25.5.10

eu preciso saber

se no primeiro tropeço, eu me encontrar ao avesso,
você vai rir de mim?
vai aguentar o peso e me levantar ou apagar os passos, os traços do meu caminhar?
se no primeiro instante de raiva, eu me perder um pouco no absurdo,
você vai estar comigo quando eu voltar de lá?
vai lembrar da paz e me lembrar dela também ou fazer de mim aquilo e de tudo mais nada?
se um dia eu não puder falar, e te disser que não aguento,
você vai entender?
vai lembrar de todas as outras coisas que te falei, que me doeram tão igual, ou calar-se num silêncio pessoal também?
se nas noites de mão gelada, eu te causar um certo frio na espinha,
você vai aquecer?
vai aproximar tua boca das palmas e me conceder uma reza quente, ou vai puxar a colcha para o teu lado e dormir indiferente?
se um dia minha opinião discordar da tua, e por vezes da minha também,
você saberá lidar com os extremos?
vai flexibilizar tua verdade até que cheguemos ao consenso, ou atropelaria tudo com tua bandeira da razão?
se um dia amanhecer agitada e, na confusão, não disser que te amo,
você ainda lembraria?
esperaria a noite mais calma e a tua recompensa, ou se daria por mal amada?
se um dia não souber lidar com teu problema,
você entenderia meu esforço?
aceitaria o suor como parte da solução, ou se fecharia na sua dor sozinha?
se eu gemer as incompreensões das dores terríveis,
você tentaria compreender?
calçaria os meus sapatos e sentiria meus calos, ou andaria descalça por cima de mim?
se uma vez a tua chave não abrir meu coração,
você entenderia as causas da reforma?
se arriscaria na bagunça de uma sem-teto, ou correria de volta para o conforto da tua casa completa?
se eu me abrisse completamente e afundasse em você sem pena,
você saberia nadar em mim?
eu me pergunto às vezes o que aconteceria com a gente,
se um dia eu for e não voltar mais, você iria me buscar?
se a queda for feia, você deitaria ao meu lado ou seguiria em frente?
se eu perdesse a voz, você saberia ler minha dor?
se meu coração quebrar por outro motivo que não teu, você acharia traição?
se minha pele ficar áspera e minhas palavras um tanto cruéis, você vestiria o mesmo véu?
se me faltasse, você daria o troco, ou pagaria pelas duas?
se ardesse, você sopraria?
se eu te perguntasse essas coisas, você teria raiva?

Um comentário:

. disse...

Assim como você, eu demorei muito tempo pra entender que esse tipo de pergunta não se faz, não porque não se deve, mas porque são desnecessárias.

Se ela precisa das perguntas pra te dar as respostas, não é uma via de mão dupla. Eu sei que não é um "sim" ou "não" que você quer como resposta.

Um abraço é só um abraço até que ele seja verdadeiro, e se não for, mesmo com todas as palavras bonitas que possam por ventura acompanha-lo, infelizmente você sente, assim como eu.