pulo de um tique nervoso para outro; até que a unha cresça eu como a boca, até que o lábio se regenere eu mexo nas espinhas e quando tudo está curado, repasso minhas mãos entre os cabelos de um lado para outro até que toda figura assuma um aspecto oleoso e doentio.
nunca me permiti um vício; quando bebia todos os dias da semana, fumei um cigarro emprestado, e quando acabou eu tive medo de comprar, porque comprar é alimentar o ato de ser, e eu não era. quando perdeu a graça eu experimentei um pouco de tudo, provando tudo aquilo que tinha gosto de mais, e que não tinha mais gosto de nada, correndo solta na casca fina de gelo que se quebra num para sempre sem volta.
tenho para mim que nunca sobreviveria à uma overdose de nada, porque over é tudo, é deixar transbordar e ser full, seja tudo em três segundos e depois apenas intensidades mais leves de um over, half. não existe mais a vida segura após, tudo vira vício repetitivo de ser over-se, overlove, overvida e mais, e ai pode ser que eu morra de tédio ou de tentativas. mas quando se adota uma vida pós, o mais fácil é dosar as vontades pela manhã, jogar as sobras à noite e entre uma manhã e uma noite, é sempre tarde, porque when it's over, it's gameover.
para não morrer sufocada de mim, poupei a vida de todos e gastei todas as minhas.
2 comentários:
às vezes não há mãos para segurar
certezas erradas, mas certas. Então há fuga.
e alguém dirá: todo sofrimento breve é obrigatoriamente suportável, mesmo que intenso.
Eu gosto de como esse texto foi (bem) escrito e compartilho de quase todos os tiques nervosos. Fico assustada quando venho aqui. haha
eu te devo desculpas, talvez mais do que isso :/
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