26.11.09

2009

Cada tapa, chute e murro que levei esse ano, levei com orgulho. Porque foi em mim, e não em quem queriam que eu fosse.

Coração

O coração é algo engraçado; tem dias que bate, outros lateja.

25.11.09

Vai saber...

Foi lá fora chorar quietinho. Voltou metade.
“Que molhado é esse nos teus olhos?”
“Foi chuva.”
Foi lá fora fumar um baseado. Voltou meio...
“Que vermelho é esse nos teus olhos?”
“Foi choro.”
Foi lá fora beijar a menina. Voltou e meio.
“Que rosado é esse nas tuas bochechas?”
“Foi sol.”

Vingança das ruas

Olha essa cidade, toda projetada para que tu sintas minha falta. Cada muro erguido para que possas ver apenas o suficiente para querer ver mais e cada rua projetada para chegar-me.
E o vento espalhando por aí segredos que aconteceram por aqui...

Coloco tuas iniciais na corrente

Acho lindo quem ama. O entrelaçar das mãos, o acorrentar das almas.
Foi o melhor castigo que já me propuseram...

Aborto espontâneo

Uma poeira melancólica ainda cobre o dia-a-dia, o cheiro de mofo do passado é perfume naquela camiseta que não sei mais usar.
O corpo já moldou-se a outro.
A foto ficou grande demais para o porta-retrato.
A caixa com tuas coisas ainda exala o aroma convidativo da saudade.
E eu fico aqui, numa encruzilhada, atropelada pelo passado, estuprada pelas possibilidades, tendo saudades do que nunca será.
Tenho um problema sério com o passado.
Ele
não
passa.

Recado


Eu acho que todo mundo tem algo a acrescentar sabe, elas só não se dão o trabalho.
Ou a coragem.

Tempo do sal

Parar de querer ler as entrelinhas, de procurar passado atrás das coisas de hoje. Atrás de você só tem sombra, e é só isso mesmo.
Saudade; pedras no estômago, ausência em preto e branco.
Pó.
Pó.
Pó.
Sal e só.

Desabafices


Definitivamente não sei brincar, sempre acerto no errado.

Saudade


Um leve descansaço, o silêncio de quem morreu em paz, de quem desabotoou-se do corpo e passarelou entre almas rumo ao que chamou em chamas.
Ah, que falta me faz o amor.
Que falta me fazes!

Bicho-de-sete-cabeças

Amor é bicho-de-sete-cabeças; uma que morde, uma que beija, uma que cospe, uma que queixa, uma que morre, outra que deixa.
Uma que desenlouqueça.

Deal or no deal

"Algodão doce na boca seca."
"Algodão seco na boca doce."
"Algodão doce na boca seca!"
"Algodão seco na boca doce!"
"Que tal um beijo e não se fala mais nisso?"

Pirose amorosa

O amor é periférico, perimétrico. Tão casquinha que despela no sol, que sai na chuva. Derrete-se no primeiro fogo de olho.
Ui, e queima...

Nasceu assim



Como vim parar aqui? Pelo cansaço sei que vim de longe.
Não lembro onde fui-me, tampouco quem estou.
Avante tem mais...
Vento, invento.

Metaminguando

Escrevo, paro. Um minuto de silêncio para quem partiu dessa pro papel.

***

Não sei, essa coisa que me tira a paz e me arrasta do sono a qualquer hora só para se desfazer em letras, palavras, barulho papelado. Enfim silêncio na minha cabeça.

***

O papel pede texto e eu peço calma, cama, amor. Me falta tudo menos linhas e na falta de tudo, papel.
Apelo.

20.11.09

Tédio


Não a sina dos desocupados, mas a opção dos preguiçosos.

19.11.09

Sinestesia


“Tas ai?”
“To sim. Tossindo. Não ouviu?”
“Vi sim, menos cores próxima vez!”
“É que com tantos sentidos, acabo esquecendo o que faz sentido!”

Despodidos

Não gosto quando me dizem “Você não pode!” porque eles não sabem se eu posso ou não e, quando souberem, já não poderão mais.

Sonsidade

Permita-se errar sem saber. Assim, chuta o pau da barraca e corre antes que a culpa chegue perguntando quem foi!

Uma nota só

Basta uma nota errada e ela cai no pranto. Porque ele desafinou, e não podia. Não podia ter desafinado depois de tanta respiração presa. Eu desafinei. Ou ele, ou ela. No final, não faz sentido. Faz amor.
Música, mistério.

Big bang de cada dia


A graça da vida está nas janelas invisíveis, nas portas escondidas; leques de possibilidades por trás do óbvio, camadas de realidade que adentramos e de repente, boom!, o mundo renasce diferente aos nossos olhos!

Escapou pela fechadura...

Sabendo tudo o que sei, tendo feito tudo o que fiz, me trancaria num quarto para sempre.
E ficaria do lado de fora, claro.

A menina

“Que abuso das pessoas, todas iguais, todas egoístas, procurando outras solidões para fazerem-se companhia!”

(Des)fazendo amor

Me explicaram o amor tantas vezes que já nem mais sinto, entendo. Portanto,
não amo.

17.11.09

Pombo correio

É triste me ver escrevendo. É triste quando me lêem e gostam. É triste para mim, claro. Discordo de que me acha inteligente, de quem me diz “Olha aí, você tem um dom!”. Isso não é um dom, isso é uma sina. Traduzir a tristeza para milhões, do mundo dos sentimentos para a frieza das palavras, sem deixar que as lágrimas molhem o papel, sem se deixar molhar por elas, sem perder nada e nem sair perdendo-se, é difícil. Dói lá dentro onde as palavras não curam, onde a caneta não chega. Admiro quem se traduz para a arte.
Mas, discordo também de quem vê nisso algum mérito, algum ato heróico. Não se iludam, quem o faz, faz por sobrevivência. Deus errou no recheio e acabamos com alma demais. Acabamos transbordando pela caneta, manchando folhas em branco com o que seria nós, se pudéssemos ser além. Eu não escrevo, eu cuspo, espirro. Eu defeco, eu amamento, eu beijo. Mas não, eu não escrevo. Escrever é para quem sabe brincar de palavras, é para os que carregam Aurélios na cabeça. Eu, que não sei nem o que quer dizer “síncope”, que vivo pedindo definições, eu não sei escrever. Não me condecore com títulos de nobreza quando sou apenas a tradutora, Caronte fazendo a travessia das almas, Xavier psicografando, pois afinal, de onde vem tantas palavras? Olha, não me leve a mal, não é modéstia, é um peso que tiro de mim, pois me olham como se eu fosse a mensagem quando sou apenas o pombo.
Uma vez escrito, bato asas à próxima imaginação.

Ausência

Um desespero de quem perdeu a vida, mas esqueceu de morrer. Aquele frio que percorre a memória, que congela a lembrança errada e repassa na cabeça e repassa e repassa e repassa o que já passou para o outro, mas não para a gente.
Porque todo mundo já leu um poema de amor e chorou um dia.

Fome!


Acho delicioso invejar a arte alheia, me dá uma felicidade mista saber que o mundo ainda tem cura.
Que fome de arte! Poderia comer um Picasso. E vice-versa.

Acerros

Nunca soube explicar o que dá errado quando as coisas certas dão errado. É um mistério que faz da vida um pouco menos óbvia e um pouco mais viva.
Sempre gostei das pessoas erradas, do sexo errado, na hora errada. E acho que tudo isso fez da minha vida um delicioso acerto.
Porque, sabe, no final, pode ter sido ela, pode ter sido eu, podemos ter sido nós. Nós que nunca desenlaçaram-se.

00:00


Numa noite como essa
Onde muito me vem à cabeça
E toda resistência
É em vão
Quando as palavras falham
E o coração espirra
Poderia viver de vinho
E solidão

A isca

Sabe, passo o dia passando por mim em espelhos, engasgando em mim nas coisas que falo, soando a mim, cheirando a mim, procurando-me fora. Ai chega a noite, ai chega o papel, e logo em seguida, um tanto tímida, chega eu.

Perdidanças

Já peguei muito caminho errado, entrei por becos macabros e atalhos longos e estradas coloridas e já cheguei muito perto de mim mesma nessas perdidanças.

Segredo

Eu não sei o que é, mas é alguma coisa que click! e pronto, eu sei que tá pronto, no ponto. Espanto.