19.5.10

over

eu sou a pessoa mais insegura do mundo e isso poderá ser usado contra mim, e será.
pulo de um tique nervoso para outro; até que a unha cresça eu como a boca, até que o lábio se regenere eu mexo nas espinhas e quando tudo está curado, repasso minhas mãos entre os cabelos de um lado para outro até que toda figura assuma um aspecto oleoso e doentio.
nunca me permiti um vício; quando bebia todos os dias da semana, fumei um cigarro emprestado, e quando acabou eu tive medo de comprar, porque comprar é alimentar o ato de ser, e eu não era. quando perdeu a graça eu experimentei um pouco de tudo, provando tudo aquilo que tinha gosto de mais, e que não tinha mais gosto de nada, correndo solta na casca fina de gelo que se quebra num para sempre sem volta.
tenho para mim que nunca sobreviveria à uma overdose de nada, porque over é tudo, é deixar transbordar e ser full, seja tudo em três segundos e depois apenas intensidades mais leves de um over, half. não existe mais a vida segura após, tudo vira vício repetitivo de ser over-se, overlove, overvida e mais, e ai pode ser que eu morra de tédio ou de tentativas. mas quando se adota uma vida pós, o mais fácil é dosar as vontades pela manhã, jogar as sobras à noite e entre uma manhã e uma noite, é sempre tarde, porque when it's over, it's gameover.

para não morrer sufocada de mim, poupei a vida de todos e gastei todas as minhas.

2 comentários:

. disse...

às vezes não há mãos para segurar
certezas erradas, mas certas. Então há fuga.

e alguém dirá: todo sofrimento breve é obrigatoriamente suportável, mesmo que intenso.

Eu gosto de como esse texto foi (bem) escrito e compartilho de quase todos os tiques nervosos. Fico assustada quando venho aqui. haha

. disse...

eu te devo desculpas, talvez mais do que isso :/