3.12.09

Fidelidade

As pessoas se enganam quando fazem dos outros uma escapatória para si mesmo. Acabam fazendo da sutileza da união, corrente. Fidelidade não deve pesar. Não quero nunca alguém pela metade, alguém que me ame ao meio, que me queira sem querer.
(Alguém-refém).
Então olha meu amor, seja fiel a ti e se, sendo fiel ao que sentes, descobrires que és fiel a mim, então ta tudo bem.

Mas, antes de ir - boa sorte pra gente!
(Sempre)

2.12.09

Lembrei

Aquele medo de quem ta esquecendo algo cada vez que saia de algum lugar.
Era real.
Era você.

1.12.09

Déjà-vu do dudu

“- Calma Dudu, não esqueça que ainda sou moça donzela!
- Eu sei Aninha, me desculpe... É que às vezes, você sabe...
- Então acho melhor pararmos por aqui o que obviamente recomeçará amanhã!”

Desculpa de corno

“- Vou te contar, minha vida ta uma beleza!
- Mas como pode? Não tem um mês tava tu aqui desesperado sem saber o que fazer da tua vida! Diga-me logo, ganhou na mega sena?
- Não, ainda não, pelo menos. Lembra que te falei que suspeitava que a Claudinha tava me traindo com o personal da academia? Pois então, peguei os dois na cama dois dias depois da nossa conversa!
- Tas falando sério, Juares? E o que que isso tem de bom? Num fosse fazer besteira não né, pelo amor de minha mãe!
-Não, pera ai, fiquei desesperado, não sabia se largava a piranha ou passava de corno manso. Passei noites em claro tentando me decidir, com medo de me arrepender no futuro, seja lá o que fizesse. Arquitetei tantos planos, mas na hora da ação... Não sabia o que fazer, no final das contas preferia sempre a dúvida do corno. Além de tudo aquilo, ainda ter que tomar uma decisão! Eram tantas opções, e quando pensava nas conseqüências então...
- Calma, parece até que quem colocou a gaia foi tu! Rapaz, não sei nem o que te dizer... Se pegasse a Dani com outro, acho que matava os dois!
- Pois então, me ocorreu de fazer o mesmo, pensei em surpreendê-los na cama e chegar logo atirando, mas não queria deixar meus filhos órfãos. Olha, na hora da raiva a gente pensa em tudo, mas quando bate a tristeza... A Claudinha era a mulher da minha vida... Não posso nem pensar nela com outro que ainda choro.
- Chora? Não dissesse agorinha que tua vida tava uma maravilha? Vai dizer que o bombadão era brocha e ela voltou correndo pra tu?
- Que nada, a Claudinha fez as malas e se mandou com ele, conversou comigo e disse que não me amava mais, que estava tomando uma decisão difícil, mas que tinha certeza de que era isso mesmo. Disse até que não faria nenhum estardalhaço, agradeceu-me por todos esses anos e ficamos de acertar a guarda das crianças.
- Não acredito! E você aceitou tudo numa boa?
- Mas é claro, mulher corajosa! Não vê o favor que ela me fez? Decidiu por mim, aquela danada!Fiquei completamente livre de decisões, já não havia mais no que pensar, as dúvidas se foram!
- Não to entendendo, Juares... Tua mulher te largou por outro, e tu ainda ficou ai parado sem fazer nada?
- Ah, pois agora durmo bem melhor. Tudo fica mais fácil quando esgotam-se as opções.”

Conversa de marinheiro

"- Tudo parece me prender, me sentar e me dar comida que não quero na boca! Parece avó de coleguinha quando cisma que a gente não gostou da comida. Ai cria aquela tensão desnecessária na mesa de almoço porque o menino recusou. Não faço nem a digestão, de tão embrulhado que fica meu estômago. Que culpa tenho? Ah, perdi a fome...
- Calma, engole teu destino e dissolve tudo com um copinho de cerveja. Cadê aquela bela moça para te alisar os nervos, hein? Ouvi dizer que seus carinhos tiram qualquer ruga do cérebro...
- Não, não me venha com filosofia de bar agora, não quero belas moças com nomes bonitos para filhos que não quero ter! Não percebes? É exatamente isso, todos já vêm com uma história para contar em mim! Âncoras e mais âncoras, não é possível que a nenhum deles encante mais o barulho das ondas!
- Ah meu chapa, âncora todo mundo tem, a diferença tá no tamanho da corrente."

Ansiedade

É fácil sabe, tudo se resume a saber esperar os dias contados agora que a ciência provou que amor tem prazo de validade.

Pra sempre de sempre

Olhei para trás e vi tuas mãos acenando (meus cabelos reconheceram-nas pela suavidade do movimento) e pelo cheiro do teu hálito ouvi dizendo “Vai, tens minha permissão. Me deixa aqui e vai comigo.” E eu fui.
(Afinal, eram apenas mãos e o teu consentimento de sempre)
O velho pra sempre de sempre.

Acasualidades

Não foi culpa de ninguém.

Nos apaixonamos e a sorte nunca jogou a nosso favor. Descontentes dos caminhos traçados no dado roubamos do destino o máximo que pudemos. Um leve trapacear nas encruzilhadas da vida não parecia algo tão sério. Melhor sabes tu, atropelamos a ordem natural do universo, com todo desrespeito ao pai, filho e espírito santo e chegamos até onde pudemos na contramão das coisas certas, segurando cada parte das duas que se desintegrava à medida que éramos mais e mais e mais. Mas como contra o destino ninguém nunca pode, o fim tradicional bateu na porta do amor e numa corrida sem rumo (com intenções puramente existenciais e não de fuga propriamente dita) o fatalismo nos arrancou as asas, dilacerou-nos a tal ponto que não mais reconhecia a mim em tu e vice-versando, cambaleamos cada uma para sua sina solitária. Hoje, castigada com a eternidade dos dias, ando até onde me permitem os limites da conformidade e aceito agora, por pura falta de opção, essas palavras como sal e cura na ferida. Que posso mais?

Tudo é maldição, troco, enfim –

vingança celestial.

26.11.09

2009

Cada tapa, chute e murro que levei esse ano, levei com orgulho. Porque foi em mim, e não em quem queriam que eu fosse.

Coração

O coração é algo engraçado; tem dias que bate, outros lateja.

25.11.09

Vai saber...

Foi lá fora chorar quietinho. Voltou metade.
“Que molhado é esse nos teus olhos?”
“Foi chuva.”
Foi lá fora fumar um baseado. Voltou meio...
“Que vermelho é esse nos teus olhos?”
“Foi choro.”
Foi lá fora beijar a menina. Voltou e meio.
“Que rosado é esse nas tuas bochechas?”
“Foi sol.”

Vingança das ruas

Olha essa cidade, toda projetada para que tu sintas minha falta. Cada muro erguido para que possas ver apenas o suficiente para querer ver mais e cada rua projetada para chegar-me.
E o vento espalhando por aí segredos que aconteceram por aqui...

Coloco tuas iniciais na corrente

Acho lindo quem ama. O entrelaçar das mãos, o acorrentar das almas.
Foi o melhor castigo que já me propuseram...

Aborto espontâneo

Uma poeira melancólica ainda cobre o dia-a-dia, o cheiro de mofo do passado é perfume naquela camiseta que não sei mais usar.
O corpo já moldou-se a outro.
A foto ficou grande demais para o porta-retrato.
A caixa com tuas coisas ainda exala o aroma convidativo da saudade.
E eu fico aqui, numa encruzilhada, atropelada pelo passado, estuprada pelas possibilidades, tendo saudades do que nunca será.
Tenho um problema sério com o passado.
Ele
não
passa.

Recado


Eu acho que todo mundo tem algo a acrescentar sabe, elas só não se dão o trabalho.
Ou a coragem.

Tempo do sal

Parar de querer ler as entrelinhas, de procurar passado atrás das coisas de hoje. Atrás de você só tem sombra, e é só isso mesmo.
Saudade; pedras no estômago, ausência em preto e branco.
Pó.
Pó.
Pó.
Sal e só.

Desabafices


Definitivamente não sei brincar, sempre acerto no errado.

Saudade


Um leve descansaço, o silêncio de quem morreu em paz, de quem desabotoou-se do corpo e passarelou entre almas rumo ao que chamou em chamas.
Ah, que falta me faz o amor.
Que falta me fazes!

Bicho-de-sete-cabeças

Amor é bicho-de-sete-cabeças; uma que morde, uma que beija, uma que cospe, uma que queixa, uma que morre, outra que deixa.
Uma que desenlouqueça.

Deal or no deal

"Algodão doce na boca seca."
"Algodão seco na boca doce."
"Algodão doce na boca seca!"
"Algodão seco na boca doce!"
"Que tal um beijo e não se fala mais nisso?"

Pirose amorosa

O amor é periférico, perimétrico. Tão casquinha que despela no sol, que sai na chuva. Derrete-se no primeiro fogo de olho.
Ui, e queima...

Nasceu assim



Como vim parar aqui? Pelo cansaço sei que vim de longe.
Não lembro onde fui-me, tampouco quem estou.
Avante tem mais...
Vento, invento.

Metaminguando

Escrevo, paro. Um minuto de silêncio para quem partiu dessa pro papel.

***

Não sei, essa coisa que me tira a paz e me arrasta do sono a qualquer hora só para se desfazer em letras, palavras, barulho papelado. Enfim silêncio na minha cabeça.

***

O papel pede texto e eu peço calma, cama, amor. Me falta tudo menos linhas e na falta de tudo, papel.
Apelo.

20.11.09

Tédio


Não a sina dos desocupados, mas a opção dos preguiçosos.

19.11.09

Sinestesia


“Tas ai?”
“To sim. Tossindo. Não ouviu?”
“Vi sim, menos cores próxima vez!”
“É que com tantos sentidos, acabo esquecendo o que faz sentido!”

Despodidos

Não gosto quando me dizem “Você não pode!” porque eles não sabem se eu posso ou não e, quando souberem, já não poderão mais.

Sonsidade

Permita-se errar sem saber. Assim, chuta o pau da barraca e corre antes que a culpa chegue perguntando quem foi!

Uma nota só

Basta uma nota errada e ela cai no pranto. Porque ele desafinou, e não podia. Não podia ter desafinado depois de tanta respiração presa. Eu desafinei. Ou ele, ou ela. No final, não faz sentido. Faz amor.
Música, mistério.

Big bang de cada dia


A graça da vida está nas janelas invisíveis, nas portas escondidas; leques de possibilidades por trás do óbvio, camadas de realidade que adentramos e de repente, boom!, o mundo renasce diferente aos nossos olhos!

Escapou pela fechadura...

Sabendo tudo o que sei, tendo feito tudo o que fiz, me trancaria num quarto para sempre.
E ficaria do lado de fora, claro.

A menina

“Que abuso das pessoas, todas iguais, todas egoístas, procurando outras solidões para fazerem-se companhia!”

(Des)fazendo amor

Me explicaram o amor tantas vezes que já nem mais sinto, entendo. Portanto,
não amo.

17.11.09

Pombo correio

É triste me ver escrevendo. É triste quando me lêem e gostam. É triste para mim, claro. Discordo de que me acha inteligente, de quem me diz “Olha aí, você tem um dom!”. Isso não é um dom, isso é uma sina. Traduzir a tristeza para milhões, do mundo dos sentimentos para a frieza das palavras, sem deixar que as lágrimas molhem o papel, sem se deixar molhar por elas, sem perder nada e nem sair perdendo-se, é difícil. Dói lá dentro onde as palavras não curam, onde a caneta não chega. Admiro quem se traduz para a arte.
Mas, discordo também de quem vê nisso algum mérito, algum ato heróico. Não se iludam, quem o faz, faz por sobrevivência. Deus errou no recheio e acabamos com alma demais. Acabamos transbordando pela caneta, manchando folhas em branco com o que seria nós, se pudéssemos ser além. Eu não escrevo, eu cuspo, espirro. Eu defeco, eu amamento, eu beijo. Mas não, eu não escrevo. Escrever é para quem sabe brincar de palavras, é para os que carregam Aurélios na cabeça. Eu, que não sei nem o que quer dizer “síncope”, que vivo pedindo definições, eu não sei escrever. Não me condecore com títulos de nobreza quando sou apenas a tradutora, Caronte fazendo a travessia das almas, Xavier psicografando, pois afinal, de onde vem tantas palavras? Olha, não me leve a mal, não é modéstia, é um peso que tiro de mim, pois me olham como se eu fosse a mensagem quando sou apenas o pombo.
Uma vez escrito, bato asas à próxima imaginação.

Ausência

Um desespero de quem perdeu a vida, mas esqueceu de morrer. Aquele frio que percorre a memória, que congela a lembrança errada e repassa na cabeça e repassa e repassa e repassa o que já passou para o outro, mas não para a gente.
Porque todo mundo já leu um poema de amor e chorou um dia.

Fome!


Acho delicioso invejar a arte alheia, me dá uma felicidade mista saber que o mundo ainda tem cura.
Que fome de arte! Poderia comer um Picasso. E vice-versa.

Acerros

Nunca soube explicar o que dá errado quando as coisas certas dão errado. É um mistério que faz da vida um pouco menos óbvia e um pouco mais viva.
Sempre gostei das pessoas erradas, do sexo errado, na hora errada. E acho que tudo isso fez da minha vida um delicioso acerto.
Porque, sabe, no final, pode ter sido ela, pode ter sido eu, podemos ter sido nós. Nós que nunca desenlaçaram-se.

00:00


Numa noite como essa
Onde muito me vem à cabeça
E toda resistência
É em vão
Quando as palavras falham
E o coração espirra
Poderia viver de vinho
E solidão

A isca

Sabe, passo o dia passando por mim em espelhos, engasgando em mim nas coisas que falo, soando a mim, cheirando a mim, procurando-me fora. Ai chega a noite, ai chega o papel, e logo em seguida, um tanto tímida, chega eu.

Perdidanças

Já peguei muito caminho errado, entrei por becos macabros e atalhos longos e estradas coloridas e já cheguei muito perto de mim mesma nessas perdidanças.

Segredo

Eu não sei o que é, mas é alguma coisa que click! e pronto, eu sei que tá pronto, no ponto. Espanto.