31.5.17

no futuro eu vou ler isso aqui com outros olhos, olhos que saberão, lá na frente, o que essa crise veio para dizer.
a minha realidade tem sido diluída em doses cavalares de sedação induzida, está difícil lembrar das palavras, está difícil dizer, é quase como se não fosse eu exceto que sou eu
desculpe, estamos mudos.
nao somente mudos mas também cansados
de catar palavras que somem,
tendo que ler à noite a realidade que não quer dizer

de olho fechado eu vejo mais,
por esse funil passa só o que pode
as maos que o seguram nunca são vistas.


o sono posterga a realidade, às vezes com o próprio conteúdo aterrorizante das horas vígeis,
tempo póstumo

a análise dos sonhos às vezes é tudo que tem de norte.

traduções

o tradutor do silêncio senta e me encara, ele tem os olhos brancos revirados, as mãos sob as pernas cruzadas, ele não me vê e nada me diz.

ele pisca quando mexo a mão, os olhos revirados para dentro dele parece que na verdade estão virados para dentro de mim,
ele vê tudo que há dentro, um rosto gigante que me observa dormir.

o homem deve falar somente e tão somente quando algo ver,
por isso ele nada diz.

o sono de bruno

"a solidão é um rosto gigante que me observa dormir"
seriam os excessos?

de maconha
de ansiolíticos
de hipnóticos

ou a falta?


casa

é preciso dizer que se esteja dentro para dizer que se vive?

entenda: viver é uma casa com dentro e fora,






temos uma pele também, duas janelas,
um gerador de energia - não desliga nunca -


a quem eu quero convencer que a aqui mora alguém?




chuva

não consigo lembrar da última coisa que aconteceu,
nem por que ela aconteceu,

a felicidade está em pequenos potes de vidro,
aguardando em comprimidos
retraída, engolida,
com tempo de meia vida

nada está aqui
nada aconteceu
qual será sua próxima tatuagem?

enfio meu dedo em um buraco na janela porque vazios me incomodam.

28.5.17

é preciso que eu ame pare que eu escreva. ame a desfunçao, o caos, as trincheiras, teus olhos, a maresia e o sabor do cigarro aceso na boca.

e eu não tenho amado nada disso. não, eu tenho não amado tanto, tudo guardado e incumbido em pequenos potes de vidro com tampas herméticas, 
você é a minha menina emburrada pq teve que esperar a mãe a noite toda e de hora em hora ela vinha e não vinha, sempre quase, sempre nunca, até as 7h da manhã quando vc podia deitar cansada e segura, esperando só a próxima noite e o que tiraria de vc novamente, a menina embirrada. 
eu te amo, você é burra?
você é cega? qual é o seu problema?
me diga.

você é burra que não me escuta ranger os dentes de raiva, de amor, de raiva, ranger até que o isso vire pó e esse vai ser o pó da ambivalência, meus dentes rasgados até a serragem.



eu devo contar dos sonhos que tenho, as senhas para o inconsciente, eu devo dormir em seguida, eu devo fechar os olhos e dormir, eu devo ignorar as mensagens psicosadicas e monotemáticas, eu devo. 





eu duvi passar uns dois parágrafos bem e agradecer por ter tido tudo que devo, né esse o pode da posse? o presságio do que perderás, apenas tudo que tens, devo tudo que temo.



não deu dessa vez. só uma frase mesmo.

24.5.17

sonhos

vários sonhos e as lembranças são confusas, talvez um se inserindo no outro de forma irreal. 
em um dos sonhos, o que eu vagava pelo labirintos de saunas (que na verdade era um mar aberto sem fim), com apenas o olho esquerdo funcionando (o meu óculos estava sem a lente do lado direito, quase um monóculo, e eu demorava para entender isso e tapar o olho direito), procurava um lugar para me masturbar e eu tinha muita, muita necessidade (não era bem tesao senão uma pura necessidade obsessiva de precisar gozar).
lembro que no próprio sonho eu analisava esse sonho, talvez com Lena, não sei, mas eu analisava o fato de que minha visão parcial simbolizava a forma como eu via apenas o meu lado da história, muitas vezes ficando cega para a realidade como um todo ou sendo absorvida para a cegueira de uma parcialidade hiperreativa. associava isso ao meu relacionamento tanto materno quanto amoroso (mamãe, luiza).

havia um homem que falava bastante, ele gritava entre ondas enormes enquanto eu só queria voltar para o paredão que continha as entradas para inúmeras saunas. lembro que eu queria sempre ir para q sauna três, achando que lá era um ambiente só para mulheres, mas ficava decepcionada quando via que a sauna três era mais uma sauna mista.

em algum ponto, Neide me ajudava.
em algum ponto, o homem que gritava entre as ondas fazia sentido e eu entendia sua voz e percebia que ele era, na verdade, uma mulher. isso me reconfortava.

(sempre a urgência para me masturbar)

em outro sonho, eu me masturbava muito, não lembro mais o contexto do sonho, não lembro das pessoas que participavam nem onde ele acontecia, mas lembro que me masturbava com meu vibrador (em algum momento eu tive que pega-lo do esconderijo com cuidado pois meu irmão estava dormindo no mesmo quarto) e não conseguia gozar. 


me masturbava também com minhas mãos, com as mãos de luiza (que já estavam cansadas), com o vibrador (que parecia ser muito pouco para preencher minha vagina), e nada era suficiente para me satisfazer. 

8.5.17

amor proprio

burra e monotemática,
os ossos mal vestindo a pele
tão medíocre caber em si

acon
tecemos
de grandes expectativas
empu
tecemos
os telespectadores 
em algum dia longíquo 
o extraordinário apodrece 

esperando quem nunca seremos