30.5.14

se

se não for amor
eu cegue

e se for
eu sigo
cega mesmo.

25.5.14

escrever

se não escrevo, meus dedos incham de palavras presas; o lápis tenso nem sempre cede às necessidades, mas ainda assim, tento.

21.5.14

livro da saudade

se a saudade pudesse publicar um livro, ele teria papel de água, e onde fosse seco, seria um dia de riso onde tudo evaporou, e onde tivesse mais molhado, ai teria sido um dia triste, ou um dia corrido também, no caso teria que beber da água para saber, sendo o suor um pouco mais salgado. mas ai podia ter sido um dia de praia também. então nos dias de praia, colocaria um pouco de areia, so um pouquinho, pra não estragar. 

flores

como que ao acaso, surgiram novas flores bem ali naquele pedaço de quintal que eu nunca ia, talvez pela falta de sombra, talvez pela distância das outras ilhas verdes ao redor; talvez sempre estivessem ali, mas a falta de olhar nunca lhes deu existência. aproximei-me quieta, como se um barulho qualquer fosse assusta-las, fechando suas pétalas e fazendo-as partir. mas não, eram flores, não iam a lugar nenhum a não ser à morte, um dia. deve ser bonito demais viver flor e morrer flor. encolhi os joelhos e agachei-me ainda mais perto, dessa vez prendendo a respiração. mas por que tinha tanto medo de assusta-las? nunca me fizeram falta até então; foi a partir do momento que me dei conta de sua existência que surgiu em mim aquele medo de perdê-las. imagine, perder algo que não passava de uma flor num canto inabitado de um jardim com tantas outras, algumas mais bonitas até, algumas mais simples de cuidar. eram minhas porque agora eu era delas. eram minhas porque meu olhar lhes deu a existência, porque antes morreriam inapercebidas. não.
existiam apesar de mim, viveram ali deus sabe quanto tempo, e eu na casa ao lado, me julgando independente, elas crescendo com chuva e sol, e eu na casa ao lado, logo ali pertinho, me julgando tudo saber, sem saber delas ao menos. então foi isso; eram vivas, não importa o que me acontecesse, seriam vivas e mortas, independente de mim. mas eu, agora dependente delas, não poderia mais viver um so dia sem vê-las; dedicaria tempo e água e carinho, como se houvesse sido descoberta pela primeira vez por olhos que nem sequer viam. meu apego cresceu como se houvesse sido gerada de flor também, como se agora em mim existisse uma água morna molhando uma vida oculta. antes delas, eu apenas existia, com a latencia de uma semente de girassol; agora broto por todos os poros.

hoje

pois hoje descobri uma força que me tirou dos pés; não era uma queda, mas apenas um levitar da alma um pouco acima do corpo, o suficiente para perder o chão de pele recoberto de calos; fiz uma festa bem em meio aos meus joelhos, paradinha da silva, com um enorme sorriso ao avesso.

aos meus

quantas vezes não dançamos juntos em meio a uma vida pausada no tempo, so por aquele momento? pois quando me vejo ao teu lado, cada um de vocês, uma invasão de vida me preenche; mas não é imposição, não passa de brincadeira, de leveza, de movimentos do bem. para frente, vamos juntos, por favor boa separemos tão longe faltar o toque, nada mais que isso.

agradeça

eram apenas um par de olhos mirando o passado, procurando pistas antes nunca vistas, folheando os rostos como velhos livros intermináveis. sim, despontaram as mudanças em meio a tanta coisa conhecida, como um novo sinal na palma da mão. meus amigos, meus antigos e novos amigos sentados ao redor de um centro que só eu vejo, como se o retrato fosse uma radiografia das almas de todos eles, e nenhum cabia na moldura; o brilho nos olhos emanava para fora do papel, absorvido na palma de minhas mãos e diretamente ao coração, era assim que via a foto, com os olhos do peito, com a cegueira da saudade, com a fome de um momento que passou e nunca mais voltará. queria rasgá-la em mil pedaços e mastigar todo dia uma parte diferente, até que lá dentro de mim tudo se reencontrasse pintando um novo quadro, talvez um quadro do futuro, talvez apenas uma lembrança mastigada pelas entranhas da vida; mas seria meu, e isso bastava para sempre.

meus amigos, meus caros, queridos, infinitos amigos; sejam meus o máximo que puderem, do contrario jamais poderei ser eu.

20.5.14

hoje

"por favor, não me abandona, por favor!"

mas não há mais ninguém aqui para ouvir.

é simples,

não queremos esquecer; queremos apenas não viver lembrando.

o livro

chega em casa antes mesmo
do sinal abrir
reza dentro e fora das grades
pros males que só tu
veês 

pergunte para as baleias o que elas acham do casamento gay
e elas rirão de você 

tens que vestir a meia esquerda ao avesso
e esperar mais sorte de levantar com o pé direito, 
tens o direito de esquecer
para não viver lembrando,
mas me diga então,
como?

eu

sou constantemente povoada por sentimentos de flor; nos dias de ferro, os olhos inundam.

decadance

mas hoje, tão diferente de ontem
havia algo diferente 
não era tempo
era uma decadência precoce
triste 

estado

meu estado não é sóbrio
nem solteiro
meu estado é Pernambuco
meu pais é Brasil 
nem tudo se deve a mim.

now the neighbors can dance

a vizinha puta chamando a polícia por causa do som.
mas o som ta até bom.

oi?

arrumando terreno pro inimigo
arando bem a terra
pras sementes do mal

veja bem de perto
mire nos olhos
por trás da retina 
alguém pensa em você 
viu?

19.5.14

meu espaço

tenho cicatrizes maiores que os lugares o de estão, por exemplo; tenho uma no peito que é maior que o coração, como uma aura que se estende pra fora de mim. sinto quando me abraçam como se o espaço vazio entre meu peito e o da outra pessoa fosse um sentimento que vesti ao avesso, e que isso me mantém afastada nesse exato ponto, que molda os apertos de uma forma minha, permanecendo ali mesmo após o desenlaçar dos braços. você entende isso?

troféus de carne

meu pai so me elogia na frente de estranhos, como se nas quatro paredes de casa eu não passasse de um troféu na prateleira mais alta. 

eu não sei

ando mais perdida que nunca, não há ninguém no mundo que me veja agora, com exceção de algumas espiadas de nata e dr.pedro uma vez por semana, mas ainda assim, é deprimente vestir esse corpo todo dia. 
já existe um plano de vida, as expectativas sempre foram maiores que eu, e em parte acho isso bom, me tira da mediocridade que é caber em mim, mas. 
só queria me ajoelhar num canto dos meus joelhos e dizer: eu não sei. 

16.5.14

Débora

meu deus, te amei com tanto mais que o coração, destilei tanto mais que amor que no fim das contas não sei dizer ao certo quanto te dei, nem onde, nem com o que; apenas uma abelhinha voando quase morta após sua primeira picada.

14.5.14

but we need hints
before we get tired.

9.5.14

carol

se não for amor, eu cegue
pois amor é cego
surdo
mudo

4.5.14

carol

o carinho superficial
a casca vazia também sente
sabia?
alisa a pele
que recobre os ossos
as vísceras
e o coração
mas não aperte demais;
pode ser que toque.

3.5.14

kurt

Kurt Vonnegut says in Sirens of Titan: "A purpose of human life, no matter who is controlling it, is to love whoever is around to be loved."

2.5.14

em Viena

dividindo o mesmo edredom num frio, enquanto eu ouvia música e você
que música é essa?
small hands de keaton henson
é linda
eu sei

e assim ficou a lembrança 

cjma

clube do juro me amar 

1.5.14

poema de quatro

vem ca
rolina
que eu te julia
eu te juro
que vou te amar
golis.