31.1.14

píer

a exceção bonita, uma história entre mil.

my heart is healing


tempo

tenho 23 anos e te amo há tantos mais.

antes de cristo, no início do início da idéia de você, eu amava a massa quente que era o ventre dos teus ancestrais, o esperma do primeiro tronco que originou a árvore, a terra que esperava a semente, eu amava tudo que o sol tocava que aguardava apenas a idéia de você para fazer sentido. amava a sombra que fazia a tua figura no ultrassom, amava as mãos da tua mãe no instante da aliança, tremendo. amava o instante exato onde viesse a existir, bem longe de mim, de saber de mim, do quanto eu já te amava. amava por instinto, com os pássaros que voam do caos, te amava como um presságio do que virias a ser. te amava antes da idéia do amor, antes mesmo do encontro atômico do big bang, te amava quando não existia nada, nem mesmo o amor, e eu te amava pois era necessário que o vácuo se fizesse em ti. bem longe do continente, te amava de costa a costa quando a terra se afastava aos poucos e eu permanecia estática, te amando.

...

aos poucos percebo o quão bem me sinto sozinha. não preciso sorrir para mim mesma, nem pedir licença ao me levantar da mesa. as pessoas tem me cansado a tal ponto que prefiro caminhar descalça pelos meus próprios ovos a ouvir inutilmente sobre os dias alheios...

30.1.14

22:57

tudo basta como se houvesse algo, então te digo: contenta-te com essa falta e faz dela o que quiseres. nada nunca será tão teu quanto esse abismo de loucura, os pés no chão, claro.

acenos

três vezes chamei teu nome esperando uma aparição que nunca veio. três vezes acordei a noite para te procurar em mensagens que nunca chegaram. meu bem, te escrevi porque sei que você não volta mais, só por isso. tenho ao meu favor a certeza da rejeição, e isso torna tudo tão mais leve, sabe? não rumino as entranhas da minha mente pensando em se se se, te escrevo com a paz de um não e o sossego de quem aceita. nem sei se és mais o que és, porque para mim serás sempre o que eu quiser agora, portanto que não venhas estragar a brincadeira, que permaneça tudo como está, assim; não sendo. te amo muito, fica bem, fica longe :)

boa noite

eis então que fico aqui nos meus comigos, te desejando boa noite. ainda bem que fica uma lembrava marcada no chão depois que o tempo levanta voo, ainda bem mesmo, pois em noites como essas tudo seria obvio demais, claro demais, sem um pouco de memória pra confundir a cabeça. 

olha, não me leva a mal, eu sinto falta de quase tudo do meu jeito, sabe? como a gente deitada na cama de Viena morrendo de frio e você me acariciando com os pés e eu gemendo de amor e nosso enroscado, quem sabe nem foi assim? mas que importa, tudo já se foi e so me restaram essas memórias de faz de conta, tão minhas que nunca existiram. 

te amo meu amor, dorme bem, dorme leve 

29.1.14

02:52

numa mata de tempo, ceifa, ceifa, ceifa! no talo do pé da hora, eu parada. e da raiz brota a eterna pergunta, driblando os ponteiros: cade você?

Débora

tenho mandado tanto amor pra você, Débora. Débora porque foi quase isso, como você ia sendo e não foi, como isso aqui, sabe? então eu te chamo assim. 

vejo você fumando na janela, procurando uma vaga na rua cheia, tanta gente no mundo, e nenhuma delas é você, Débora, porque você não é. 

no mais os dias correm como a pipa no final da linha, tão longe e sob controle, tão alheio a tudo que se passa aqui embaixo.

no mais estou tirando de letra a solidão, creio mesmo que nasci pra isso tanto quanto não nasci pra ti.

no mais sinto que é sempre menos, como quando quase não lembro de...

veneza

assim como o mar vai bebendo Veneza aos goles mansos, assim como tanto ferro alisado de maresia, como as estrelas um dia se despedaçam em milhões de pedaços de mágica, você vai submergir numa imensidão de algo maior que esse sentimento, de algo maior que essa escuridão no peito, basta apenas encontrar o que. o que será nessemundo maior que a ti, que és o mundo pra mim?

veneza

assim como o mar vai bebendo Veneza aos goles mansos, assim como tanto ferro alisado de maresia, como as estrelas um dia se despedaçam em milhões de pedaços de mágica, você vai submergir numa imensidão de algo maior que esse sentimento, de algo maior que essa escuridão no peito, basta apenas encontrar o que. o que será nessemundo maior que a ti, que és o mundo pra mim?

27.1.14

still

engraçado como a saudade anuncia a falta, mas me traz tão mais perto de mim mesma. é uma solidão a dois.

era o teu pé roçando no meu no meio da noite, sem querer, percebia que não estava sozinha. o cheiro de dormido misturado com o perfume velho e os restos de ontem. dormir tão perto e acordar nos extremos da mesma cama. era desse jeito que era. é assim que lembro.

meu amor, você está feliz. você está fumando seu cigarro sentada na janela do quarto, vendo a vida dos vizinhos, com o coração quente e alguém na cabeça dando lenha pra esse teu novo fogo. 

eu não sei se te quero assim, sabe? so que eu entendo que não me cabe mais querer nada. então, que seja...

vai correr um frio na espinha, força!


26.1.14

maiúsculo

não peço a deus que me faça mais forte
nos momentos de desespero
onde me forço a pensar 
que Ele existe
em algum lugar, com suas iniciais maiúsculas 
nunca peço coragem, nem força, nem nada do tipo
converso num boa
sem questionar porque porra as coisas acontecem assim, do jeito que acontecem comigo 
repetidamente intermináveis
mil vezes pregada na mesma cruz
eu peço, as vezes,
no auge do desespero
seca
transbordando
peço apenas que me conceda um choro
que do resto eu me alivio

sobre o que não será dito

das coisas da vida, pouco se compreende. como ninguém ensina à uma criança que um dia alguém virá e quebrará aquele tambor no peito dela? 

que talvez isso aconteça de forma tão rápida, um dia, que ela nem se de conta do quanto morreu. 

pode ser que não, também. tem gente com jeito de quem nunca foi quebrado, de ritmo tão constante que parece surdo. 

ensinam que podemos vencer, que vamos crescer e casar, ou não, ter filhos, ou não, morrer, com certeza. ninguém fala dos marginalizados, dos que nunca chegaram a lugar algum, dos asilos lotados de vidas esquecidas, dos sanatórios, hospícios, bueiros. ninguém fala dos que morrem antes de que tudo se inicie. mas dizem que devemos tentar, porque vamos vencer.

deixa eu te dizer uma coisa, que talvez nunca mais te será dita: não temos uma vida; temos o peso de mil mortes e duas mil reencarnaçoes. tenho pra mim que cada noite dormida é uma pequena falência. você vai lembrar disso na próxima vez que sua garganta não travar de choro. sentirá falta da dor quando topar o pé no chão. sentirá falta da fome de quando era mais vivo. algumas coisas morrem, outras param de existir.

boa sorte, meu amor.

ainda

num dia como hoje você desatina, como as reumáticas antes da chuva. mas lá fora tem sol.

não me previno mais, sabe? aceito e recebo quando chegas, ainda que seja nos momentos mais inapropriados, ainda que nunca venhas quando chegues. 

te disse que há tempos não choro? sem um pingo de orgulho por essa seca. seria tão mais fácil te materializar em lágrima e deixar que escorra até bastar. 

eu sempre vou te amar. mas parei de fazer arrodeios quando preciso mencionar seu nome em alguma notícia. as vezes dirigindo, paro no sinal e você entra no carro e te desejo tudo de tão bom, com o raio de sol quente batendo no braço esquerdo, um calor no peito e um desejo desumano e sincero de que você esteja bem, ainda que queime tudo por dentro, e o sinal abre e você salta e eu continuo meu caminho pra onde vou. 

entenda, eu não espero mais parada. sempre vou te amar durante um passeio de bicicleta, sempre vou te amar preenchendo as papeladas do dia a dia, te amarei nas contas de luz, te verei no café da manha, vou te amar nas mãos dadas com outra pessoa. seria traição comigo se não traísse os outros. eu vou em frente e você vem comigo, eu faço história e você a entrelinha. 

o coração é um músculo, o mais solitário dos músculos. mas é músculo para poder crescer quando usado. para bater quando apanha. não há autópsia no mundo que revele os que moram ali. tenho um zoológico de gente no meu, e você anda livre entre as jaulas. fui tão maior desde então, fazendo apenas mais espaço ao redor do seu. é seu, meu amor, não há nada que eu possa fazer, nem você. 

é mais bonito lembrar do que viver. mas viver lembrando, não quero mais. 

dorme, dorme tranquila. aqui é teu.

15.1.14

tpm

tive um pesadelo monstro.


"nous ne voulons pas mentir..."

moi non plus, je te jure, moi non plus.

(et tu me manques)
no início era uma boca
ou um rasgo na carne
do rosto
tanto faz;
cabia

mas que sem gosto
era o doce da vida
quase água

engoliu um peito
uma chave
uma nuvem
dois nós
e o avesso da fome

sentiu você faltar até o talo.

6.1.14