31.3.16

i hatched this moment for too long
delayed in wasted time
I asked myself:
where are my legs?
at the tip of your tongue
like bitten fingernails
and when no one was around
I asked myself:
who am I?
it suffices to say
I am a fully grown doubt
what time will you be back?
no answer is final

vanessa ❤️

"im sleeping with my hypnotherapist"

28.3.16

it's funny how the same mistakes can break you in different ways.
i miss you because i love you and you're not here.
pois teu beijo vazio, o hálito de solidão como uma brisa quente depois da porta velha aberta. eu amo tua solidão, teu amor por ela e tua total incapacidade de lidar com esta senhora, que sem hora chega e sem hora vai.
am tired
and broken
i
don't know what to do
with my hands
and my eyes
and my heart
they
are broken
i
am still
here
holding my hands
drying my eyes
mending my heart
i
am still
here
inside.

25.3.16

training my heart to miss you
teaching my head to forget 

22.3.16

sleeping pills and alarm clocks

meu amor

meu amor é um bebado, moribundo, tentando voltar pra casa e batendo em todas as portas erradas, meia-noite e ele perdido, gasto, a gente perde o amor quando da ele pras coisas erradas? como uma garrafa de vinho ou uma pessoa rasa? 

branca

branco, meu amor, pois já vestimos preto demais, a cidade é cinza e mal vemos o céu e de longe vi um branco parado numa banca de flores, morrendo, e pensei em você em casa, branca e sem paz. e não tive dúvida: eu te amo. pois me entendo nas tuas dúvidas e te digo por que preciso dizer agora, como os raios e trovões precisam acontecer, eu te digo: meu amor é torto feito tua espinha, mas te mantém em pé apesar do ferro, me mantém acordada quando queres dormir. e quando fechas teus olhos, num piscar, num choro, num cochilo, num descuido de raio de sol, é uma ansiedade que nasce no meu peito esperando o mundo novo que verás, que veremos, ao abri-los novamente. então que seja branco, pelo menos por agora, por que eu sei, não importa o que sentimos, nenhum sentimento é final. é uma poça d'agua ou um pequeno furacão, é tanto disso e do contrário disso, e mesmo que o teu sangue seja rápido demais e teus pensamentos sejam duros demais, se você parar nessa rua um dia e ver o que eu vi, você entenderá o que deixo aqui: perdão, sorriso molhado, desejo de fazer vida. ou pelo menos morrer tentando. 
um dedo no olho, daqueles sem querer, uma cinza que pousa na córnea. e pisca, e passa. enquanto limpa os olhos, 

21.3.16

I wonder how people make it through life. 

me

I don't know if I'm going crazy or just experiencing a bad brain day.

20.3.16

já fui de sentir tudo, mas criei uma pele que tanto abafa quanto protege. 

concluído

assisto a vida como alguém de fora, não nascido. e não sei dizer o que vejo, sei que tenho tanto medo, tanto medo, eu tenho, ou ele me tem? o que se pede da vida é sempre tanto e quando recebe, é demais. menti demais sobre o que sinto, não transparece, deito no banco de trás do teu carro, entre tuas camisas amassadas, um copo descartável e o silêncio. entre o descartável e o silêncio, há ainda algo a ser dito?

18.3.16

Not everybody wants to hear the truth, but when I rink I speak the truth.
 

16.3.16

num seio

eu num seio,
eu num peito
eu num tenho jeito
só a vida que bate


eu num seio, 
maybe im a fish trapped in a human body, maybe i only breath underwater, under toxic water.

14.3.16

a burocracia dos sentimentos, o drama 

13.3.16

instructions for strange desires

olivia

I tell you this as an outsider who's been here too long, like a getaway tourist who barely speaks a word anymore from his mother language. I tell you this as a secret kept too long. You go to movies and there are always lines and lines of people fighting for the best seating spot, they want to just stare directly at the screen, no need to adjust the neck angles, no back pains the next day. If I were to complete the analogy, I should say I have the best spot in the room, because I'm outside it, working the projector, not wanting to be there.

olivia

life is a problem that starts way before birth. birth is just the confirmation that you're a fucked up piece of shit with no right to chose. you have to know the breeding, if you want to know the truth. what kind of man was your father? and your fathers father? be sure to check for odd cousins, consanguineous relationships and any kind of hereditary shit before you look in the mirror. and then cross-check your data with any other sibling. if you're both a mess, than the shits real. 
about the prettiest and cruelest girl you have ever seen. 

coping mechanisms
personality disorder
love, love, love
good music
traps

olivia

olivia had words and unfitting coping mechanisms. unfortunately she also had a skin, and that's where trouble began. for the unwarned predator, she was just the perfect prey; vulnerable at the surface, but a deadens pool of trouble, inside. 
we are not skinless, that's one fucked up attribute we don't get to pick. how do I look? but I'm hiding, so don't tap if you don't like, but please, don't you dare puke when someone shows themselves through some shotgun hole in the brains.

merely a product of criticism

I am not here to criticize, I am here to let them do this to myself, but let it be the real me who they get to point fingers at.

coping

thank god for coping mechanisms, from binge eating to staring at kids asses behind some dark shades in a middleschool parking lot. Imagine if we would just sit a corner and cry, how boring this life would be.
to walk into a people-filled room is somewhat rare these days, and quite disturbing. most of th time all we see are these little humans pretending to be a lot ore interesting then they really are. learn to pet your face with make up that seems like wearing nothing at all. all natural. maybe God uses usa,l as some kind of divine metric system to measure how lonely the world is getting. 7 billion last time he counted.

it's a matter of practicality, being alive. you wear the face you get and hope for something more than teeth when she smiles.
and sometimes I stop and remember my auntie saying "there is a god watching, be polite". but really, only a monster can create a monster, so god and I are even. I love god and all the bullshit about him.
this is what we do, we create characters in order to spare ourselves. from the shame, from invisibility, from becoming a goddam monster. we sugarcoat the skin with layers and layers of fiction, as if protecting the core from being infected. we are not silly, we know the rotting always starts from inside. 
we laughed because we knew that not far from here we would be crying.

I hope u die

rage is like the schizophrenic voices in my mind, except rage speaks directly to the heart.

12.3.16

e o vazio é uma solidão ausente de todo drama de estar só

11.3.16

você

vem, meu amor, não pensa duas vezes, ou sequer uma, pois se pensas, não podes me habitar, assim como não voariam as gaivotas se pensassem no medo. onde há razão, não há entrega. o amor é um palpite, titubeio, nada que exija certeza, embora haja sempre a pressa de saber quando, e com quem, e porquê. ninguém se pergunta por que tantas perguntas? foi o arco-íris que brotou no céu e quando vi, no fim dos olhos, estava você, no rabo dele. então devo perguntar ao raio de luz por que atravessou a gota d'agua? se você nasceu do brilho, eu não hesito. se foi um acaso que te trouxe, eu aceito. mas se você me explica, deixo de entender o peito e passo a perguntar demais aos porquês. e se entendo, é apenas certo que já não amo, sendo o meu gemido em teu ouvido úmido um canto de lembrança e não de prazer.

especialmente para:

você mesmo

saudade

a mais nova habitante da casa

10.3.16

primeiro é o jantar que sobra e depois, depois, mãezinha, é o não saber onde está. e por que ele diz e não mais pergunta? 

you know

you were the first person who made me feel it was ok to be me :)
sou doido sim & vc que não tem insight?
you have judged me over and over for being insane, for losing my mind. getting out there is what made me see myself for who I am, cracks and all. now I see you all from afar, happy in my own weird existence, while you struggle and stumble to fit into 
pois solitária era indomável, pelo fato de não estar quando não havia mais ninguém e pelo desejo violento de ser tudo, quando já não era mais ela. 

9.3.16

quero o inferno, ele é ceu também?
quero o inferno, ele é seu que eu sei
uma rosa não perdoa porque ela não lembra do que foi depois de cortado o caule. ela morre para que vc tente me fazer entender que fui amada, que sou amada, que sou tua. mas se o erro foi teu, por que tem as flores que pagar?
mortos não amam, nem choram, nem sentem a brisa quente do hálito fresco de outros mortos. mas ganham flores, inúteis. você foi rainha e eu reino invadido, e agora sem teu domínio volto a ser uma terra à espera de conquistas. e um dia tu me dizes que quer ser terra também, que o ar te sufoca mais do que alimenta, e eu entendo. por isso te mando uma coroa de pêsames pois a vida dói demais em você, até debaixo da terra ainda acho que doeria. quem te deu tanta certeza ao ponto de que te aches no direito de ir? se você se for, minha mulher, o amor não acabaria. continuarei andando pelas nossas ruas esfaceladas pensando se estarei pisando em ti. 
por que punir um ser vivo, meu amor? não basta que esteja vivo, como punição? num mundo justo, nascer seria opcional. mas talvez um mundo justo fosse tambem um mundo vazio.
você sabe a cara que fazem os mudos quando troveja, é um terror mais marcado nas feições, o terror dos que não podem falar.

olivia

a angústia no teu peito cresce como os cabelos no teu corpo, tão natural que tudo cresça mesmo depois de cortado minuciosamente. você me mutila, meu amor, porque tens que mutilar para poder ser chamado de amor. e eu aceito estática, faísca mansa que apenas observa. as sombras mudaram de lugar enquanto os postes nem se mexem, não é assim a vida, não é assim o tempo, essa coisa inerte que arrasta tudo em seu devido momento? 

nina

"é sempre amor antes da saudade? ou é sempre queda livre, antes de sentir tuas mãos pegarem meu rosto? havia uma menina em mim que plantou uma semente de si mesma e cresceu uma mulher, e a mulher criava um bicho que se chamava solidão. é isso que o amor faz com a saudade? planta uma semente nele que cresce e cresce e cresce para tão longe que se torna ausente? e o fruto é sempre menos do que nossa fome. te colhi como a flor que eras, trêmula, pálida flor anêmica. é sempre flor depois do caule? quando fechei a tesoura em teu corpo te roubei do que serias, para que fosse só minha, para que coubesse nas mãos o que não cabe no peito."

8.3.16

for the first time in years
she has looked in the mirror and seen herself
for all the other times
all she saw was what was not there 

7.3.16

lyric3

The night falls
Between four walls
A lady tries on new make up
Dogs crawl in their cramps
Things that happen while the sun fails to watch

She cuddles into dank seclusion
The jury reaches a final conclusion
Someone walks free
And in some shaggy bar a man's asleep 
Things that happen because the sun fails to watch

do you ever wonder what would be of our fears
If the sun was always here
Aware of our darkest moments
With spotlights in our stomachs
And nothing left to wonder


Lembrava das palavras com a ânsia de dizer, mas não sabia como. Então se calava com o receio de soar estupida, sem saber que a estupidez era a morte e chegava para todos os mudos, fosse pela terra engolida ou por medo. Era a prova viva do que não era e nada mais.

raso

Some people try to dig into themselves but all they get are holes in their existence, and those people are the ones who should always live in the surface.

6.3.16

lyric2

oh hi, oh hello
oh god, beastly girls
golden lights rush by so fast
i get dizzy when it ends
how many times will I swallow my own vomit? 

your friends they know me as the devil
but Mary, Mary, you're the giver of absurd
she was not a virgin, you know better than that
black wool has gotten you confused

lyric1

poisoning the words
with promises unpaid
where I laid still
you danced around a fiery lake
I couldn't keep up
I couldn't breath

traded mind for heart
before the consequences came
we laughed so hard 
like kids in love
one more song and I'll go

swallowed down your razor advices
you turned me into some kind of Pisces
but I was born late March
it didn't make sense
I couldn't help but let you happen

two strikes and waiting
caught in an undertow of plastic dreams
right by the shore I fell asleep
undressed by godless hands

turn me on, turn me on
or let me go unharmed
you know that's not possible
this is not what I do
but what you do to me
does it come from fear or fame
the things you got to say
I would trade it all for rotten brains
but I got those too

bad eterna de uma mente sem lembranças 

feelings

então tenho que lembrar-me que o que sinto não é o que sou, de fato, feito sombras que crescem e diminuem conforme o movimento da luz, mas não passam de sombras.

5.3.16

quantos lados há de se ver até que se enxergue o que de fato é.
sinto meus ossos doendo, sinto meus ossos doendo, ela disse, como se houvesse uma história guardada em cada um deles. 

3.3.16

como se quisesse matar algo além do tempo, fumava um camel azul atrás do outro. um vento fio passava pelos seus pés descalços, calcanhares comidos com mordidas de calçadas ásperas. se chamava olivia contra sua vontade, coisa que nunca entendeu; ter sido batizada quando nem sabia quem era deus, quem era ela. portanto, era olivia, pendida nas grades engraxadas do seu jardim. você entende onde quero chegar, descrevendo mais do que preciso?

"quando vão comprar cortinas, esses vizinhos dai?" "por que te incomoda?" "não sei, mas não é certo viver tao exposto."

carne trêmula

teus dias não passam de um jazigo para os outros dias.

aspas crescidas

cheguei num ponto. (aqui ninguém pode por mim)
inacontecida, hermética. (aqui estou, sempre dentro)
poema inaudível (você me escuta?)

não, a vida passa feito o que é; e eu não sei explicar o que não acontece.

há dias não comem e eu não sei o que dizer sobre os tigres que não rugem pois o silêncio é auto-explicativo e as pessoas querem sangue.

o parto dinamarquês

as dores não vinham, naquele dia de chuva abafada, conforme esperado. digo que eram esperadas pois nascer dói e naquele dia nada doía, nem mesmo as árvores que balançavam sob o vento, contorcendo-se para ainda serem árvores. há uma regra universal destinada pela própria natureza de que todas as coisas devem ser, embora não saibam que são, cabendo a elas encontrar o que melhor define sua existência ou curvarem-se ao que lhes convém. eu era ninguém, apenas uma mulher sonhando com as mãos apoiadas em um ventre infrutífero, laico, deserto. o abandono que me causei foi tão grande que fui obrigada a criar uma outra vida. no mais profundo do oceano, perto da trincheira das Marianas, guardei uma palavra nascida, fazendo refúgio num lugar totalmente inacessível. pois havia de ter uma outra vida, simples assim. ainda que longe, impossível e inalcançável.

2.3.16

children & other bad habits

I'm fuckin scared right now, but that's not the thing: I will not react like a scared person.

(dis)trair-se


"como que constrangidos consigo mesmos: sabiam sentir-se da mesma forma pulsante, ali de mãos dadas, contemplando o infinito que era se esquecer. um se perguntava ansiosamente se outro também sentia, e sentia que sim, pois não precisava se perguntar; a mente quieta respondia todas as perguntas não feitas, apenas estavam ali, de mãos dadas e sendo; pela forma que olhavam dentro da mesma coisa, pelo jeito que tudo bastava e nada faltava e pela troca de tanto quando nada foi dito; eram felizes, felizes demais para não julgar a si mesmos, como se houvesse algo de proibido em querer mais do que já era bom, como se fosse justo ter um senso do que é justo, como se fosse simples demais para não estranhar, para não se perguntar em que exato momento desfariam as mãos e tudo acabaria, e quem soltaria-se primeiro, e qual dos dois aguentaria por mais tempo o grande pesar que era ser feliz? foi então que um sorriso ficou tenso, e o outro percebeu, e percebendo, piscou, e o sorriso vendo o olho piscar, desfez-se em suor, e o aperto úmido de mãos começou a afrouxar, o encaixe escorregava, e já não enxergavam mais aquele nada, e sim tudo, e então nada mais bastava e tudo lembrava o momento iminente em que se desfariam, porque lembraram-se: não há infinito. até que um soube, e o laço se desfez em nó, e a fala precisou de palavras, e estas, racionalmente tentando explicar o que não precisava de explicação, consumiram letra por letra cada segundo de levitação."

means i love you

- whoa, wait, i'm not perfect. thats the first and biggest mistake in most relationships, that's why it falls apart, that's why couples end up feeling betrayed and hating each other. you see, they betray themselves. people fall in love with this weird, distorted image they create and thats the first thing they forget: reality. it's all beautiful and tragic, but never true...

- but you are perfect to me.

- listen, i'm serious. i'm not some kind of salvation to your personal hell, ok? i don't ever want you to forget this: i will hurt you, no matter how much you love me, no matter how much i love you. there are rotten things in me your love won't ever change, but you'll love them too, won't you? so let me warn you, i might run from the car in the middle of a fight, i might hang up on your face and i may wake up one morning and decide to leave without previous warning, and i might just take your dog with me too. i will hit on someone just to make you jealous and its very likely it will be your best friend, i might.. i might... i dont know, i might hate your mother's food, i might have bad breath...

- stop, you're scaring me.

- i'm sorry, you scared me first.

- i love you.

- i'm scared.

- that's ok. it means you love me too.

1.3.16

Luiza

eu sinto tua falta, pq isso é tão difícil de dizer? eu sinto tua falta, tenho saudade. como vc pode me magoar tanto, tanto ao ponto de que eu não conseguisse sentir mais nada. como você pode, depois de tudo? sério, como? 

minha mãe foi diagnosticada semana passada como portadora de transtorno de personalidade narcisista e histrionica. minha vida inteira estive nas mãos de uma mulher perturbada e isso talvez explique pq estou sempre nas mãos de outras mulheres perturbadas. eu tenho trauma do amor, honestamente.

então agora, nesse instante de lucidez onde sinto intoleravelmente tudo que me aconteceu, eu sinto sua falta. e muita. e eu não trocaria isso por nenhuma outra história. a verdade é que cansei de negar. mas também não sei dizer como. 

você me magoou e eu chorei tanto, nem lembrava disso, mas chorei tanto, tanto e tão de repente, era uma sexta-feira e eu não consegui levantar da cama pois tudo me lembrava você, até o que nunca lembrara antes. como eu esqueci disso? foi um nevoeiro.

em seguida nada mais acontecia. as mensagens chegavam, a vida passava em fotos compartilhadas, tudo parecia ser um estilhaço de algo que não fazia sentido nenhum, quando colado de volta. sabe o que é sentir tanto que você para de sentir? ou estar tão assustado que você vai embora de si mesmo? você sabe, não sabe? eu sei que sabe. 

dias & dias, nunca & quase, nada mais fazia sentido, eu estava só em todo canto, uma solidão ausente de mim mesma. não importa onde fosse ou o que fizesse, eu não estava. falar de você era como contar uma história que meu avô me contou, apenas um fluxo de palavras sobre algo que um dia foi importante para alguém, mas não para mim. 

conter-me foi fácil, visto que eu não estava, como vigiar uma casa onde não há ninguém. e o que eu deveria ter feito, afinal? de um jeito ou de outro, a gente morre; sorte de quem pode escolher como.

blind

posso acordar e me perguntar "o que estou fazendo?" ou posso simplesmente permitir que seja.
assim, de olhos fechados, acordar e permitir que seja o que for.
posso esquecer tudo e acreditar que as pessoas mudam e que eu também mudei ou posso continuar presa naquele medo.
é libertador pisar fora do medo, mas sempre fica um pouco no rastro, por isso vou devagar, por isso limpo sempre meus pés antes de entrar em qualquer pessoa, para entrar em paz.
não quero mais manchas nos caminhos que traçar, não quero mais olhar para trás e farejar aquele velho e estranho sentimento.
quando penso que sei, grande parte das vezes eu não sei, mas quando eu sinto é sempre certo.
quanto mais eu penso, menos eu quero sentir e talvez toda essa racionalização seja uma forma de me poupar, de viver seguro.
quero trocar a falsa segurança por confiança
e se, por um instante no passado eu apenas quis, se por um tempo eu sabia possível,
hoje eu sinto que posso.

e
eu
vou.

/2010

nunca tive muito problema com a noite, até certo tempo atrás.
sim, eu gostava da noite, gostava de imaginar coisas no escuro e fingir que estava sonhando de olhos abertos, gostava de abraçar um travesseiro entre as pernas e pensar com carinho em alguém, gostava de deixar os pés para fora da colcha e sentir um friozinho, gostava principalmente das noites de ninar chuvosas onde a natureza parecia imitar um choro que não era o meu, nem o de ninguém, porque naquelas noites ninguém chorava.
os tempos de paz de noites bem dormidas, de noites aninhadas comigo mesma, quando a casa ainda era um lar e meu travesseiro aguentava o peso de minha consciência.
as noites que eram apenas férias de sol, as noites de luz de velas, as luzes da noite que nunca se apagavam ainda que eu fechasse os olhos, eu dormia com pensamentos de luz e com sono de pluma.
e de repente os dias viraram noites
não é o jeito que as coisas são que me incomoda, é o jeito que elas deixaram de ser.

não, não é questão de ser homem ou mulher, nem bonito nem feio, nem raso ou fundo, nem nada. o questionamento é medíocre por si só, "por que você?"
por que eu?
por que a pergunta?
tenho uma resposta branca e uma transparente e uma vermelha;

carta ao golfinho

eu queria não estar tão cansada para escrever esta carta, mas estou, golfinho, e espero que você entenda. eu sei que você é apenas um golfinho e não sabe ler, mas algo me diz que é necessário, que você vai entender de alguma forma. como toda vez que olho para o céu e me pergunto se você também está olhando, e tenho a sensação de que a gente está se vendo lá nos reflexos das estrelas, lá no fim da vida onde não há questionamentos.
mas ainda não chegamos lá, golfinho, portanto os questionamentos existem.
olha, eu sei que fui eu quem te encontrei, mas isso não faz de você meu golfinho. espero que não fiques assustado com a minha presença, ainda que a tua me assuste também. não tenha medo golfinho, eu também tenho. não deixe que nada disso te afogue, você nasceu para nadar. eu digo "calma" e deixo você repetir comigo "calma aqui, também", e a gente não pode dizer "calma" com pressa.

acordei

em algum lugar entre nascer e morrer

old conversations with an old lover

"emagreci e ninguém notou, agora to pesando 89kgs!"

é? se eu te disser o quanto minha alma está obesa desse papo fantasia a cadeira quebra e a casa cai, fico magra e mansa em três minutos, você volta a ser faquir e ela se interna na igreja.
ah, eu conheço essa batida, ai não.
não essa batida, não de novo, oca e seca imitação do pulsar, esse latejo que lembra a vida com tanta perfeição se não fosse uma paródia obscena do tedio
preciso parar na farmácia
pra que
pra comprar meu remédio
que remédio
po, o meu
remédio da loucurinha é hahaha
é
sério
sério
...
já ouviu falar em transtorno bipolar
pronto, eu tenho algo parecido com isso, mas é como se mudasse mais rápido
...
se chama borderline
...
eu esqueci que você não liga

I am sorry for being here

às 4 da manhã já de pé, ando pelo chão frio de mármore com um cigarro aceso nos dedos, se tivesse mais mãos fumava logo três de uma vez. o cachorro sente o cheiro e fareja debaixo da porta, como queria ser ele, desejando algo fora do meu alcance, desesperada. a primeira pessoa acorda às 6 e a presença ativa de alguém me deixa incomodada comigo mesma, feito quando chego em casa sóbria e todos me esperam bebada, então faço esforço para parecer ainda mais sóbria, parecendo finalmente embriagada para a decepção e não-surpresa de todos. seria um escândalo, estarem errados.

a boca seca, o coração seco

dar um pega e jogar a cabeça para trás, a certeza de que sua mão estará ali quando repousa-la sobre o palet descoberto. a boca seca procura a tua boca seca e dois desertos se despejam em uma tentativa de afeto. um gole de cerveja quente, eu lembro do carnaval com esse gosto, e de novo. eu não te amo, deixo bem claro como uma tentativa de aviso, uma anti-declaração, na verdade acho que nunca amei ninguém exceto uma ideia muito boa que criei sobre uma menina, mas ela morreu. na verdade mesmo, se a gente tirar a primeira camada do que disse anteriormente, acredito que seja bem o oposto: amei demais, amei tanta gente, amei cachorro, menina, mulher, homem, gente que nem sabia quem era, eu amei. mas essas coisas secam, sabe? como fruta seca, feito uma uva-passa que deve ter esse nome por tudo que ela passou na vida pra ficar seca daquele jeito, seca comida, seca como eu. árida, pois já falei seca demais. você não liga, eu sempre esqueço disso. é tanta coisa que a gente pensa no meio de coisas desinteressantes, e penso em tudo que deveria estar fazendo agora e na lista enorme de tarefas e to-do's e to aqui perdendo meu tempo tentando achar uma posição boa para minha língua na tua boca. mas quanto desse tempo já não se foi, despertar? a menina não volta, depois que ela vira mulher, dragão ou entristece, ela não volta mais a ser menina, pois não cabe mais, sabe? como se a realidade tentasse vestir uma roupa e sair na rua disfarçada de menina mas todo mundo a reconhece pelas roupas rasgadas que já não lhe pertencem. coisa triste de se ver, ainda mais quando é você quem cai na imbecilidade de tentar pertencer ao que não te dá mais.

back to meds

volto pro remédio e então começa o pequeno despertar, uma euforia mansa que se traduz em pouco sono e taquilalia. dizem pra correr, pra evitar café e outros estimulantes, dizem que em dois dias vai passar, quando o corpo se acostumar à nova droga. me diga, quanto tempo meu corpo ainda vai ter que aguentar tanta readaptação constante? sinto que estou sempre me conhecendo e não sei o que dizer às visitas, sinto que às vezes não se trata de mim o que sou. insisto em desvendar o mistério de ser-me, às vezes adormecendo no fim da noite com a sensação de uma jornada intensa de trabalho, ainda que nada tenha feito a não ser: respirar, pensar, descobrir como agir em situações que requerem minha presença, estar.

toque aqui para escrever

agora toque aqui (puts hand on chest) para descrever

coffee

você faz café pra mim, forte, sem açúcar, com um beijo doce no final que estraga tudo.

breakfast

good habits are boring

what am I doing

everybody's gone and I'm still dancing to that song you played
I used to be happy
(I don't know why)



maybe that's why I was happy