30.7.14

to be

fumando um no jardim inacessível, não poderia ser mais eu agora, na minha própria casa.

fffff

quando você quer transar pra sentir qualquer coisa viva dentro de si, mesmo que não tenha amor, mas uma coisa viva, uma coisa dura, ainda que não dure mais que cinco minutos 

ff kk mm

a minha não nas tuas costas, queria ter unhas para crava-las em ti, para te rasgar e te guardar num pedaço morto de carne embaixo da unha sedenta, queria lamber toda tuas costas, com a mao no volume, massageando, gemendo, uma mordida no lobo da orelha, você não hesita, apenas insiste, lentamente escorrendo pela coxa, molhada, toda molhada, você trouxe água pra toda essa seca, e agora se recusa a bebe-la, sem sexo. 

29.7.14

HDH

no momento exato da passagem de caso, percebi o medo, o julgamento, a insegurança, tudo na cabeça, claro, tudo na cabeça, mas aos poucos volto ao molde de ferro como se me defender fosse tudo que pudesse fazer.

28.7.14

27.7.14

conversas engraçadas com pessoas indesejadamente íntimas

por que você num atende o telefone dopada e diz que me ama por engano? 

e eu não tenho mais mãos para segurar a cabeça.

te peço com urgência que venha me salvar da vida, pois ela acontece demais ultimamente,

fotos


colcha do peru

e toda noite deitar-me numa colcha tramada de memórias boas.

sobre isso

não escrevo para posteridade, escrevo para o amanhã depois de hoje mesmo, pra ver se ele chega, se eu chego até ele, se em algum ponto do caminho nós chegamos em algum lugar.

26.7.14

náuseas

que linda, e como vai ser o nome dessa flor?
andrea luiza
lindo

as mortes

me fala das mortes. o que você quer saber das mortes? não sei, conta de uma, falar de uma é falar de todas, não? não, cada morte é única, embora o cheiro que antecipe seja sempre o mesmo, e os olhos se percam sempre da mesma forma, como se vissem algo muito bonito além. 

louco é quem esquece.

você diz que sou louco, sue sinto demais, era assim que você dizia "o problema, maria, é que você sente demais". olha, louco é quem esquece, ta bom?

25.7.14

dormitório, imip.

tem uma pessoa roncando e eu não consigo dormir e
muito mais do que matá-la, nesse momento,
eu gostaria de deitar do seu lado
e dormir também.

ilhas, olhos & outras coisas distantes

foi então que vi teus olhos como um par de ilhas que sempre foram, cercados de água como sempre eram, você chorava tanto naquela época meu amor, e eu não sabia o que fazer, a não ser remar, e um dia cheguei, mas já era tarde, minhas remadas nunca subiram pra caminhar e sem saber o que fazer, deitei na beira dos teus olhos e chorei também.

diz agora, o que?

te destruo assim cruelmente, passando uma caneta pelo teu nome, rasurando o teu resto em mim. hoje sei o porquê de, que tantas vezes te deixei esperar no final da pergunta, mas por que você faz isso?, olha, se ainda te interessar, eu já sei, e se te interessar ainda, eu acho que já sabia desde cedo, talvez de sempre; era você que havia se tornado tão eu que foi necessária a destruição, assim como fazia comigo mesma. 

sobre desenhar uma montanha e a palavra redenção

não nasci de minha mãe, não; nasci das minhas próprias mãos (com alguns ajustes da gravidade)

sobre aproximações e aparições

nós sabemos, você & eu, daquela porta escancarada no fundo do peito, daquele olhar entre-aberto, sabemos bem, e por saber demais onde vai dar, temos medo da aproximação, sabendo que aproximar-se é inevitável. 

sobre aproximações e aparições

nós sabemos, você & eu, daquela porta escancarada no fundo do peito, daquele olhar entre-aberto, sabemos bem, e por saber demais onde vai dar, temos medo da aproximação, sabendo que aproximar-se é inevitável. 

o que faltava

entre eu e você, não faltava amor, entenda: faltava mais era ser visto.

do meu

não preciso rodar o mundo pra saber o que eu sei, do mesmo jeito que não precisei rodar o mundo pra esquecer o que eu esqueci; meu tempo é meu, independente da estação do ano, pouco importando a cidade, o fuso horário, a cor das pessoas. já vivi dias inteiros de noite e noites que nunca acabaram. 

se eu pudesse viver novamente eu dava a vida pra você.

somos tanto das coisas que morreram, num processo de constante reciclagem; você me enterra morta lá no fundo, e aos poucos vou arrumando outra forma de viver, desintegrando-me no interstício de você, deixando ir o que tiver que ir, se algum dia te menti, já foi embora, se te machuquei, foi embora, foi embora porque morreu, e aos poucos o que sobrou de bom, porque sempre sobra meu amor, é só questão de separar bem o lixo, aos poucos vai sendo reabsorvido pela tua pele que já não me estranha tanto, lentamente jogada nas correntes que circulam por ti, passeando, passeando, até que um dia me veja de volta a superfície, talvez numa qualidade que adquiriste, talvez numa simples gota de suor, não importa tanto, seja qualidade ou simples gota, você vai se olhar num reflexo de qualquer coisa e o susto será um sorriso, e um leve toque sobre mim, seja eu o que for, você vai sorrir sabendo que sou eu, e partirei esperando a próxima vez, se é que haverá uma próxima vez, não sei quanto de bom ainda resta em mim para ser usado, mas meu amor, como você fica linda em tons de saudade, como eu te fiz melhor que a mim mesma...

24.7.14

maçã & outras carnes femininas

eu aceito, eu enxergo, faço questão de ver bem visto mesmo que é pra ver se a puta da minha cabeça aceita de uma vez por todas que ela está feliz com outra & a mãe, no chiado, vendo bondinhos subir e descer, vendo as pessoas que passam, do jeito que ela gostava de fazer, de olhar aos outros sendo eles mesmos, eles mesmos trazendo os legumes pra janta, eles mesmos levando seus cachorros pra passear, eles mesmos recolhendo a merda do bicho, vejo tanto ela lá agora, sendo ela mesma também, de uma forma que tanto sonhou, imagino as três bêbadas, e tia Louise chorando as últimas decisões que tomou, falando depressões sobre a vida, mas rindo, como se fosse muito mais leve do que de fato era, essa vida, e ela bêbada cuidando da mãe, e a outra bêbada também, cuidando da filha da mulher que não estava bem, e logo tia Lou entendeu o valor de Luiza, pois era necessário uma pessoa amável para cuidar da sua filha que por fim, cuidaria dela. foram estabelecidos os papéis de cada uma ali, e tudo indicava que o três postos - a mãe, a filha & a outra - já haviam sido preenchidos pelas pessoas certas, e que a coisa maior poderia vir a morar nessa casa em poucos dias.

eu te anulo

sim, não tenho dúvidas da natureza obsessiva dos meus sentimentos por você, as vezes me pergunto até se são de fato sentimentos ou um sumo viciante extraído da razão, tão espremida entre minhas mãos quando as levo a cabeça e me ponho a pensar. mas já discutimos isso antes, você não estava presente ainda que quase te materializei de tanto desejar a presença, ou seria temer a ausência? creio cada vez mais que é isso, que temo muito mais a tua ausência do que de fato deseje tua presença, presença que nunca soube dividir o instante com a minha, não por histrionismo ou amostramento, mas pela incompatibilidade que eram nossas vidas juntas, como se uma anulasse a outra temendo a anulação própria, de tão pleno que era tudo, cada falta de coisa cementada ao ponto onde não havia mais a falta em si, e sem a falta não havia a curiosidade, nem a dor, nem a vontade, nem nada que me fizesse querer sair daquele prazer infinito que era como deve ser um útero, do qual ninguém quer nascer. então veio o parto junto com a partida, a intolerância do teu corpo pelo meu, a plenitude perfeita se desfez como todas as coisas perfeitas: num rasgo, num murro, num qualquer coisa agressiva que caiba num pequeno tempo, de birra, pantim, tantrum, enfim; veio a depressão logo depois da raiva absorvida pela felicidade estática daquela união, pela felicidade abafadíssima, e o cheio de medo que exala uma pessoa feliz, provavelmente possessa de uma raiva secreta e intimia que só conhece nos sonhos, nós sonhos onde te apresentam janelas e você não sabe voar, nos sonhos onde você tem o melhor discurso do mundo pra aquela dor acabar e quando você acorda vê que era apenas coragem, nada mais que isso, que foi corajoso como num teste, mas de que nada vale na vida real. 

cálculos

me dei conta do quanto perdi nesse tempo de espera, fazendo as contas o total chega a 4kg, 67 carteiras de cigarro e cerca de 1,201 dias de vida.

&

queria agora um sentimento intraduzível, ausente de sentidos, que seja como a música clássica; apenas o som e nada mais. 

poética

medicina ou poesia? não que necessariamente uma anule a outra, de jeito nenhum, mas uma vai ter que crescer mais que a irmã, acontece o tempo todo na natureza, os gêmeos mesmo, sempre tem um maiorzinho, a diferença é que na natureza é ela mesma quem escolhe né, já vem desse jeito e depois ninguém
pode olhar pra trás e ser culpado, já nasceu assim, literalmente, enfim, tem um dilema que me rói agora e é basicamente o seguinte: qual dos dois salva mais vidas, a poesia ou a medicina? não, não acho absurda a comparação e se você achar, isso indica que você já morreu pra poesia, mas ainda ta vivo pra medicina, não que não aconteça de um dia você despertar pra poesia, ao contrário da vida, uma vez nascido na poesia, não se morre mais, só de medicina, porque aí vem diabetes, hipertensão, sedentarismo, obesidade, tabagismo, aí vem exame de sangue, raio x, remédio, plano de saúde, plano de morte, e se não chegar ninguém a tempo, você vai morrer velho, to dizendo, não falta opção pra se morrer dessa vida, mas eis que, sei lá, um dia na sala de espera de mais um consultório você leia um texto, ou uma poesia, sei lá, e aí você para de morrer um pouco sabe? claro que você vai continuar morrendo, vai ter que continuar tomando os remédios, mas a vida começa a ganhar um outro sentido além de uma precisa contagem regressiva num relógio suíço, e quem sabe você comece a se preocupar menos com o sono e mais com o sonho? enfim, não sei, mas acontece de muita gente nascer pra um e não pro outro, tem quem seja poesia antes de nascer, ainda na barriga ou na idéia da barriga, tem quem seja só um exemplar de vida mesmo, enfim, já decidi 

poesia

eu leio tanta coisa, bula de remédio, clorambucila, por exemplo, é agente anti-neoplasico, ataca as células com palavras difíceis, leio também os pacotes de biscoito, sem gordura trans, solidário com o IMIP, cheguei até a ler placa de carro formando palavras com as consoantes escolhidas, pfv é por favor, pst é póstumo, e por aí vai, porque desconfio que a poesia, as melhores poesias, estão escondidas nessas coisas doentes de cada dia.

o mito da felicidade

mas é bom também receber uma carta de um conhecido feliz, de alguém que você sabe existir, mesmo que longe, mesmo que nem lembre direito como deve ser sorrindo, porém feliz, e vivo, o suficiente para desmistificar o fato que ninguém é feliz, porque em algum lugar do mundo do remetente do envelope, alguém o é.

a tríade das coisas

"I used to think that if I dug deep enough to discover something sad and ugly, I’d know it was something true."

sim, eu também, costumava pensar que cavar seria a eterna iminência de encontrar, e que o encontrado seria sempre algo triste, feio e cru, talvez como eu achasse que deveriam ser todas as coisas por dentro, o cerne de toda coisa viva; triste, feio e cru. triste porque a vida em si, em todas as suas formas, seria a tristeza ou a tentativa oposta da tristeza; feio porque nenhum olho jamais batia ali, logo não havia motivo para ser bonito, não havia em si a pressão da vaidade nem a ideia de beleza, era um simples (simples?) sentimento feio que andava escondido um pouco abaixo dos outros; cru porque o sol jamais alcançava essas profundezas, tampouco o calor humano, nem nada que não fosse triste ou feio ou cru também, e assim eu ia procurando qualquer coisa branca que possuísse as três características da coisa achada, as três marcas premonitórias que não passavam de uma desculpa, e as desculpas não existem, existe apenas o estrago que elas encobrem, ou tentam, mas enfim, seguia procurando a tríade da coisa, e sempre que por acaso vinha de esbarrar em uma, dizia "olha aí, veja como esta certa em procurar, você está achando as coisas tristes, feias e cruas porque elas de fato existem" e as vezes via umas coisas que não eram necessariamente tristes, nem feias ou quase nada cruas, mas forçava a barra, fazia vista grossa e dizia "achei mais uma!" porque era necessário que as coisas fossem encontradas para serem destruídas, talvez como um quinioterapico destruindo as células e as células que parecem com as células, na dúvida né, melhor sacrificar as boas também, para que não sobre mais nada de triste, feio ou cru. 
eis que um dia, já vinha fazendo isso no automático, já acordava com uma parte ativa de mim caçando, até mesmo nos sonhos começaram a desaparecer as coisas, as coisas marcadas por umas das três características, e começou a despontar um rosto no lugar onde havia morto uma coisa. então eis que um dia o jogo mudou, as regras mudaram no momento exato em que olhei o teu rosto pela quinta vez nascendo de uma coisa morta, e o alvo virou você, um pouco depois de ter percebido que o teu alvo tinha virado a mim, e então eu caçava as coisas tristes e feias e cruas e em seguida esperava um pouco mais, com olhar de morto, e assim que brotava o primeiro nariz ou a primeira intenção de um olho, apertava meus três dedos, indicador-triste, médio-feio e polegar-cru, espremendo a infrutífera tentativa como se ainda fosse a coisa, mas não era, não era mais crua pelo menos, causando uma pequena hemorragia doce, de sangue sabidamente meu, no princípio pouco, alguma horas mais tarde ainda pouco, porém sempre contínuas, aquelas pequenas hemorragias, cresciam na medida que te destruía, e logo destruíam a mim na sequência, um vazar de dias, dias e mais dias, quando comecei a pisar em poças internas de sangue próprio, e seu rosto estampava tudo por dentro, essa coisa que não era triste, nem feia e muito menos crua, como era vivo teu rosto, de vida minha parasitada? de vida tua independente de mim?, e qual doía mais, eu não sei, eu não sei se era saber que meu pouco que sobrava agora servia para te alimentar também, e que o simples fato de existir a mim carregava no colo a tua existência também, mamando em meu próprio seio, ou - não foi decisão fácil - ou se doía mais te ver ali por acaso, por simples ironia das vontades, independente, vivendo em mim apesar de tudo, inclusive de mim mesma, sem qualquer vínculo ou desejo próprio ou necessidade, essa palavra doi, já não havia mais a necessidade. o sangue agora chegava aos meus joelhos, meus dedos do pé inchados, vermelhos, encharcados por dentro, por fora pareciam pés, pés marcados por outros pés, coisa que passa, enquanto por dentro eu sabia o tamanho da coisa que os atingia. no dia em que a marca vermelha atingiu meu sexo, e eu sangrei loucamente como uma mulher em parto, era tanto sangue meus deus, tanto do meu sangue ralo vindo a tona assim, com os coágulos da vida, derramando no chão por coisa inútil, não haveria de nascer nada ali, se não a minha morte, ou o aborto da vida, e aí deu-se que: esqueci das coisas tristes, feias e cruas, talvez num ultimo impulso de vida, ou talvez já no delírio da morte, comecei a caçar dentro das poças de sangue não necessariamente à você, o fruto indesejado das coisas, tampouco às coisas que pareciam com você, ou que pareciam a você comigo, não, por mais segura que fosse a imaginação da tua presença, era chegada a hora de olhar ainda mais abaixo, de descer um andar naqueles degraus submersos de medo, de sangue vermelho não tão vivo, foi então que enfiei o indicador-triste bem no meio de um dos teus olhos e empurrei, empurrei pelo teu pequeno crânio que eu amara um dia, perfurei tua calota e encontrei do outro lado mais de mim, como se não fosse o suficiente atravessar o inverno que foi você, como se eu estivesse pro trás disso tudo, esse tempo todo e agora chegara ao meu ponto de carne própria onde você havia plantado esse frio que eu segurei, e continuei empurrando, até que - nada, ou melhor, o cessar de tudo que vinha antes, ou melhor, uma luz dourada que podia ser tantas coisas, inclusive nada, e entres todas as coisas e nada, descobri que era eu. quem diria que ali, embaixo de tanto coisa triste, feia e crua, embaixo de tantas tentativas de te destruir, estaria a mim mesma, intacta, dourada, tudo porque me satisfiz em chamar o desconhecido de feio, me acomodei em se-lo triste e cru, porque não fui mais além dos teus rostos nascendo em feridas, porque algum dia havia lido numa revista que as coisas verdadeiras são sempre feias e tristes, e por ser fatalmente tarde, a verdade vinha a tona agora, como um raio de luz livre em meio a sangue, ou uma epifania, ou talvez um último delírio antes de nascer pra lá, mais abaixo.

23.7.14

enfim

LETS GO ON

timeless

deve haver alguma parte mais minha que você não tenha levado, nem que seja essas palavras ácidas de agora. 

CL

para te morder e para soprar a fim de que eu não te doa demais, meu amor, já que tenho que te doer 

trecho 1

era uma asfixia seca, sem a umidade abafada do saco plástico, embora houvesse ar abundante, oxigênio, nitrogênio, todos os compostos nas porcentagens certas, ainda assim o ar parecia magro, pouco, ausente. sonhava que passava logo a sensação, mas no sonho nem sonhar ajudava mais, continuava confinada à condenação daquela pseudo-asfixia, veja bem que engraçado seria, jamais acordar, hilário, morrer do sonho de uma falta de ar enquanto na verdade engasgava-se aos goles de vento fresco, naquele cochilo esperto depois do almoço, afogava-se na pressão do estômago cheio sobre o diafragma, mesmo que não fosse suficiente, no sonho era, no era exatamente o necessário para o que há anos aguardava, era uma faísca surgida de tão forte o pensamento que a desejava, como aquele amor antigo que roça os dentes nos próprios dentes, afiando o osso para o próximo pedaço de carne que, ele sabe, virá.

incomodo vivo

há um incomodo bem vivo ultimamente, anda cercando os momentos, por exemplo: ontem fui fumar com tito e matheus, nada demais, pegamos Belinha antes da auto-escola e fomos fumar um restinho de kunk de tito, e deu-se que no meio do caminho eu desisti, assim, como se fosse uma volta num brinquedo de parque e pudesse parar no meio, descer e vomitar num cantinho mais escondido. foi num segundo de falha que o pensamento veio a tona, e dai em diante espalhou-se incrivelmente rápido: já havia convencido meus pés de que não queria ir para lugar algum, que não havia nenhuma outra opção no momento que fosse melhor que a de ficar sozinho, e que deveria fazer o necessário para que assim fosse, ficar sem ninguém ao redor, nem de longe, deveria mesmo era pegar as chaves do carro em casa e se mandar para a casa de campo que há tempos não ia. paralelamente carregava uma conversa sobre as desgraças do dia, os desnecessários diálogos estabelecidas ao longo do dia pelas pessoas que se pegam, como eu, com o mesmo desejo súbito de solidão instantânea. mas, enquanto não podiam, enquanto fadados ali uns aos outros, alguém falava do trabalho, do chefe que enrabou o gerente e o gerente que enrabou geral, a hierarquia do come-rabo que começa la no topo e vem rolando abaixo, não escapa ninguém, tudo porque o puto do chefe bateu o carro na ida pro trabalho.

instantaneous nation

doeu, dói ainda, quem sou eu pra dizer que não?
entenda que o que agora escorre não é de minha vontade, ainda que tanto alivie.
eu sei, por isso sorrio e choro

.

como se houvesse um oceano no meio daquele abraço onde só eu me afogava. tum ta tum ta tum ta tum ta - quantos por minuto? - tumtatumtatumtatumtatumta - ta muito rápido, não consigo contar - tutatutatutatutatutatutatutatutatuta - adrenalina agora, ele num vai aguentar mais não - (e a inquisição de uma barra piscando)
entenda que dói, entenda que ainda dói mesmo o que não existe mais, entenda o que você já esqueceu, entenda o meu, o que me resta para ser entendido, mesmo que seja nada

vai

se fosse só isso, esse bem estar ininterrupto, constante e seguro, principalmente nas tardes de domingo, esse dengo mole, a paixão arrastada, se não fossem tão próximas nossas mãos agora, ou talvez o costume depois de tempos, foi um trabalhinho pra ficar assim e agora jogar fora? e pra voltar pro que, que antes não me cabe mais, ou melhor, antes é uma cidade do outro lado do rio e a ponte está em chamas, lindos tons de laranja, de azul, dizem que queima mais essa chama azul e como se chama mesmo?

vai

se fosse só isso, esse bem estar ininterrupto, constante e seguro, principalmente nas tardes de domingo, esse dengo mole, a paixão arrastada, se não fossem tão próximas nossas mãos agora, ou talvez o costume depois de tempos, foi um trabalhinho pra ficar assim e agora jogar fora? e pra voltar pro que, que antes não me cabe mais, ou melhor, antes é uma cidade do outro lado do rio e a ponte está em chamas, lindos tons de laranja, de azul, dizem que queima mais essa chama azul e como se chama mesmo?

22.7.14

nunca foi, agora é; cap.

- Elle s’appelle Christelle, jolie non ? 
- Non 
- Et elle porte la même robe que toi y a 4 ans. C’est moi qui lui ai offerte. Tu te souviens de ce jour là où tu m’as dis que je serais jamais cap te faire du mal ? Cap. Cadeau. Comme ça on est quitte. 
- Tu nous présentes maintenant ? 
- Christelle Sophie. Sophie Christelle. Ma futur. Mon passé.

protect me from what i want

https://m.youtube.com/watch?v=PbJuzq1lFdw

to pensando em tu de calcinha só minha

não precisa gostar, só sinta.


OI

please do it nicely, please remember me when you break it, don't forget it was once me, dont forget I once pleased your heart, but I know that;

1) you don know me 
2) bet you'll ever get to know me
3) you don't know me at all
4) feel so lonely, the world is spinning round slowly

xoxo, 
your ex-lover 

luz dos olhos

eu sei, eu senti, estou louca mesmo, sai de mim e fui bater aí, deus sabe como, mas eu fui velho, tenho certeza, te senti e ainda tenho aqui um resto, um cheiro, a ressaca, não sei o que é não, mas eu juro, era você.

21.7.14

?

não é inteligente só falar de amor. as pessoas que só falam de amor são as mesmas que usam como fonte de argumento a história que a vizinha contou, só que elas acreditam, e sem saber, recontam as histórias com ar de romance, mesmo que seja para narrar o último feitio do menino que mora embaixo, e as pessoas vão se seduzir por imbecilidades, tudo porque quem ouviu acreditava no amor.

?

não é inteligente só falar de amor. as pessoas que só falam de amor são as mesmas que usam como fonte de argumento a história que a vizinha contou, só que elas acreditam, e sem saber, recontam as histórias com ar de romance, mesmo que seja para narrar o último feitio do menino que mora embaixo, e as pessoas vão se seduzir por imbecilidades, tudo porque quem ouviu acreditava no amor.

degraus submersos

os dias se unem em quinas, despencam um pouco mais a cada noite, amanhecem degraus submersos, um de cada vez. se o futuro dá pé, não sei, mas a água é quente.

entre os tempos

mas já passou-se muito tempo, tempo demais, eu acredito, para poder tentar dizer, para explicar o que tanto aconteceu durante esse tempo. nem tudo foi ausência, não foi nada demais também, apaixonei-me, me permiti viver outras histórias e, contra todas as expectativas, comecei a me amar um pouco mais também. 

19.7.14

.

cade você aqui?

18.7.14

nata

foi morar no México
seis meses, depois um ano, depois não tinha mais data de volta prevista,
mas voltou um dia
assim, de pele né,
deixou o coração lá
enfim
um ano depois ela vira pra mim e diz "troco um te amo do Brasil por um te quiero de lá"

ay.

carol, cora, coral

tas aonde?
to aqui, to fisicamente em casa
aqui onde?
aqui
no wapp?
contigo, carol. sem domicílio fixo, nômade 
no meu cora?
e no corpo também. 

or else

candles light the way
god knows where

but I heard there is a place
there must be
or else
where?

global warning

desconfio do aquecimento global, todo dia é mais frio que sinto, talvez seja em outra parte do mundo especificamente? 

suddenly I had nowhere to go home to.

de repente, não havia mais nenhum lugar que fosse voltar pra casa; era só o que ficou, e o que ficou já tinha partido também.

o que vinha antes de hoje

de que adianta ir pra tão longe se quem vai sou eu? deveríamos poder voltar, mas pra onde, qual era o lugar que vinha mesmo antes disso aqui, antes de hoje foi ontem e ante-ontem e aquela série de dias que eu não soube preencher. nunca há um lugar no passado que caiba tanto presente, e que útero me caberia novamente? se fosse só eu, me invertia, aveludava tudo por dentro e ia morar lá, enlouquecia nessa ilha, mas não né, tem sempre mais, tem sempre aquela coisa que não posso falar, ela vem dormindo nos meus braços e eu não posso vê-la, também não sei larga-la, está dormindo, dormiria lá tão bem quanto aqui, e mesmo assim não deixo, não fica, vem, me deixa, calma, deixa eu tentar por aqui, pera, não me abandona ta?

meu X foi aqui.

a princípio o sonho é ser jovem pra sempre, manter a pele firme, os seios no lugar, a disposição, o coração curioso, manter-se intacta na medida do possível. mas não se pode. os dias passam, somam-se, multiplicam-se, não parece haver nunca uma pausa, um platô, um chão menos íngreme; é só subida. algumas quedas. algumas trombadas. mas ainda assim, sobe, nos trancos mesmo, a gente se arrasta, o sonho começa a se esgarçar, você pensa em outro lugar sabe? talvez outra cidade ajudaria, talvez outra pessoa chegue, pode ser que haja um revezamento mais na frente, e ontem já faz três anos, os sonhos começam a mudar de forma, a aceitar, os sonhos diminuem, a vontade diminui, a esperança diminui, os velhos já morreram de velhice, ou de esquecimento, a vaga está aberta, será que é lá que termina essa estrada toda?! já não se é mais tão jovem quando começamos a aceitar que perdemos, seja lá o que for que ficou no caminho, foi preciso deixar ou não se caminha, era peso morto, o primeiro fio de cabelo branco já estava aí há quanto tempo? que cor eram meus cabelos há dez anos? quem era há dez anos? sobe mais um pouco, não há mais ninguém no caminho, todos pegaram estradas paralelas e elas nunca se cruzam, você vai ter que envelhecer sozinha minha filha, e não há nada mais triste que isso, e um dia você vai dormir e os sonhos não virão mais, você vai acordar e eles não virão mais, então marque um X no local exato em que perceber isso: só os jovens podem sonhar.

17.7.14

from: broken

its always time to die and the clock keeps thinking
and you gotta decide if you'll be a "wanted" or a "missing" sign

sobre sorrisos

mas não se engane que essa boca é virgem; vê o canino afiado? é de tanto roçar no de baixo, as mandíbulas tensas se contraindo de vontade. nunca provou nada além de cheiro, tinha muita, muita fome.

a lembrança lembrada é uma outra vida na cabeça

- eu queria escrever um livro
- livro de que?
- não sei, não tenho nada específico em mente pra contar, é mais coisa de peito mesmo 
- conta da tua vida, tem umas coisas né 
- a minha vida mesmo não tem tanta graça, o bom são as pessoas que acontecem, são os cheiros que ficam, queria tipo, escrever uma foto de alguns momentos
- porra, eu acho válido, senta um dia e vai lembrando, anota tudo que vier na cabeça
- não, eu já tentei, não consigo, ou melhor, não aguento, não é como se eu sentasse ali com uma caneta na mão e fosse listando os acontecimentos numa folha de papel, tem toda uma revivência, você lembra de uma viagem pra Cracóvia, um dia frio pra cacete, uns 0oC pelo menos, dai vcs encontram um restaurante lindo com uma enorme Hamsa na frente, e era aniversário dela sabe? ela é judia, não sei se te falei, mas enfim, você lembra disso e de repente a memória começa a te viver também, com saudade, e aí você já não sabe mais dizer ao certo se o almoço foi bom ou ruim, ou se de fato tal coisa aconteceu ou foi coisa de um livro que vc leu na semana passada, velho você não lembra nem se de fato gostou, só sabe que ali naquela saudade tudo parecia melhor, ou pior, não da pra dizer com razão, pq na lembrança tudo vem mais bonito e triste, os papéis se invertem e você se pega sendo a própria folha branca, grava na carne do peito essa versão B da realidade, e a realidade vira uma história completamente desconhecida, que ninguém nunca saberá, e assim eu não estaria escrevendo um livro sobre minha vida, mas sim sobre outra coisa...
- então po, escreve sobre essa outra coisa, escreve sobre o teu jeito de ver o que já aconteceu, ou sei lá, para de ficar querendo lembrar demais e simplesmente inventa uma história
- quando eu conto a minha, de certa forma já estou inventando, não?  
- não, você apenas está vendo um acontecimento com outros olhos, mas se aconteceu, aconteceu
- não confio no que me acontece, e então? 

cova rasa

olha, não é fácil de aceitar, te digo por desilusão própria, já acreditei muito em ter esquecido, em ter deixado pra trás, mas já me deparei tanto com uns mortos difíceis sabe? tem gente que a gente enterra mil vezes numa mesma vida, gente que com certeza veio de alguma outra antes dessa, aquela coisa toda de karma, alma gêmea, seiq, aí não adianta, não é briga terrena não, é coisa do além mesmo, é tentar aceitar que o peito vai ser sempre raso demais, não importa quantas histórias se viva por cima do túmulo, nunca é o suficiente, esses passados imensuráveis... te digo de coração, essa merda toda é real velho, não sei se te alegro ou assusto dizendo isso, depende da maneira como você encara o fato de que uma pessoa vai te acompanhar pro resto de todas as encarnações, dai é como falei, não é questão de acreditar ou não, esta é de fato a coisa mais temida de todas, mas infelizmente só podemos abraçá-la  quando tal desgraça nos abençoa. 

cova rasa

olha, não é fácil de aceitar, te digo por desilusão própria, já acreditei muito em ter esquecido, em ter deixado pra trás, mas já me deparei tanto com uns mortos difíceis sabe? tem gente que a gente enterra mil vezes numa mesma vida, gente que com certeza veio de alguma outra antes dessa, aquela coisa toda de karma, alma gêmea, seiq, aí não adianta, não é briga terrena não, é coisa do além mesmo, é tentar aceitar que o peito vai ser sempre raso demais, não importa quantas histórias se viva por cima do túmulo, nunca é o suficiente, esses passados imensuráveis... te digo de coração, essa merda toda é real velho, não sei se te alegro ou assusto dizendo isso, depende da maneira como você encara o fato de que uma pessoa vai te acompanhar pro resto de todas as encarnações, dai é como falei, não é questão de acreditar ou não, esta é de fato a coisa mais temida de todas, mas infelizmente só podemos abraçá-la  quando tal desgraça nos abençoa. 

14.7.14

heart

i had a heart not long ago, but he left. now all i have is art.

nem a de van gogh valia tanto

era o teu jeito de ouvir, a tua entrega completa no momento em que meus lábios se moviam, atentos até as palavras que nunca disse, meu deus como sinto falta, como se o simples olhar teu sob minha pele fosse capaz de captar anos de conversa desperdiçada em tantos outros ouvidos. eu sinto tanta falta dos teus tímpanos mágicos, meu amor.

as paredes

algo aconteceu desde que você partiu, não sei como dizer isso sem soar louca, mas as paredes foram embora também, te juro, simplesmente deram as costas sem mais nem menos, deixando-me a sós com a carcaça morta da casa. sinto como se agora elas, as próprias paredes, se recusassem a participar dessa formação bizarra de um ex-lar, ainda que estejam da mesma forma de sempre, brancas, estáticas, alertas, só que agora parecem ter vista para o lado de fora, descobriram o mundo também, ficam cercando tudo aqui dentro com um ar de desinteresse que deixaria qualquer um a vontade para gritar a plenos pulmões; já não escutam mais. mas eu não, eu não tenho pra onde ir mesmo que elas não estejam, ou estejam assim, já não faz tanta diferença, se bem que até faz sabe? eu gostava do jeito que pareciam me ouvir, gostava de pensar que elas haviam chegado cada uma de um lugar diferente e dado as mãos naquele molde, optando por permanecer ali comigo, assistir minha vida enquanto eu me deliciava num livro, tomava um banho, fazia amor, eram a minha redoma viva. e como pareciam se importar, será? sentia que curvavam-se as vezes, poucos centímetros, para alisar minha cabeça (ou era eu quem me roçava de carência?), ou aproximavam-se num corredor já estreito de forma que uma bolsa enganchava na maçaneta da porta, não sei, não sei, sei que agora me parecem muito mais paradas, pesadamente implantadas ali num castigo eterno, querendo divórcio do chão, das janelas, do pé direito, queriam se desarmar cada uma por si só e procurar outro lugar, mas não podem, restam ali cementadas sem propósito, a não ser o de erguer o teto sob minha cabeça e abafar, abafar e abafar o que já se enclausurou em mim. talvez como vingança por ter sido a que ficou, talvez não também. a verdade é que a única porta desse lugar não se abriu desde o dia da despedida, e isso talvez as tenha confundido, talvez imaginem que também ficaram para trás, presas, talvez sejam claustrofobicas, ou simplesmente cansaram, ou nunca quiseram estar ali, em primeiro lugar. mas o que posso fazer? manda-las embora? já mandei, já mandei, ante-ontem terminei a garrafa de vinho que decantava na geladeira e pus-me a gritar "vão, podem ir suas vagabundas, tão fazendo o que aí ainda?", soltei a mão na primeira que vi pela frente, uma das tímidas que sempre ficara recuada atrás do sofá bege, acertei em cheio, e ela me derrubou sem nem um barulho, exceto por um gemido derrotado e inofensivo vindo da parte mais assustada de mim. tinha os olhos vermelhos, a garganta vermelha, a dobra dos dedos vermelha e os lábios arroxeados, pus-me a beija-la arrependida, pedi que ficassem, jurei janelas, quadros, mudaríamos a decoração, seria tudo do nosso jeito, mas já era tarde, não ouviam, não estavam mais, já haviam partido, não sei ainda como, tampouco o motivo exato, mas era certo que estava ali sozinha, e agora escrevo pra ti daqui de dentro, sob a pele fria das paredes mortas, onde nada respira, nem entra, nem sai, do meio do esqueleto dessa casa, ou seria um fantasma?, ou um delírio?, ou seria eu?

coracionados

mira meu coração como se fosse um espelho, pois tudo que tem nele é a ti.

café

percebi que bebo água aos montes, sempre que me pego parada vou ao bebedouro e me encho um copo, como se fosse afogar algo aqui dentro, ou ao menos diluir essa ansiedade.

me dei férias

sim, parei tudo, as pendências levitam com enorme habilidade, neguei todos os convites entediantes, fechei as cortinas pras horas, mergulhei tão profundamente nesses dias que descobri a minha própria superfície, ou talvez fosse uma bolha de ar puro vazada de uma cratera quente.

13.7.14

definitely not today

há dias levíssimos onde os olhos se abrem com brilho e a beleza das coisas parece gritar!!!! à minha vista.

o esquecimento faz p(arte)

tudo que fazemos, não há mistério; só queremos ser lembrados.

baby's address in paradise 💙

14532 coloma ln
Odessa, FL 33556

saudade

essa sina de quem nasce na língua portuguesa, de poder chamar de algo o inabitável vão entre duas coisas de fato; quando assume forma humana, estica as pernas e caminha até nascer, lá longe, no peito de alguém.

out getting ribs

Hate runs through my blood
But my tongue was in love
But my heart was left above
I've gotta leave you now

7.7.14

a questão você

não podia dizer que não, quando o não muitas vezes não passa de um sim adormecido, sendo assim, quando digo "não quero" ou "não sinto", me refiro puramente ao agora desse exato instante, podendo em minutos despertar de uma profundeza alguma outra coisa. mas para que haja a negativa, é necessário também que haja o conhecimento de um sim, que se identifique em algum lugar do corpo a existência dele, e só após encontrada a carcaça morta e inabitada dessa vontade sim, pode-se qualificar o não como um não de fato. só que, o problema, veja bem viu, o problema é a esperteza que essas palavras criam ao longo dos anos, trocando de roupa as escuras para evitar a exterminação completa.


sou berço de mil vontades adormecidas.

a palavra

a palavra nua, no seu sentido desprovido de adornos, essa me fascina, ainda que sobre ela repouse o meu reflexo do que quer dizer, mas não; se for nua, verdadeiramente crua, não há de haver por trás das letras um leque de opções; será ela, mesmo que incompreendida.

6.7.14

banho-maria

e se tudo tivesse sido mais aceitável em mim, se não houvesse tanta repressão herdada nos gestos de carinho, será que as palavras sairiam com menos critério? será que eu falaria tanto e tão pouco quanto os outros? tem gente que me entedia só com o olhar, o olhar vago, com uma falta de ver tão absurda que suspeito serem ocas, ou, muitas vezes, cheias de qualquer coisa rústica que simplesmente nunca precisou ser repensada antes de existir. tenho medo de me tornar cada vez mais frouxa ao redor dos lábios, de um dia adquirir tamanha segurança sobre mim que simplesmente falarei tudo que vier a cabeça, e aí será o fim do bom gosto, o mel mais puro diluído em qualquer coisa de volume; meu maior medo é um dia perder esse concentrado tenso que penerei por anos, repousado em banho-maria.

futilidades

a futilidade das coisas desnecessárias à vida interna, porém extremamente, digo extra extremamente necessárias à sobrevivência de toda vida na superfície, aquela que torna mais fácil a respiração, a que permite um caminhar tranquilo em mergulhos de meio palmo, de retorno seguro, a superfície que distraí toda tensão profunda e calada que habita logo abaixo. a futilidade seria então necessária também? e sendo necessária, seria ainda fútil? pois eu sei que o que existe há de existir apesar de, seria apenas uma questão de peso. seria então a futilidade uma dieta para a incarregavel existência? uma massagem nos músculos da mão que segura o inseguravel da vida, é quase isso. mas ainda é fútil, de forma que vive-se aquilo para não viver isso aqui, tornando-se ao mesmo tempo libertadora, permitindo a respiração, ainda que muda, ainda que o ar passe entre canos tão congestos de palavras que, entre farpas, vence a barreira ainda com o cheiro do que não foi dito.

ainda

também não sei dizer ao certo o que habita aqui dentro, apesar de um par de olhos voltados ao avesso. cada mergulho é como um mergulho na água turbulenta de um mar que não tem onde explodir sua raiva, um mar que nada beira e logo nada beira: cerca-se de si mesmo num afogamento da água pela água mais profunda, moldando sua existência líquida à uma falta de limites angustiante. jogue um corpo ali e ele boiará tão denso o conflito.

g.h.

mas há também a necessidade ser vista, mesmo que por alguém tão mudo que nada diga, a necessidade é apenas dos olhos repousados sobre mim, sem muito piscar, sem que haja tantos desvios, do contrário em um desses lapsos me perderei em outra coisa, ou morrerei rapidamente de carência. sim, é necessário criar uma pele, antes de pensar no resto, antes de pensar em um coração ou um cérebro ou rins, nada funcionará se não houver uma camada de pele satisfatória aos olhos recobrindo todo caos interno. mas, ater-se a necessidade de tal coberta significa cobrir-se, você entende? você entende que quando digo cobrir-se, digo da forma como uma colcha cobre a cama em que se dorme; não se dorme na colcha, porém durante o dia é tudo que se vê, é tudo que é necessário para que evite poeira, para que evite o desconforto de uma visita sentar diretamente no íntimo da minha cama. então estou coberta, admito. talvez por algo que não necessariamente criei para mim, mas talvez pelo molde dos anos adormecidos na pele, ou pela crosta leve que o tempo cria em tudo que é cômodo, e mais do que cômodo, aquela coberta me era essencial, sendo o olhar sobre ela a única coisa mais importante que si mesma. 

delírio bonito

quase ver, com todos os detalhes minuciosamente retrados numa tela que se projeta a cada piscar de olho fechado, a tua presença desiludida pelos tristes momentos onde faz-se necessário o enxergar, desejando a cegueira de um amante apaixonado, num frenesi epiléptico de uma criança ansiosa; mordo teu cheiro como se fosse carne.

dormiu

amor, não dorme 
que em breve te acordo para um outro estado
esquece a vigília 
esquece o sono
fica comigo aqui, entre um piscar e outro.

dormiu

amor, não dorme 
que em breve te acordo para um outro estado
esquece a vigília 
esquece o sono
fica comigo aqui, entre um piscar e outro.

carol

a vontade, a enorme vontade aumentada pela lupa da distância, ainda que pequena, não tão facilmente contornada, suficiente para fazer da vontade um querer tão forte, quase um delírio bonito.

vontade de você

dormir na vontade, 
na vontade crua de uma só carne;
a tua.
um sorriso faminto revela o dente afiado, afiado de tanto roçar em si mesmo
é uma fome 
que o olhar não sacia
que o cheiro não sacia
que a memória come
presságio longe
tão perto você chega
mastigo tua sombra
e não sobra nada.

3.7.14

resgate


com um olho fechado e o outro atento, aconteço naturalmente, a madrugada vira dia e nada anoitece, além de você no meu peito.

se eu pudesse te medir, do jeito q pesam as maçãs no supermercado, seria um mergulho sem fim. a gravidade não foi justa no peso dos teus problemas. 

vá em paz, meu amor

"deca, eu não sei se me cabe mais falar isso, mas eu to aqui pra você sempre, de coração e a qualquer hora. sei que a situação não é fácil, respeito sua vontade, mas eu me importo contigo, eu gosto muito de tu e quero te ver bem... não esqueça de que pode contar comigo, mesmo que nem sempre possamos nos falar, mas meu coração tem sempre um pensamento bom pra você! fique bem, seja forte como você sempre foi e chore quando não der mais pra ser. mais uma vez, te amo muito e sempre. beijão :)"

desembrulha esse pacote no peito, respira e estica os pés: o caminho agora vai brotar entre teus dedos, leve como uma brisa.

2.7.14

fato:

não conheceu muitas mortes, mas conhecia muitas vidas e sabia que era apenas questão de tempo até a equação se inverter.

quatro e meia da manhã

os vira-latas meditam 
há um silêncio não abafado
a mulher beija o filho boa noite
e depois o marido 
a louça na pia parece levitar e quase não existir
essa noite os vivos dormem o sono dos mortos 
e os mortos dormem como se fossem acordar
vivos
com as dívidas quitadas
e nem um segundo de tempo perdido.

⚓️

"Ninguém enlouquece junto; enlouquecer é uma ilha."