14.4.08

Oração do Pai Meu

Pai Meu, se estiveres no céu,
Santificada seja a mega-sena,
Venha logo o feriado, que não aguento mais
Satisfazer as vontades do meu chefe,
Tanto em casa, como no trabalho.
Da barbárie nossa de cada dia livrai-me hoje,
E protegei-me dos impostos,
Assim como proteges os cariocas das balas perdidas.
Não me deixais ser picado pela dengue
E salvai-me da febre amarela.
Amém.

13.4.08

Coisa de Menina

Minha menina 
que olhava pros dois lados
antes de atravessar a rua,
que segurava o vestido com a mãozinha
quando o vento soprava assanhado,
que brincou de boneca 
e gostou do rosa
e tinha vergonha daquelas coisas
que faziam uma cosquinha esquisita nela
quando as pessoas se beijavam na TV,
que ensaiou cantiga de ninar
e disse que ia ser bailarina
quando fosse mais alta do que a marca 
que barrava as crianças no parque de diversões.
a menina que chorava na vacina
e amava os bichinhos,
que vestia a roupa de cima da cama
que mamãe acordava cedo
pra separar,
a menina do cabelinho
cortado na altura do brinco de borboleta
que ela perdeu ensaiando pulos
na praia,
aquela minha menina que me escapuliu,
que foi passear e nunca mais voltou,
que não mandou noticias pras bonecas,
minha menininha que furou o umbigo
e achou bonito tanta coisa estranha
que a minha menina teria achado horrível
se ela tivesse ao menos visto.
seria tão bom
se minhas meninas pudessem, ao menos,
se encontrar com mais freqüência,
fora dos porta-retratos.