31.5.10

armadilha viva

a vida é uma estranha armadilha viva, quadrada. encostamos na grade da infância até que alguém nos empurra para a próxima, batemos de frente na grade da adolescência, pulamos para a grade da idade sem muita experiência e depois nos apoiamos cansados na grade da decadência, alternando as ordens num ensaio randomizado, anotando tudo num caderno de cientista maluco que talvez sirva de instrução para quem vem atrás.

a minha maior dica é: tem saída? não, nem a morte. a morte é ficar parada no meio dando uma de bicho morto.

30.5.10

transplante cardíaco

aos poucos vou andando pela casa e recolhendo tudo que me pertence; as brincadeiras de infância e as marcas de pé preto e bola no teto, as conversas entranhadas nas paredes junto com todos os segredos que ouviram, as bárbies, o tamagoshi, o lego e o diário, o cheiro de minhas comidas preferidas ainda nas panelas, o barulho do sapato social no corredor, assim como a luz da tv acesa por baixo da porta e os banhos de porta aberta. recolho os presentes dos meus aniversários e todo o seu acúmulo de anos, as velas semi-derretidas guardadas na gaveta junto com as fotografias de quando acenderam pela primeira e última vez. vem com elas o enorme quintal de casa com suas árvores de coça-coça, a primeira curva de bicicleta no chão, os inúmeros passeios de carro nas noites de choro e a manhã de comer areia na praia pela primeira vez. vem com elas as tardes de derrota no boliche, os filmes que mamãe dublava no cinema, a pequena sereia todo dia antes de ir para escola e as canções que papai fazia. vou catando pelos cômodos as primeiras memórias de medo ao acordar sozinha, de cama molhada de xixi, de fraldas e absorventes, do chulé na sapatilha do ballet, da camela elástica da ginástica olímpica, dos treinos de basquete, vôlei, futebol, chuteiras e caneleiras, medalhas e uniformes, fardos e fardas. os livros da escola, os gibis da mônica, a capricho. vou guardando de volta em mim o latido do primeiro cachorro, uma vira-lata chamada totó, o som da primeira palavra em inglês, a verdade sobre papai noel, a otite nos verões de água salgada, o balanço no pé de manga, o esconde-esconde nas escadas do prédio, as pescarias impacientes que terminavam em anzol no dedo, as la ursas no carnaval, a piscina em forma de coração, os tiros de chumbinho no nada, o são joão de fogos e quadrilhas, os selinhos escondidos no verdade ou consequência, as tardes bronzeadas de rede balançando, as cabanas e as fogueiras, os cinco reais de mesada por semana, o pirulito que fazia cócegas na língua, a ansiedade para montar a árvore de natal, a interminável sequência de memórias de uma vida.
vou vestindo em mim as roupas espalhadas pelo chão junto com as lembranças de quando usei-as pela última vez... assimilando tudo numa bagagem emocional e segurando em minhas mãos o insegurável, o conteúdo de tudo que dei e me foi dado, o recheio, o peso de uma vida inteira que escorre para dentro de outra pessoa, que agora terá posse de tudo isso.

o que estou fazendo, basicamente, é arrancando meu coração de casa e entregando-o para você.

on the road

eu vim de uma pessoa muito longe de mim.
desarrumar as malas e instalar-se na estrada nova...



mas antes, 5mins de levitação.




famiglia

quando eu nasci, deitei numa cama de mãos que me ninaram pela vida. cresci em bando de meus, batizada como todos eles, com nomes que me carregaram e que agora carrego além do papel.
a minha família, a mais extensa, é um laço de nó duplo; casamos primos com primos, irmãs com irmãos, e por isso somos nossos dos nossos.

27.5.10

escolha uma vida

escolha uma vida, a sua para começar, e dedique-se a ela com toda sua força e curiosidade.
aprenda em que posição respira mais fácil, que cor lhe agrada os olhos e quais escuros lhe dão mais medo. saiba do que ela se alimenta e por onde deixa escapar suas sobras, e certifique-se de ambas as necessidades sejam bem supridas. conheça os seus defeitos sem se limitar por eles, vista suas roupas ao avesso e veja como se parece no espelho. procure os pontos de pele que mais lhe evocam a alma, e conecte-se através deles sempre que possível. conte piadas até gargalhar de si mesmo, pressione a ferida até chegar ao outro extremo. descubra a dimensão do seu vazio e preencha-o com mais vontade de encher, nunca apenas tape um buraco. leia o que abrir sua mente e faça o que lhe realiza, tire os pés do chão se preciso for. complete as partes que faltam com paciência e carinho, nunca com impulsos, e não tente esconder o que lhe transbordar com tapetes. ame por cima dos seus erros. desmascare seus vícios mais secretos e deixe que morra de cada um deles quantas vezes for necessário, até obter daquela vida, de si, tudo que tiver para ser ao pé da letra, e não de passagem.

com a tarefa completa e você também, recomece, escolha outra vida, e dedique-se a ela com toda sua força e curiosidade.

26.5.10

satyagraha

"Tenho também a chamado de força do amor ou força da alma. Eu descobri o satyagraha pela primeira vez no início da minha busca pela verdade que não admitia o uso da violência contra um adversário, pois o mesmo deve ser desarmado dos seus erros com paciência e compaixão. Sendo o que parece ser verdade para um é um erro para o outro. E paciência significa auto-sofrimento. Assim, a doutrina passou a significar reivindicação de verdade, e não pela inflição de sofrimento sobre o adversário, mas sobre si mesmo."

25.5.10

um, dois, três, e...

eu vou.
vou porque ir, às vezes, é a melhor forma de ficar. é a melhor forma de voltar depois e cobrar tudo aquilo que foi na minha ausência, toda delícia de ser e que não fui, porque fui outra coisa, fui embora. tudo teria se estragado se a permanência fosse maior, e no final ficariam imagens tristes que talvez atrapalhassem o processo da volta; ninguém sente falta do desagradável. vou morrer em casa mesmo, e daqui em diante todo cuidado será meramente paliativo.

eu preciso saber

se no primeiro tropeço, eu me encontrar ao avesso,
você vai rir de mim?
vai aguentar o peso e me levantar ou apagar os passos, os traços do meu caminhar?
se no primeiro instante de raiva, eu me perder um pouco no absurdo,
você vai estar comigo quando eu voltar de lá?
vai lembrar da paz e me lembrar dela também ou fazer de mim aquilo e de tudo mais nada?
se um dia eu não puder falar, e te disser que não aguento,
você vai entender?
vai lembrar de todas as outras coisas que te falei, que me doeram tão igual, ou calar-se num silêncio pessoal também?
se nas noites de mão gelada, eu te causar um certo frio na espinha,
você vai aquecer?
vai aproximar tua boca das palmas e me conceder uma reza quente, ou vai puxar a colcha para o teu lado e dormir indiferente?
se um dia minha opinião discordar da tua, e por vezes da minha também,
você saberá lidar com os extremos?
vai flexibilizar tua verdade até que cheguemos ao consenso, ou atropelaria tudo com tua bandeira da razão?
se um dia amanhecer agitada e, na confusão, não disser que te amo,
você ainda lembraria?
esperaria a noite mais calma e a tua recompensa, ou se daria por mal amada?
se um dia não souber lidar com teu problema,
você entenderia meu esforço?
aceitaria o suor como parte da solução, ou se fecharia na sua dor sozinha?
se eu gemer as incompreensões das dores terríveis,
você tentaria compreender?
calçaria os meus sapatos e sentiria meus calos, ou andaria descalça por cima de mim?
se uma vez a tua chave não abrir meu coração,
você entenderia as causas da reforma?
se arriscaria na bagunça de uma sem-teto, ou correria de volta para o conforto da tua casa completa?
se eu me abrisse completamente e afundasse em você sem pena,
você saberia nadar em mim?
eu me pergunto às vezes o que aconteceria com a gente,
se um dia eu for e não voltar mais, você iria me buscar?
se a queda for feia, você deitaria ao meu lado ou seguiria em frente?
se eu perdesse a voz, você saberia ler minha dor?
se meu coração quebrar por outro motivo que não teu, você acharia traição?
se minha pele ficar áspera e minhas palavras um tanto cruéis, você vestiria o mesmo véu?
se me faltasse, você daria o troco, ou pagaria pelas duas?
se ardesse, você sopraria?
se eu te perguntasse essas coisas, você teria raiva?

por favor

eu acho que morri, e parti tão apressada desta para melhor que esqueci de me avisar. a alma partiu nas pressas de fome e deixou aqui só a carcaça e a consciência para se virar com os restos.
deve ser por isso que todos se incomodam comigo, o cheiro de podre só causa problemas.
alguém me enterra?









desculpe, esqueci novamente, alguém me enterra por favor?

hangman

eu preciso de força, e não forca.
de casa, e não caça.

seguro em mim a insegurança líquida, para que ela não transborde para outras áreas da vida. eu só causo problema, me sinto a estranha do ninho, como uma mancha na foto da família feliz.

i'm satellite high

se as pessoas soubessem como eu me sinto terminalmente fraca, se elas lessem o desânimo na minha cara ou a fragilidade no meu sorriso, ninguém ousaria perguntar "tudo bem?", simplesmente me dariam um abraço, ou partiriam caladas. se elas tivessem a menor do idéia do barulho que faz aqui dentro enquanto passo a marcha, enquanto folheio um livro, enquanto mordo um sanduíche, enquanto fico calada, elas jamais perguntariam "porque tas tão quieta?", simplesmente sentariam ao meu lado naquele silêncio de quem reconhece, ou partiriam caladas. se, por um segundo, elas experimentassem essa morbidez que me tapa os olhos, que me torce o estômago como quem passa fome, que me deixa metade ausente de mim, elas jamais diriam "maria ta tão estranha hoje", simplesmente aceitariam minha ausência como um sinal de fraqueza, aceitariam que pouco podem por mim, e partiriam caladas, mas conscientes. se, ao levantar pela manhã, elas sentissem a pressão que sinto no corpo, a culpa que pesa na consciência, o peso de várias vidas nesse ombro pequeno, elas jamais brincariam "essa cara de sono é ressaca...", porque é ressaca sim, de uma vida inteira, de várias vidas incompletas. não, se elas segurassem nas mãos todas as bolas desse malabarismo, todos os esforços desse viver, toda ausência de cores e sabores, toda velocidade do pensamento, elas jamais julgariam caladas as minhas ações nem a falta delas, elas jamais teriam força para levantar qualquer pose de orgulho, nem tempo para bolar qualquer plano de fuga, elas simplesmente desabariam num choro que ficou preso aqui em mim, emaranhado com todos os nós dessa vida, que me afoga por dentro. só que elas não sabem, essas pessoas, ou preferem não saber, e seguem caladas, ou perguntando coisas que não ouso responder, porque o peso da resposta é insuportável, e só meu.

24.5.10

ostra feliz não dá pérola

um chute na barriga, dois chutes na barriga, três chutes na barriga, quatro chutes na barriga, cinco chutes na barriga, seis chutes na barriga, sete chutes na barriga, oito chutes na barriga, nove chutes na barriga, dez chutes na barriga, onze chutes na barriga, doze chutes na barriga...

pérola?

23.5.10

memento audere semper

acho que, vez ou outra, a vida se apresenta na forma de dores tão intensas e verdades tão cruéis que a única saída é a imaginação, abandonar qualquer forma de vida conhecida e pedir uma realidade que está fora do cardápio (os mais céticos diriam "alienação", eu prefiro "sonhar").


li uma vez sobre uma judia do holocausto que, ao ser questionada sobre como fez para sobreviver à tanto horror, respondeu "imaginei, era preciso muito imaginação para não se deixar morrer naquela realidade." eu me pergunto se isso é fuga, ou inteligência, e até que ponto a fuga é a melhor forma de inteligência? porque é verdade que sentir está fora de questão num terreno que suga todas as suas forças, é bem verdade que algumas dores não nasceram para ser sentidas, apenas suportadas. me lembrei agora de um trecho de harry potter em que existia uma prisão onde toda e qualquer felicidade era sugada para fora de você, e você enlouquecia nos seus pensamentos e sentimentos mais sombrios. eu me lembro que perguntaram para um personagem "como você escapou disso?" e ele respondeu "eu sabia que era inocente, e isso não era um pensamento feliz". então às vezes me permito um momento de branco completo, onde troco todos os meus sentimentos por uma leve imagem de dias melhores enquanto repito mil vezes para mim mesma até que minha consciência absorva como verdade "existe vida além daqui, se eu conseguir me imaginar além daqui. eu sei que sou inocente, e que por enquanto isso não é um pensamento feliz, mas lúcido."

21.5.10

três

amar não é uma conquista, é uma entrega;
viver aberto não é uma forma de defesa, é uma forma de desarme;
há uma certa segurança em saber que o máximo que podem jogar contra mim sou eu.

i am satellie high

viver aberto não é uma forma de defesa, é uma forma de desarme. quando você usa os seus defeitos como acessórios, eles ganham efeito de qualidade, e acho que isso inspira o mundo a ser um lugar mais sinceramente bonito.

com a vida inteira

eu não entendo; todo dia observo as pessoas saírem de casa armadas até os dentes, protegidas contra todo o mal que esperam de lá, afiadas com respostas prontas para qualquer situação invasora, e dizendo, "queria muito alguém que me amasse". eu não admito; uma mão que alisa carinhos cheios de farpas e um corpo que blindou-se contra o toque, uma discussão com todos os restos de debaixo do tapete que voam de um lado para outro e duas pessoas se munindo com a fraqueza da outra, e dizendo "eu te amo". isso é normal.
agora se eu saio de casa com um leve otimismo, se eu começo o dia com uma ponta de esperança de que algum estranho vai sorrir para mim, de que algum conhecido vai me surpreender, se eu acredito no amor e defendo minha tese com a própria vida, de que talvez as pessoas sejam melhores do que demonstram, de que é necessário arriscar-se para ousar dizer que se vive, se eu espero abertamente que alguém se abra espontaneamente e plante um flor, eu estou louca, eu estou fora, eu sou uma marginal beirando o limite do aceitável.
se eu me deito no seu corpo e deixo que todo meu peso se afunde na sua pele até que você sinta exatamente quem eu sou, se eu me faço de cobaia para que você saiba que é seguro sentir também, se eu me dispo completamente e te deixo constrangida por tudo que eu expresso, se eu enxergo o seu potencial e me dedico à ele e exijo de você o mesmo, o de dentro, o brilho dos olhos, se eu não me poupo e não me importo, se eu tenho braços enormes que te cercam com cuidado e permitem que tudo aquilo que se anexa à sua vida faça parte de mim também, se eu volto ao interior é porque vou buscar mais forças para continuar tentando, é porque estou amarrada com uma camisa de força que me priva de te abraçar e te dizer, "eu te amo com a minha vida inteira"

19.5.10

over

eu sou a pessoa mais insegura do mundo e isso poderá ser usado contra mim, e será.
pulo de um tique nervoso para outro; até que a unha cresça eu como a boca, até que o lábio se regenere eu mexo nas espinhas e quando tudo está curado, repasso minhas mãos entre os cabelos de um lado para outro até que toda figura assuma um aspecto oleoso e doentio.
nunca me permiti um vício; quando bebia todos os dias da semana, fumei um cigarro emprestado, e quando acabou eu tive medo de comprar, porque comprar é alimentar o ato de ser, e eu não era. quando perdeu a graça eu experimentei um pouco de tudo, provando tudo aquilo que tinha gosto de mais, e que não tinha mais gosto de nada, correndo solta na casca fina de gelo que se quebra num para sempre sem volta.
tenho para mim que nunca sobreviveria à uma overdose de nada, porque over é tudo, é deixar transbordar e ser full, seja tudo em três segundos e depois apenas intensidades mais leves de um over, half. não existe mais a vida segura após, tudo vira vício repetitivo de ser over-se, overlove, overvida e mais, e ai pode ser que eu morra de tédio ou de tentativas. mas quando se adota uma vida pós, o mais fácil é dosar as vontades pela manhã, jogar as sobras à noite e entre uma manhã e uma noite, é sempre tarde, porque when it's over, it's gameover.

para não morrer sufocada de mim, poupei a vida de todos e gastei todas as minhas.

18.5.10

a fonte

aqui está o segredo; todo mundo tem medo.
por isso é melhor fechar a janela dos olhos e afastar com a pata quem farejar o medo, permanecer na distante segurança de quem se finge de morto. o seguro é o indecifrável, as frações de ser que pouco a pouco tomam uma forma diferente lá fora, uma forma líquida que vai escorrendo como um fino véu de mentiras que endurece e vira pele. toda leveza de uma alma se esconde atrás de um pedaço de carne podre, a superfície rasa de várias camadas de ondas que afogam qualquer tentativa de escape. freud chamava de "mecanismo de defesa", eu me pergunto "contra quem?"
nós mesmos.

aqui está a salvação do universo; unir versos.
unir palmas e cantos, unir corpos em danças e unir o medo à exploração. unir as forças e romper com a barreira viva, aguamolando em pedra dura até respirar o ar de verdade. abaixo do medo, eu. acima do medo, nós. o medo da solidão empurra para fora num parto que rasga todas as regras e ficamos estabanados sem saber fechar aquela ferida de tanta verdade, aquela ferida que dói de verdade, fugiu da rédea e foi. só nos resta unir a dor à ferida, a mão ao sangue, a saudade à entrega, o lábio ao beijo, a alma à outra, as superfícies que se afogam nos profundos. unir o pensamento à fala, o querer ao ser, o eu ao você em um simples medo de verdade de nunca mais ser nada disso novamente.
nós, mesmo.

todas as marias

eu já sabia da tua vinda antes mesmo da chegada, antes mesmo que partistes daí eu já previa essa previsibilidade, eu já tinha escrito um dia num caderno sentada num avião qualquer enquanto voltava para uma realidade ocupada;
"todas as marias encontrarão-se um dia, uma de cada vez, na tua alegria, e em ti nascerá flores de todas as cores, de todas as marias, (...) você deixou poemas o suficiente para serem escritos, então pode ir que tenho muito trabalho pela frente (e não para trás)"
guardei isso sabendo que no futuro era possível.

tudo que tenho para dizer é seja bem-vinda ao clube dos que enxergam, tem band-aid de sobra pro teu coração, e sobras de corações que curam. pode me chamar de doida, é o mal do nome.

16.5.10

real

eu preciso de profundidade, preciso chegar até onde não dou mais pé em você e me afogar por lá. amar para mim é um pouco de suicídio, e eu não me importo de morrer todo dia. eu não me importo se todo dia eu tiver que sair para comprar fogos e solta-los cada vez que você entrar no meu campo de visão, não me importo em ter que sentir sua falta enquanto faço outra coisa menos importante, não me importo em ter que dedicar nada a você, nem tempo, nem pensamentos, nem sentires, não me importo em tirar minha roupa, minhas armas, meu orgulho. eu não me importo em ter que dar nada, eu vendo, eu doo, eu entrego à domicílio, só não me peça para guardar, só não me diga "menos", só não me deixe brincando numa piscininha de você com água que bate no teu joelho.

Sentir aos poucos não quer dizer sentir pouco, entenda isso, meu amor.

observo as pessoas, todo dia, eu leio pessoas. cada um tem seu mecanismo de defesa, e esse é o meu. cada um tem seu hobby, e esse é o meu.
ler pessoas.

14.5.10

quero deitar toda minha vida na tua, deitar nua no teu corpo e combinar as partes iguais, como num jogo de encaixa onde a gente nunca acha a parte certa para encaixar o fim.
quero ouvir as crianças engatinharem para fora da tua boca,

13.5.10

aos poucos muito

aos poucos vou despelando todas as camadas de peles até que fique apenas o sentimento nú e cru, e aos poucos vou me deitando sobre ti e encostando cada palma de mão minha na tua, cada seio num seio e cada olho no olho até que sintas meu peso distribuído em cada parte do teu corpo igualmente, até que meu peso te sufoque a ponto de dividirmos o mesmo ar. aos poucos vou revelando as histórias de tua ausência e as novas feridas da mesma guerra, e aos poucos vou me rendendo de dentro para fora, aos poucos me aquecendo de fora para dentro. aos muitos pouquinhos os dedos se encaixam, depois os futuros e as batidas do coração

cada batida ocupando o intervalo da outra até que o som seja

10.5.10

jorge drexler

a gente pensa que sabe, só para descobrir que não sabe nem pensar ainda.
é jorgito, a vida é mais complexa do que parece...


ou será que você quis dizer completa?

o que flor, quando flor

e quando brotar, que sejam rosas naturais de cores verdadeiras e raízes sólidas e espinhos toleráveis.

mas por enquanto, água.

9.5.10

mil

é muito cedo para falar de amor?
porque eu disse "calma", mas agora é o meu coração que bate a mil.

(mil pedaços de felicidade correndo pelo sangue, baby)

vem buscar

se eu tirar teu conforto, roubar teu sono e te deixar um tanto perdida, não te preocupes;
isso não é um jogo de esconde-esconde, é um roubo ao ar livre onde teu coração me concedeu a honra de guardar um pouco de ti em mim.

pedaço de mim

aquela vontade de apressar os minutos sozinhos só para que cheguem as tuas horas completas, aquela vontade humana de envelhecer ao teu lado, aquele desejo de repousar minha vida no teu corpo e deixar todas as marcas vermelhas de amor, aquela vontade infinita de não ter fim, aquela vontade que só sinto contigo, aquela coisa sem nome que se transforma em beijos e abraços apertados, aquela vontade sem fim de que chegue logo tu só para que chegue logo a mim, aquela vontade de estudar para ganhar dinheiro e sustentar esse amor que por enquanto só vive escondido nos muros de dois corpos, aquela vontade de que esses dois corpos virem um só, e que talvez eu chame de filho, e que talvez eu chame de amor, e que por enquanto não passa daquela vontade de ser muito mais que essas palavras.

quando eu escrevo e a vontade não passa é sinal que a realização se estendeu à além-eu.

desculpa se te chamo de amor

no final dessas contas que fazemos antes de dormir, essas contas que nos adormecem no pensamento, o que é então amar?
porque quando tentamos todas as formas, quando apelamos para o auto-destrutivo e reconstruímos, quando sentimos o coração bater e latejar, quando amadurecemos e respeitamos tudo aquilo que envolve a palavra amar, por que a queda é sempre a mesma?
se meu coração agora me pertence, é responsabilidade minha o que acontecerá com ele daqui em diante, e isso é chão seguro. mas se eu o coloco em outras mãos, se ele acorda batendo em outro peito, se ele já não mais me obedece, como posso dormir nessas condições?
deve ser sutil essa mudança entre a saudade e a entrega, deve ser tão natural quanto a vontade de pertencer a outro corpo. minha cabeça talvez agora não entenda o código morse que o coração envia, e talvez minhas palavras sejam ralas em comparação a tudo aquilo que sinto quando o assunto é amor, em especial o amor que tenho por você, mas é tudo que minha fragilidade me permite no momento. eu queria ser maior só para comportar mais de ti, queria comportar-me mais só para que vejas o quanto me importo contigo. não chamo isso de sacrifício, chamo de amor.

é muito difícil para mim ter-me em ti, sentindo-me completa apenas quando estás tão perto que a distância é menor que a saudade; tão perto que não há espaço entre tua pele e minha alma, entre tua palavra e minha verdade, entre teu coração e o meu.
tão perto que as palavras parecem mil milhas longe de qualquer explicação.

"Tão perto que, quando fechas os olhos, eu adormeço."

3.5.10

medo é cheiro que se sente

When the serpent appears, his head is ten feet long and five feet wide. He has one red eye and one green eye. He's deadly and he's seven miles long. As he moves -- on his scales is written all the history of the world, all people, all actions, all of us our little pictures on the scales, God it's big! -- and it's eating as it moves all the time, devouring, digesting consciousness, power, a monster of energy! We must kiss the snake on the tongue, if it senses our fear, it will eat us instantly. But if we kiss it without fear, the snake will take us through the garden and out the gate. To our freedom - we must ride this snake. To the end of time.

o que for, quando for

I’m sick of chasing after things, I’d rather them chase after me
Keeping up is bound to wear me down
There’s a million ways to skin a cat, I’ve put my choices in a hat
Picked a few and threw the bad ones out

I know now

So if you want me you’d better knock me down
Cause I ain’t easy and this ain’t hallowed ground

I’ve been thinking about ol’ Cain and Abel, sitting at a breakfast table
Talking about the way things used to be
Well Abel looked at Cain and said all that shit was in your head
I’d like to think that Cain was hard to please


I know now

So if you want me you’d better knock me down
Cause
I ain’t easy and this ain’t hallowed ground

She said no one loves you more than me
I looked at her, she looked at me
I think she’s waiting for me to believe

I wish that
love was all it took
I’d fall into you if I could
Hoping for a graceful recovery

But I know now

So if you want me, you’d better knock me down
Cause
I ain’t easy oh, and this ain’t hallowed ground