23.5.10

memento audere semper

acho que, vez ou outra, a vida se apresenta na forma de dores tão intensas e verdades tão cruéis que a única saída é a imaginação, abandonar qualquer forma de vida conhecida e pedir uma realidade que está fora do cardápio (os mais céticos diriam "alienação", eu prefiro "sonhar").


li uma vez sobre uma judia do holocausto que, ao ser questionada sobre como fez para sobreviver à tanto horror, respondeu "imaginei, era preciso muito imaginação para não se deixar morrer naquela realidade." eu me pergunto se isso é fuga, ou inteligência, e até que ponto a fuga é a melhor forma de inteligência? porque é verdade que sentir está fora de questão num terreno que suga todas as suas forças, é bem verdade que algumas dores não nasceram para ser sentidas, apenas suportadas. me lembrei agora de um trecho de harry potter em que existia uma prisão onde toda e qualquer felicidade era sugada para fora de você, e você enlouquecia nos seus pensamentos e sentimentos mais sombrios. eu me lembro que perguntaram para um personagem "como você escapou disso?" e ele respondeu "eu sabia que era inocente, e isso não era um pensamento feliz". então às vezes me permito um momento de branco completo, onde troco todos os meus sentimentos por uma leve imagem de dias melhores enquanto repito mil vezes para mim mesma até que minha consciência absorva como verdade "existe vida além daqui, se eu conseguir me imaginar além daqui. eu sei que sou inocente, e que por enquanto isso não é um pensamento feliz, mas lúcido."

Nenhum comentário: