23.12.07

Amador


   Creio que essas sejam minhas primeiras palavras pro mundo. Ou pra mim mesma, quem sabe? Uma estranha sensação no peito, um reboliço no estômago, aquela ansiedade que se sente instantes antes de cutucar a casinha de maribondos e sair correndo...
   Essa experiência pode me custar caro, mas quem sabe... Tenhamos fé. As vezes me sinto incompreendida, sufocada, pesada de algo que não consta na balança. As vezes me sinto vazia diante de tanto conhecimento infinito, que nunca terei por completo. Escuto as músicas e busco nas letras algo que ninguém poderá me dar, algo que sinto que terá que ser criado por mim, algo com minha cara, meu sorriso, minhas rugas e cicatrizes. Vinicius, Chico, Anna Gavalda, Lolita Pille, Marion Cotillard, John Mayer... Eu tiro o chapéu para qualquer demonstração de amor, eu louvo o amor, eu busco o amor acima de tudo, por cima de mim, embaixo de mim, dentro de mim. Eu abro os armários da minha alma procurando algo que perdi, procurando algo que me foi dado, algo que emprestei, que dei, que roubei e guardei. Em que gaveta ficou esquecido, em que prateleira deixei exposto? E de repente eu canso, canso de procurar e não achar, de não ter pistas, de não lembrar e não saber. A angústia do não saber. A saudade do inexistente, o abraço vazio. Cade a foto do porta-retrato?
   Sementes de vento, é isso. O amor pra mim é um buraco bem no meio do nada, uma planta de passarinho, que cresce e voa pra longe. Ao mesmo tempo, eu sei que o tenho. Em cada fibra do meu ser, em cada gota de suor, eu tenho. Eu sei que tenho, se não não me doeria tanto. Tenho-o sim, em parte. Uma parte incompleta, um amor sozinho, um amor singular. Todos sabemos que só se ama no plural...
   Chega de amar de fiado, amar por tabela, amar por estação, amar por falta do que fazer. Que venha a chuva, o sol, os beija-flores, que venham! Quero mais é mais. Chega de dúvidas e contas a pagar a respeito de minha existência; eu sou a minha própria garantia e penitência. A cura e a doença no mesmo frasco, em doses pequenas e fatais.
   Sei lá, no fundo eu só quero é um passeio pelo calçadão, sem tênis, sem compromisso, sem parar para pedir informação. 

Um comentário:

Anônimo disse...

eu te amo, pavezinho.