas são sempre mais cheias da primeira vez que são, depois são pedaços, pedacinhos, fragmentos, pó, lembranças, passado e
passou.
a primeira vez de qualquer coisa será sempre mais pura, mais doce, mais selvagem. elas jamais serão novamente aquilo que foram na estreia, pois tudo na vida é domesticado, e depois disso... bem, já não são mais como antes; intensidades mais leves de vida. por exemplo, aquele riso que rio agora é o que sobrou do choro vivo de quando nasci porque quando a gente nasce, a vida explode em mil pedaços de coisas que vamos comendo ao longo do viver, e é do nascer que todo homem se alimenta. por isso sinto cada vez menos gosto e procuro cada vez mais pedaços maiores, a fome de viver está me comendo de fome de dentro para fora e se essa minha teoria estiver certa, por favor não esteja, eu estou em dívidas profundas de pratos vazios.

tenho em mim a vantagem de ter sido várias

tenho em mim a vantagem de ter sido várias, ainda que não tenha aprendido nada com os erros de nenhuma delas. porque quando a gente nasce, a gente não lembra de nada.
e aí está o maior mistério da vida. 

perdi, perdi e está bem perdido.
procurem algo para ler nas e n t r e l i n h a s.


suco de limão

tão cansada, tão cansada que não aguento espremer. 
não aguento mais, não aguento mais, não aguento mais, tanto sufoco, tanta vida reprimida e tanta força, tanta força que coloco, meu deus, e se você estiver aí talvez será o único que entenda a força que coloco em cada gesto vivo que tenho, talvez você saiba como é difícil essa coisa que criaste, talvez você, porque não eu.
eu espremo e só sai isso, amargo.

há de chegar

- sabe, eu não.
- não sabes do que?
- eu não sei, sinto que deveria saber algo nesta altura, mas não sei e isso me incomoda. por exemplo, não sei para onde dirigir meus olhos quando converso com alguém, nem o que dizer, nem o que fazer com minhas mãos.
- o que tem teus olhos?
- estão vazios, antes havia alma, mas agora... tenho medo que as pessoas se afoguem nesse grande vazio e se percam comigo.
- e tuas palavras? fugiram novamente?
- não, nunca foram minhas. deixo-as livre, você sabe, flutuam aqui dentro mas faz tempo que não encostam na superfície, sinto falta daquele toque suave de realidade que me traziam.
- e tuas mãos? ainda escrevem?
- não sei, não sei o que fazem minhas mãos. estão... vazias, também. e inquietas.
- tem algo que sabes?
- sim, tem uma coisa que sei muito bem, uma coisinha pequena que me serve de consolo e desespero.
- o que?
- sei que há algo mais a ser sabido.

(to be continued quando eu souber)

17.3.10

desisto

nada, jamais, nada que escreva chegará perto de mim\porque o ato infectou-se
e eu nao ouso voltar lá.

aterrissagem forcada

estou voando há algum tempo e me cansando de tanto céu, o sonho foi vencido pelo infinito das coisas, logo o fim, a part que mais gosto, jamais terei disto aqui.
devo descer, mas
e agora, como escolher?
qualquer pouso será definitivo.

14.3.10

recheio de vazio

tenho medo da terapia, muito medo,
medo benigno, daqueles que sabota com permissão.
"mas também, tens medo de tudo!" dirão alguns, 
"medo de que?" dirão os mais pacientes.

secretamente, bem quietinho e calado, meu medo vai se explicar;
ele tem medo de parar de existir, é isso mesmo, medo também tem medo!
meu medo morre de medo de acordar um dia fora de mim e medo desabrigado não é medo, é energia estática; 
é o que sobra quando a gente come só as beiradas de um pastel de vento,
vento.

e eu, sem meu medo, serei oca também, porque a gente se completa.
eu sou a muralha, ele é o medo da invasão.

oferenda

acabei de ler clarice e invejá-la, só para desanimar de escrever. 
não sei mais como as minhas palavras podem curar feridas tão traiçoeiras que fecharam-se sobre outros encantos
nem
sei o que mais posso fazer por ninguém se ela já esculpiu tão perfeita biosfera emocional,
se ela já nadou nas águas em que me afogo; o caos em que vivo não molhou nem as barras de seus olhos.
e domesticou as palavras desembestadas sem provar-se sobrenatural; sabia muito bem as dificuldades que se encontra no caminho do ser simples.
e criou sentires e quereres apenas sentindo e querendo; não querendo senti-los.
visto que sequei à cada palavra lida percebendo que ela já havia roubado minhas falas, 
visto que ela roubou-me de mim com tanta sutileza que ao ler seus pensamentos
os meus calaram-se conformados
"que bom, alguém aqui nos entende"
e acharam que era voz minha, a dela,
visto tudo que jamais enxergarei
eu já me dou por vivida 
por tabela.

diante de tal realidade, diante do fracasso de sua dona, 
ou de sua escrava, 
nunca sei ao certo meu papel nesse jogo que jogam meus pensamentos,
enxergo um homem que se mata por migalhas
e encontra outro que alimenta melhor com suas fezes,
doente que descobre exames trocados
onde o seu câncer agora é do outro e para ele
sobrou apenas
anemia.

não se ofenda, clarice
essa migalha espiritual é minha maior oferenda.

flor

não consigo me relacionar com as pessoas, nunca entendi muito bem os mecanismos de tal malabarismo, fico sempre detida por dois sentimentos bem barreira;
por mais que minhas raízes cresçam ao redor daquele que escolho como amigo ou amante, é sempre com medo que as rego e,
por mais que permita a minha saída ao mundo deles e as suas entradas na minha casca, nessa troca de habitat sempre tem algo que se perde.

e a cada nova tentativa fico presa no olhar destorcido de cada um e limitada ao que é tolerável ao outro, sendo o meu desconforto mais comodo que o desconforto alheio, sendo as minhas raízes retraídas de volta ao lar seguro, 
e como defesa
broto flores que hipnotizam a todos
enquanto corro louca pelos bastidores.

12.3.10

cer ou nao cer

eu queria ser ignorante e ceder a loucura,
desenfrear frenética,
sucumbir ao além,
virar crente.
porque ao menos eles tem algo em que acreditar
ainda que eu nao acredite que seja puramente isso.
se fosse ignorante, deixaria dopar-me por essas drogas em massa e
seria em massa,
uma ovelha negra no rebanho do pastor ou
uma gota de álcool no sangue do senhor, aleluia!
e talvez seria feliz em massa
sem perguntar o que é felicidade.

com todo respeito, deus
que me livre!

a coisa mais triste que ouvi na vida

"ninguém é responsável por ninguém"

e ainda mais triste foi ouvi-la de mim.

carta ao monstro

oi, tudo bom?
espero que tu nao te importes de eu estar falando, geralmente te irritas quando me demonstro.
(de-monstro, é isso mesmo que quero, de-monstrar-me de ti)
por favor, monstro, vá embora para outro corpo, aqui já havia gente quando chegaste.
gente dormida, porém gente.
gente macabéa, com certa fraqueza de ser, mas ainda assim gente, monstro, e acho que mereco defesa, ainda que minha,
ainda que essa defesinha aguada,
sem muitos argumentos
além de mim mesma.
portanto, peco licenca e já me desculpo,
só te peco com voz baixa que me deixe respirar sem contar as inspiracoes e
que me deixe expirar,
transpirar,
despirar
disso, monstro.

mais uma tentativa

amor?
amor é quando a gente olha no espelho e ve o outro,
and vice-versa.

um grito para dentro

se esse nó virasse voz, eu somatizaria a surdez e
se essa corda desamarrasse, eu mesma reataria.
entao por favor, me obrigue a tudo,
tudo, menos a maria.

11.3.10

ossos do ofício

se me perguntassem "o que é que você viu em todas essas pessoas com quem se relacionou na vida?" eu responderia
"loucura, ué, todas elas tinham inquietudes na alma que correspondiam com meu espelho!"

porque de alguma forma eu sempre me identifiquei com as pessoas que pediam salvação, para mim foi sempre tão óbvio reconhecer nos sorrisos um pedido de ajuda, sempre tão natural sentir-me atraída por aquilo.
tão natural quanto apaixonar-se.

e apaixonava-me como um anjo pelo pecado, para tentar ama-lo e converte-lo em vida útil, em coisa saudável,
em amor.

meu coração sempre partiu quentinho observando aqueles passarinhos batendo asas de si, sem saberem o que eu sabia, mas sabendo que havia algo a mais a ser sabido, que a vida não passava de batidas de asas em vão.
e pousavam em mim sentindo o cheiro do saber, pois eu conhecia algo que elas não, e reconhecia nelas sempre uma busca desenfreada pelo que eu conhecia, e conhecendo o que eu conhecia, sabia duas coisas;
uma altruísta, solidária, caridosa, sabia que não podia jamais negar aquele conhecimento a quem quer que batesse na minha porta mendigando-o (não me pergunte como, era regra de ouro que veio de lá) 
uma egoísta, narciso-busca-espelho, sabia que para mim não adiantava saber o que eu sabia, não bastava conhecer sozinha, era necessário compartilhar e ensinar para que o conhecido em mim tornasse-se desconhecido aos dois,
amor.


acho que era nisso que eu era boa;
reconhecia os beira-vida, os secos-sedentos, os vagantes-vazios,
colocava-os de volta nos trilhos e
observava o bater de asas molhadas,
fechava os olhos e quando abria
haviam partido
mil vezes mais leves,
mil vezes mais doces,
desabrochando todas as flores por onde passavam.

e hoje,
sem saber se o que sei é mais sabível,
roo os ossos solitários,
singulares,
de um ofício que desempregou-me.

10.3.10

de caneta

uma dica para qualquer um que já escreveu algo na vida, que tenha sido apenas o próprio nome na ata de presença de uma faculdade;
nunca apague o que escreveste, 
ainda que teu nome tenha mudado, ainda que tenhas mudado por inteiro, ainda que não mais te reconheças naquilo.
não tens o direito de apagar-te assim, covardia.
mover peças do que já passou é desafiar pesado o que virá.
para que mexer em monstro que já dormiu?
penso em todas as coisas que estavam apoiadas naquele rabisco, que aquele rascunho talvez sustentasse o equilíbrio ecológico da fauna e flora de alguém, que alguém teria derramado lágrimas ao ler ou dado uma boa gargalhada e estupidamente deletaram tudo aquilo, sutileza indiferente.

anda que não gostes, palavras criam raízes.
flores murchas, parasitas de árvores mortas.
o tempo é responsável, não a borracha.

naquela tinta tinha a ti, junto com a ponta da grafite foi uma ponta de ti,
depositaste ali o que um dia foste.
se não gostas do que vês, muda agora, não lá.
de que adianta mudar no que já passou...

assim como ninguém desvive nada, não se passa borracha em passado.
assume-se a responsabilidade ou ignora, vira-se a página, folhas brancas não faltarão lá na frente...

me decepcionei bastante hoje quando vi borracha onde havia voz.
não é matando que se corrige, é amando por cima.
e se é assim que se joga hoje em dia, apagando os erros, 
deve ser por isso que ninguém aprende mais nada nessa vida.

reanimação cardíaca para desacreditados do amor

"carregou? afastem-se!"

http://www.youtube.com/watch?v=BatEID7VrUg

Say what you will
Love finds you even when, 
You've given it up

9.3.10

evolução fail

fruta sem caroço,
peixe sem espinha,
filho de olho azul,
e rosa sem espinhos.

rosa sem espinhos...
é o que todos querem, hoje em dia.

mais do mesmo, baby

lá vou eu falar dela de novo.
já cansou, ela já cansou de sair de minha boca, ela já fez as malas de minha cabeça (no coração nunca esteve, deus sabe o estrago que seria)
ou não, foi arrombando a porta da aorta que a história começou.
queria de todo jeito colocar quem não cabia onde não devia,
ta certo, admito, já sabia o meio e o fim logo no começo
mas nunca resisti ao pulsar do sentir, ainda que dor.
diagnóstico: andréa margolis, 
agnóstico.
neutro, ateu.
não doeu de verdade, não pulsou de verdade, não amei de verdade.
por isso volto lá sempre que posso, para confirmar o fracasso,
para lembrar das poucas vezes que fiz amor e não sexo, as poucas vezes que viveu sem ajuda de aparelhos.
eu não sei, reli tudo isso agora e me doeu lá dentro, lá na porta da aorta que ainda não consertei. talvez, agora sozinha, possa admitir que escapou um pouco para o átrio, ta bom, para o coração.
eu amei, não sei quando, não sei quanto, não sei quem.
nunca foi culpa dela, eu procurava a coisa errada na pessoa certa, o meu dicionário desatualizado do amor colocou mamãe e papai, "perfeição" e "amor" não são sinônimos!
e no final, sabe no que deu?
tirei o pior de nós, eu vi o terceiro lado da moeda,
lixo; mentira, traição, xingamentos, desrespeito, desconfiança, desespero, medo, corrente.
só para ver o ser humano ser humano todas as vezes, todos os dias, eu cuspia na cara da raça com covardia porque do lixo ela catava sempre o melhor de nós, e eu não acreditava, não era possível.
racionalizei o amor e ela desequilibrou minhas equações, e agora?
o jeito era encobrir o que eu não sentia com o que eu sabia parecer sentir-se, espelho.
o jeito era imitar a batida do dela, e nesse imitar o meu descompassou-se e pegou a manha do amar.
o jeito era dar um jeito, e nesse jeito deu-se outro jeito e a bola de neve não derretia com o calor, era oficial, baby.
baby, baby.

ainda me arrepio quando penso no perfume da palavra baby.



mar de marias

na beira da vida encontrei muita maria afogando-se em seco
e as pobres todas remavam na terra de ferir carne e cair unha
era bonito de ver cada uma atirar-se de si e mergulhar-se noutra
ainda mais seca, ainda mais vazia
cada vez menos
maria

era bonito até chegar minha vez.

it's only suicide

para quem vê de além dos muros, pareceu morte,
morte purpurina, ou morte enfia-um-abacaxi-no-cú-e-diz-que-é-sereia.
que frágil esse momento calafrioso onde os músculos da face se enrijecem escolhendo a palavra certa para dublar a palavra mais certa, onde eu sempre me concentro para analisar se é uma auto-poupação ou se, de fato, buscam poupar-me de mim mesma, como se eu fosse me constranger comigo, e algumas vezes avistei também o sincero reconhecimento de falta de intimidade para tal abordagem, perdi muita gente nesse aí que preferem pegar a tangente de um outro assunto qualquer, já vi outros toparem nos seus próprios limites com sujeito tão pesado e pararem para olhar para dentro e terem verdadeiros monólogos onde eu era apenas disfarce para eles com eles, alguns poucos que montam no assunto e resolvem que é touro domado e levam um tombo cavalgando meu mistério como se fosse aventura de filme, nunca nenhum que acertasse na mosca porque eu não deixo já que é marca minha e quem quiser que sangre para conseguir a sua, e é um grande momento de conhecimento alheio, esse breve instante de escolha de palavras que é tão individual e único embora o papo seja sempre o mesmo e a palavra a ser encoberta seja sempre aquela, que sussurram até nos próprios pensamentos com medo de ouvirem.
"suicídio"
foram tantos os consolos que ouvi, muitas vezes direcionados para meus arredores, algumas vezes para o próprio consolador, poucas vezes para mim.
e eu sempre explico ao pé da letra o que aprendi nesses meses de análise e auto-análise que sim, eu tinha intenções de matar alguém dentro de mim, mas não a mim e agora estou de luto por quem morreu em parte, e a parte sã vela a parte partida, e todo o meu velório e reza vela ficou por minha conta quando a vaca de freud disse tchau e obama aprovou coca cola de inhame e john lennon previu naquela música tudo isso... 
é mais ou menos essa a imagem final de quem fica até o final para ouvir.
balançam a cabeça e sorriem empaticamente pensando assustados e com medo do próprio pensamento ("loucura é contagioso!" "pobre menina rica!") 

"talvez tenha morrido mesmo, talvez fosse melhor se tivesse"
essa vem de lá e de cá

"cicatrizou tão bem!"
"é, mas nas noites de sal desatina que é uma beleza"
essa eu nunca respondi

"foi tentativa de suicídio mesmo?"
"não, foi tentativa de tentar viver, suicídio é esse viver pouco de agora!"
essa ainda lateja

eu me divirto, aprendo muito com estes momentos e instigo um sempre que vejo a brecha na porta do assunto, "sim, sim, olha aqui a cicatriz" fisgo os curiosos.
esqueço os que doeram, os que não conseguiram dormir comigo e os que aceitaram dormir comigo novamente mesmo depois de ter passado por tudo isso e ai lateja e rasga e a carne sangra tudo de novo, e eu morro toda de novo, eu morro nova de novo.
"é que eu achei que mortos descansavam em paz..."

gramática

agora eu sei que nem tu nem ela nem eu
seríamos capazes de nada contra isso
porque acabo de perceber que eu sou tu e tu és ela e ela somos nós
e nós não somos mais nada
pronomes pessoais
despessoados

despetalada

eu que era à flor da pele
que queimava louca nos dias de sol
e desatinava doída nos dias de chuva
que sempre tive oitos escuros
e oitentas eufóricos
eu brincava com fogo
e bebia o xixi da cama
e as paixões
lindas e vindas
despelavam no sol
como casquinha de verão
para nascer de novo
no primeiro piscar
de olhos vermelhos
todas as primaveras
que brotavam do toque
do batuque
do tchibum
e splash
o que aconteceu?
o silêncio comeu.

e os dias de fogos
no meu quarto
as panelas fervendo
e os copos sempre
meio cheios
esvaziaram-se para dentro
esmoreceram
enmorneceram
e toda a chama
chamou em vão
toc toc
quem é
é a solidão.

e a doença devora solta
de dentro para fora
e o de dentro
parou lá fora.

8.3.10

achtung

parando para pensar, viajando numa hipótese de que tudo que eu quero se realize enquanto durmo hoje a noite, eu não sei se gostaria de acordar amanhã.
se de repente o telefone tocasse no meio da noite, eu não acho que estaria pronta para assumir as responsabilidades do outro lado da linha. é muito complicado essa coisa de pessoas, esse malabarismo de sentimentos, de gente nova no pedaço já basta eu.
ainda que tudo acontecesse da melhor forma possível, nada garante que eu acordaria feliz.
menos triste, talvez.
menos só, maybe.
menos medo, peut-être.
mas isso não é definição de felicidade para mim.
a vida é assim, não isso, mas assim.
e talvez meus desejos só sejam bons enquanto meros desejos.

este é o segredo;

ta tudo meio solto, tudo muito meio solto.
to derramando no chão e ninguém me enxuga, as pessoas passam por cima, arrodeiam, fazem cara feia, fingem que não viram
ou pisam e reclamam.
e o máximo onde chego é na sola do sapato de alguém, e fico presa no tapete de alguma porta, no "lar doce lar" de algum carpete, fico manchando a entrada da felicidade de outros.
por favor me recolha, me coloca numa garrafa e cospe-te dentro.
lambe o chão e me engole e não vomita.
e eu vou ser sua, vou ser quietinha e contida numa parede de abraço.
se você souber lidar com as sobras, eu virei te visitar todos os dias.
se você souber lidar com as sobras, as sombras se vão.
este é o segredo; o mais bonito são as sobras.

houston, the problem is solved

que urgência, que necessidade.
corri bastante para chegar aqui e escrever isto.
como se o mundo fosse sair do eixo se não o fizesse, como se o presidente fosse ligar perguntando "cadê?" e a novela passaria fora de hora e os sinais piscariam azul e rosa.
mas, para a tranquilidade interior e paz universal, cheguei a tempo.
nunca vacilei com esses prazos de entrega, talvez porque o mundo não aguentaria viver sem mim,
talvez porque eu não aguentaria saber que o mundo
ainda
roda
quando
eu 
paro.


pronto, pronto, passou...

monday

sabe, todo dia eu acordo com frio na barriga e penso "pronto, começou, de novo".
e daí em diante tudo é doença.

no banho os pensamentos caem com a água e molham tudo, inundam, encharcam. saio pingando e derrotada, e ainda são 7:10 da manhã. esqueci de passar o condicionador, mas e daí, não me arrisco lá dentro novamente.

escolho a roupa, ou melhor, a roupa íntima.
tortura.
a calcinha preta eu uso hoje ou amanhã? pq uma vez me disseram que calcinha preta quer dizer "sexo" e hoje acho que não verei ngm interessante, não vou desperdiçar essa. que tal a de bolinhas que ela me deu? não, pq me lembra ela, e essa eu guardo para os dias de saudade e fantasias. então a cor de pele que é sem graça e não anuncia nada demais além de minha sem gracice. 
sutiã rosa mesmo, esse me traz lemranças boas e ruins em doses justas e toleráveis, como naquele dia...
7:23, e acabei de atacar o último dente do sutiã.

e agora? 15segs de pausa parada na frente do guarda roupa enquanto minha cabeça faz uma lista das possíveis pessoas que verei hoje e lembro que aquela em especial não estará lá hoje pois li em algum orkut que tinha viajado, mas ainda tem aquela outra que com certeza estará na cantina às 9:40, horário do intervalo de administração, e talvez aquela que não vejo há um tempo mas que algo me diz que verei estacionando o carro hoje.
7:30 e ainda estou nua (por fora, por dentro já estou de pijama, à noite, assistindo BBB e pensando "meu deus, enlouqueceria em 5mins ai dentro!" ou talvez nao, talvez já esteja louca aqui fora e lá dentro me sentiria em casa, pq o habitat de lá condiz com o meu habitat mental)

escolho meticulosamente a roupa de hoje pensando na do resto da semana, e quando dá tempo ou me deixo levar, a da semana que vem também, mesmo sabendo que amanhã será o mesmo processo all over again.  qualquer coisa curta e jeans para baixo, camiseta a prova de suor (tenho que colocar botox nas axilas!) e são 7:35 e já estou exausta e ainda vou trocar de roupa umas 3 vezes obedecendo às regras e ainda nem tomei café, e provavelmente não tomarei por falta de tempo e excesso de escolhas. que bom, emagreço (uma ova, eu sei que à noite vou me atracar com amendoim japonês e treloso de morango)

7:40 sento na mesa, frio na barriga, de novo, não será o primeiro nem último de hoje. chá verde com gosto de industrial lemon, não quero descrever a comida. frio na barriga, frio na barriga, eu estudei para tutoria? não importa, você não consegue mais lembrar de nada, sua cabeça ta full, desista, relaxe, give it up ou give it down? "oi, bom dia papai" (por favor, me tira daqui!)


corro para a faculdade, para a salvação, para o piloto-automático.
corro de mim mesma e me escondo naquela bata branca.
isso, informações, me bombardeiam com informações e que delícia, não ouço mais minha voz, não lembrarei de nada disso no final do dia, e eu sei que deveria pois vem prova por aí, mas não dá, esse é meu segundo de paz, entendam, eu preciso disso para respirar , há meses que não consigo ler um livro, focar a máquina numa foto, conversar olhando nos olhos, há meses que deito e não durmo, que como sem fome, que penso nela, nela, nela. 
e mesmo ela, que bem me faria se estivesse aqui? provavelmente nenhum, visto que ela é só o disfarce. visto que eu não a amo, que nunca amei, visto que era tudo doença, infectei.
infectei ela, ela desinfectou-se. está por aí com aquele brilho nos olhos, cama completa e coração cheio. não a culpo, ela voltou para me salvar. 
lá se foi meu segundo de paz, tudo bem, você conseguiu me encontrar aqui na faculdade mas por favor, vamos prestar atenção um pouco pois isso é importante para nós
sem acordo, lá vem ela, lá vem eu, será que ela ta na cantina agora? que horas são? não, muito cedo ainda. faça alguma coisa, não vá começar a contar os minutos se não isso vai virar um inferno...
"ahahahahahaahahhahahahaha!" graças a deus, alguem fez uma piada. ah, fui eu. bem na hora.

será que ela ainda pensa em mim? carreguei ela no colo para longe e fui sussurrando conforto em seus ouvidos e agora acabo de me dar conta que estou em caída, falando sozinha enquanto ela corre livre com meu combustível. que idiota, que perfeita idiota que sou.
pelos meus cálculos ela me ligou no final de janeiro para dizer que morria de saudades e que pensava em mim todos os dias, e, na mesma ligação, disse que tava namorando e fiquei confusa e dura e pedrei, e eu devia ter dito, devia ter falado logo de uma vez que eu também pensava nela todo dia, que eu não dormia pensando nela, que eu escrevia mensagens e guardava nos rascunhos, que eu morria de saudades, que por favor não fizesse isso comigo, nao fizesse isso conosco, com todas as marias. devia ter lido todas as cartas que escrevi, devia ter lido bem alto tudo que se passava na minha cabeça naquele momento e que não deixei escapar, que foi retido a duras penas e deu lugar a um cordial, seco, conformado, falso, perfeito, "que bom, fico feliz, espero que de certo." eu pingava de suor, eu pingava dentro e fora, eu, eu... eu? eu um caralho, aquilo não era eu. nunca foi.
final de janeiro, daqui para lá me deu outras chances. todas iguais, queria tanto ter retribuído aquele abraço. queria ter respondido as mensagens, ter sido recíproca, forte o bastante para enfraquecer meus joelhos diante dela e ter dito, queria ter podido.
tantas chances que ela me deu, tantas vezes me testou, não sabe o quanto doeu, o quanto dói, o quanto me arrependo.
e eu não cedi (que orgulho, não é mesmo? não. não é. mesmo.)
talvez pq eu já sentisse o cheiro de doença no ar,
talvez já fosse a doença falando,
ainda estava tudo muito apertado naquela época e no sufoco de um afogamento a gente não pensa, reage.
confundi remadas com murros.

mas, e agora? agora, neste exato minuto. 
nesta exata segunda-feira que estou em casa, doente, sem nada para me segurar nem dopar nem distrair.
medo;
"estas sao as palavras que te diria se pudesse, se nao fosse o medo de estragar tua felicidade, ou, ainda pior, o medo de nos fazer feliz novamente."
talvez esteja feliz de verdade ("e pq continuo achando que é tudo encenação para mim?")
talvez tenha levantado as âncoras e seguido por novos mares.
faz tempo que não dá notícias, faz tempo que não sinto o anzol puxar.
nem o coração bater.
nem nada, faz tempo que não sinto nada.
e acho que é hora de tirar as iscas e mostrar o anzol, ou de recolher a vara uma vez por todas e voltar para casa sem peixe.
experimentar um pouco da fome.
mas ainda terei o cheiro de peixe para me assombrar.


eu não sei, é difícil ter noção de realidade sendo quem sou.
é tudo doença, é tudo doença séria.

e uma coisa que me incomoda:
até que ponto essa doença sou eu?

3.3.10

talvez seja melhor assim...

- ei neide, tu conhece lady gaga?
- quem?
- lady gaga, a cantora...
- eu merma não.
- eu nasci no mesmo dia que ela!
- e isso é bom?

2.3.10

wikilove

qualquer um pode definir o amor no wikipedia e é isso que acaba com ele, comigo.