8.3.10

monday

sabe, todo dia eu acordo com frio na barriga e penso "pronto, começou, de novo".
e daí em diante tudo é doença.

no banho os pensamentos caem com a água e molham tudo, inundam, encharcam. saio pingando e derrotada, e ainda são 7:10 da manhã. esqueci de passar o condicionador, mas e daí, não me arrisco lá dentro novamente.

escolho a roupa, ou melhor, a roupa íntima.
tortura.
a calcinha preta eu uso hoje ou amanhã? pq uma vez me disseram que calcinha preta quer dizer "sexo" e hoje acho que não verei ngm interessante, não vou desperdiçar essa. que tal a de bolinhas que ela me deu? não, pq me lembra ela, e essa eu guardo para os dias de saudade e fantasias. então a cor de pele que é sem graça e não anuncia nada demais além de minha sem gracice. 
sutiã rosa mesmo, esse me traz lemranças boas e ruins em doses justas e toleráveis, como naquele dia...
7:23, e acabei de atacar o último dente do sutiã.

e agora? 15segs de pausa parada na frente do guarda roupa enquanto minha cabeça faz uma lista das possíveis pessoas que verei hoje e lembro que aquela em especial não estará lá hoje pois li em algum orkut que tinha viajado, mas ainda tem aquela outra que com certeza estará na cantina às 9:40, horário do intervalo de administração, e talvez aquela que não vejo há um tempo mas que algo me diz que verei estacionando o carro hoje.
7:30 e ainda estou nua (por fora, por dentro já estou de pijama, à noite, assistindo BBB e pensando "meu deus, enlouqueceria em 5mins ai dentro!" ou talvez nao, talvez já esteja louca aqui fora e lá dentro me sentiria em casa, pq o habitat de lá condiz com o meu habitat mental)

escolho meticulosamente a roupa de hoje pensando na do resto da semana, e quando dá tempo ou me deixo levar, a da semana que vem também, mesmo sabendo que amanhã será o mesmo processo all over again.  qualquer coisa curta e jeans para baixo, camiseta a prova de suor (tenho que colocar botox nas axilas!) e são 7:35 e já estou exausta e ainda vou trocar de roupa umas 3 vezes obedecendo às regras e ainda nem tomei café, e provavelmente não tomarei por falta de tempo e excesso de escolhas. que bom, emagreço (uma ova, eu sei que à noite vou me atracar com amendoim japonês e treloso de morango)

7:40 sento na mesa, frio na barriga, de novo, não será o primeiro nem último de hoje. chá verde com gosto de industrial lemon, não quero descrever a comida. frio na barriga, frio na barriga, eu estudei para tutoria? não importa, você não consegue mais lembrar de nada, sua cabeça ta full, desista, relaxe, give it up ou give it down? "oi, bom dia papai" (por favor, me tira daqui!)


corro para a faculdade, para a salvação, para o piloto-automático.
corro de mim mesma e me escondo naquela bata branca.
isso, informações, me bombardeiam com informações e que delícia, não ouço mais minha voz, não lembrarei de nada disso no final do dia, e eu sei que deveria pois vem prova por aí, mas não dá, esse é meu segundo de paz, entendam, eu preciso disso para respirar , há meses que não consigo ler um livro, focar a máquina numa foto, conversar olhando nos olhos, há meses que deito e não durmo, que como sem fome, que penso nela, nela, nela. 
e mesmo ela, que bem me faria se estivesse aqui? provavelmente nenhum, visto que ela é só o disfarce. visto que eu não a amo, que nunca amei, visto que era tudo doença, infectei.
infectei ela, ela desinfectou-se. está por aí com aquele brilho nos olhos, cama completa e coração cheio. não a culpo, ela voltou para me salvar. 
lá se foi meu segundo de paz, tudo bem, você conseguiu me encontrar aqui na faculdade mas por favor, vamos prestar atenção um pouco pois isso é importante para nós
sem acordo, lá vem ela, lá vem eu, será que ela ta na cantina agora? que horas são? não, muito cedo ainda. faça alguma coisa, não vá começar a contar os minutos se não isso vai virar um inferno...
"ahahahahahaahahhahahahaha!" graças a deus, alguem fez uma piada. ah, fui eu. bem na hora.

será que ela ainda pensa em mim? carreguei ela no colo para longe e fui sussurrando conforto em seus ouvidos e agora acabo de me dar conta que estou em caída, falando sozinha enquanto ela corre livre com meu combustível. que idiota, que perfeita idiota que sou.
pelos meus cálculos ela me ligou no final de janeiro para dizer que morria de saudades e que pensava em mim todos os dias, e, na mesma ligação, disse que tava namorando e fiquei confusa e dura e pedrei, e eu devia ter dito, devia ter falado logo de uma vez que eu também pensava nela todo dia, que eu não dormia pensando nela, que eu escrevia mensagens e guardava nos rascunhos, que eu morria de saudades, que por favor não fizesse isso comigo, nao fizesse isso conosco, com todas as marias. devia ter lido todas as cartas que escrevi, devia ter lido bem alto tudo que se passava na minha cabeça naquele momento e que não deixei escapar, que foi retido a duras penas e deu lugar a um cordial, seco, conformado, falso, perfeito, "que bom, fico feliz, espero que de certo." eu pingava de suor, eu pingava dentro e fora, eu, eu... eu? eu um caralho, aquilo não era eu. nunca foi.
final de janeiro, daqui para lá me deu outras chances. todas iguais, queria tanto ter retribuído aquele abraço. queria ter respondido as mensagens, ter sido recíproca, forte o bastante para enfraquecer meus joelhos diante dela e ter dito, queria ter podido.
tantas chances que ela me deu, tantas vezes me testou, não sabe o quanto doeu, o quanto dói, o quanto me arrependo.
e eu não cedi (que orgulho, não é mesmo? não. não é. mesmo.)
talvez pq eu já sentisse o cheiro de doença no ar,
talvez já fosse a doença falando,
ainda estava tudo muito apertado naquela época e no sufoco de um afogamento a gente não pensa, reage.
confundi remadas com murros.

mas, e agora? agora, neste exato minuto. 
nesta exata segunda-feira que estou em casa, doente, sem nada para me segurar nem dopar nem distrair.
medo;
"estas sao as palavras que te diria se pudesse, se nao fosse o medo de estragar tua felicidade, ou, ainda pior, o medo de nos fazer feliz novamente."
talvez esteja feliz de verdade ("e pq continuo achando que é tudo encenação para mim?")
talvez tenha levantado as âncoras e seguido por novos mares.
faz tempo que não dá notícias, faz tempo que não sinto o anzol puxar.
nem o coração bater.
nem nada, faz tempo que não sinto nada.
e acho que é hora de tirar as iscas e mostrar o anzol, ou de recolher a vara uma vez por todas e voltar para casa sem peixe.
experimentar um pouco da fome.
mas ainda terei o cheiro de peixe para me assombrar.


eu não sei, é difícil ter noção de realidade sendo quem sou.
é tudo doença, é tudo doença séria.

e uma coisa que me incomoda:
até que ponto essa doença sou eu?

Um comentário:

Gabriela Baldasso disse...

me prendi facilmente e li em segundos :)