28.10.17

as memórias chegam molhadas e quase vivas
de novo

10.9.17

and what is it you looking for?

any unbruised bright shiny free love.

26.6.17

you are shark bait
a drop of blood and I'm the sea
And love, oh love is a hungry tiger
That can't swim 

home was never a place
just a face to fear


25.6.17

left behind

whatever you say
just sounds like something that we used to feel
what is love? what is creation?
i cannot despise myself
because I no longer care
I was always so good at being the victim
Waiting for your plot like a lapdog
Strolling around just to see what is
That I never wanted to miss a breath you took

Needless to complain
It's your fault that I'm doomed
Because if there wasn't you than there would not be me
And I would hang around waiting
Or hang myself

bees

needless to say
I should know more by now
than just to taste the honey for the sting


run to the sea

tanta gente que não sabe cuidar,
tanta gente que não deixa ser amado,
tanta gente que só quer alguém
para apontar o dedo sujo da própria doença
como se fosse bonito quebrar o sorriso

não é justo, meu bem, você sempre disse com tanta certeza
embora fosse errado o que você dizia
sobre a dor de quem carrega na caixa torácica
essa loucura que é sentir demais

corri até o rio e ele queimava vermelho
então corri até o mar que me abraçou e disse
tudo que é imenso tem o seu mistério
mas nem eu posso preencher esse teu peito sedento
que tantas histórias já engoliu
da superfície até o fundo, você foi junto em cada descida
voltava sempre só, perdia sempre uma vida
e era sempre a tua

feelings come, feelings go

eu passo por você como um sopro frio que te faz levantar a gola da camisa e seguir em frente pois o futuro é logo ali na esquina atras de dois tragos de um camel azul
o futuro é sempre uma pequena derrota que cantaremos com vozes roucas,
os dias fogem à galope descompensados
eu tenho tanto medo de te perder e eu tenho tanto medo de você,
e eu te amo do meu jeito explosivo que ninguém procura entender
mas que buscam sempre nas noites de frio



parece sono mas é só tristeza,
a mesma que escorre dos rios para o mar e ninguém segura
eu sinto tanta falta das coisas que nunca tive
como uma casa na praia e o teu amor


meu bem, roda a chave mais uma vez
você não dorme com medo com medo do escuro
e eu não durmo com medo de você

são as janelas que assistimos que falam demais da violência
e pouco do amor
sem perceber que a diferença é quase nada

meu bem, todo mal que fizemos logo, logo vai passar
será lembrado como um gosto doce no fim do engasgo,
no meio da ilha,
a lembrança do que foi é sempre mais bonita
do que os barcos que naufragamos 

19.6.17

o que é justo


Quando penso no que é justo, imagino uma roupa apertada que me dificulta o movimento. Me vem à mente uma ruela estreita, quase uma brecha, pela qual preciso passar. Penso no amor, esse pequeno fiapo de arame que me talha o peito e delimita minha respiração a pequenos suspiros.

(E você me disse que nada disso era justo comigo.)

Quando penso no que é justo, percebo que sinto-me claustrofóbica. O justo, em termos de justiça, do honesto, sei que a muito pouco do que existe se aplica. Já a angústia, o aperto, a mão invisível, esses me colam a pele com tamanha precisão que sim, me encurralam com o mais tangível dos sinônimos: é mais do que justo, é justaposto.

(Então o ciclo girassol, passatempo, maltratar, pontapé - culminando em mais uma tentativa frustrada de separar cirurgicamente o que é de cada um.)

Estamos diante do impasse de nossas interpretações do que é justo, meu amor. Ou seria mais justo dizer que estamos diante do impasse de nossas interpretações do amor?
Pesquise então o que é justaposição, e aí talvez tenhamos uma trégua:
Para você, a circunstância irremediável em que duas coisas estão unidas de maneira que nada as separem (nada, meu bem, nem mesmo o que deixamos de ser para que pudéssemos assumir essa posição).
Pra mim; a forma como os corpos inorgânicos humildemente acumulam suas camadas de erros.

5.6.17

sorriremos diante das incertezas, sabendo no fundo que certeza há sempre: tudo será varrido pelo tempo.
o tempo lambe as feridas com a dedicação de um cão amigo, passa sua língua estéril nas mais podres mágoas,
lambe lambe
e vai embora passando feito velhos cinicos 
só mais uma, eu digo para mim mesma, só mais um cigarro e tudo isso evaporará tambem
meu peito, esse caixao de coisa viva é quase cama, não fosse todo presságio que denuncia.
o silêncio disseca o tempo em camadas e camadas de irreparáveis dias, em brutos rompantes do mais puro e absoluto nada, uma gaveta gigante e vazia que nos guarda como relicários num templo visitado apenas pelos olhos,
dizei uma só palavra e serei alvo

4.6.17

life is a museum of unnatural disasters and our bodies stand as objects and appreciators.
não há mensagem nem presságio de mensagens, não há costela, nem Adão, nem Eva.

a solidão é um tapete encharcado de água enquanto tudo ao redor arde em chamas azuis,


o meu corpo não reage, não de levanta, apenas se cobre nesse manto líquido, deitado,
as mãos nervosas passeiam sem qualquer reflexo por onde passam,
no rio sexo entre as coxas não há faísca nem a ideia de uma faísca,


os olhos queimam de insônia.

31.5.17

no futuro eu vou ler isso aqui com outros olhos, olhos que saberão, lá na frente, o que essa crise veio para dizer.
a minha realidade tem sido diluída em doses cavalares de sedação induzida, está difícil lembrar das palavras, está difícil dizer, é quase como se não fosse eu exceto que sou eu
desculpe, estamos mudos.
nao somente mudos mas também cansados
de catar palavras que somem,
tendo que ler à noite a realidade que não quer dizer

de olho fechado eu vejo mais,
por esse funil passa só o que pode
as maos que o seguram nunca são vistas.


o sono posterga a realidade, às vezes com o próprio conteúdo aterrorizante das horas vígeis,
tempo póstumo

a análise dos sonhos às vezes é tudo que tem de norte.

traduções

o tradutor do silêncio senta e me encara, ele tem os olhos brancos revirados, as mãos sob as pernas cruzadas, ele não me vê e nada me diz.

ele pisca quando mexo a mão, os olhos revirados para dentro dele parece que na verdade estão virados para dentro de mim,
ele vê tudo que há dentro, um rosto gigante que me observa dormir.

o homem deve falar somente e tão somente quando algo ver,
por isso ele nada diz.

o sono de bruno

"a solidão é um rosto gigante que me observa dormir"
seriam os excessos?

de maconha
de ansiolíticos
de hipnóticos

ou a falta?


casa

é preciso dizer que se esteja dentro para dizer que se vive?

entenda: viver é uma casa com dentro e fora,






temos uma pele também, duas janelas,
um gerador de energia - não desliga nunca -


a quem eu quero convencer que a aqui mora alguém?




chuva

não consigo lembrar da última coisa que aconteceu,
nem por que ela aconteceu,

a felicidade está em pequenos potes de vidro,
aguardando em comprimidos
retraída, engolida,
com tempo de meia vida

nada está aqui
nada aconteceu
qual será sua próxima tatuagem?

enfio meu dedo em um buraco na janela porque vazios me incomodam.

28.5.17

é preciso que eu ame pare que eu escreva. ame a desfunçao, o caos, as trincheiras, teus olhos, a maresia e o sabor do cigarro aceso na boca.

e eu não tenho amado nada disso. não, eu tenho não amado tanto, tudo guardado e incumbido em pequenos potes de vidro com tampas herméticas, 
você é a minha menina emburrada pq teve que esperar a mãe a noite toda e de hora em hora ela vinha e não vinha, sempre quase, sempre nunca, até as 7h da manhã quando vc podia deitar cansada e segura, esperando só a próxima noite e o que tiraria de vc novamente, a menina embirrada. 
eu te amo, você é burra?
você é cega? qual é o seu problema?
me diga.

você é burra que não me escuta ranger os dentes de raiva, de amor, de raiva, ranger até que o isso vire pó e esse vai ser o pó da ambivalência, meus dentes rasgados até a serragem.



eu devo contar dos sonhos que tenho, as senhas para o inconsciente, eu devo dormir em seguida, eu devo fechar os olhos e dormir, eu devo ignorar as mensagens psicosadicas e monotemáticas, eu devo. 





eu duvi passar uns dois parágrafos bem e agradecer por ter tido tudo que devo, né esse o pode da posse? o presságio do que perderás, apenas tudo que tens, devo tudo que temo.



não deu dessa vez. só uma frase mesmo.

24.5.17

sonhos

vários sonhos e as lembranças são confusas, talvez um se inserindo no outro de forma irreal. 
em um dos sonhos, o que eu vagava pelo labirintos de saunas (que na verdade era um mar aberto sem fim), com apenas o olho esquerdo funcionando (o meu óculos estava sem a lente do lado direito, quase um monóculo, e eu demorava para entender isso e tapar o olho direito), procurava um lugar para me masturbar e eu tinha muita, muita necessidade (não era bem tesao senão uma pura necessidade obsessiva de precisar gozar).
lembro que no próprio sonho eu analisava esse sonho, talvez com Lena, não sei, mas eu analisava o fato de que minha visão parcial simbolizava a forma como eu via apenas o meu lado da história, muitas vezes ficando cega para a realidade como um todo ou sendo absorvida para a cegueira de uma parcialidade hiperreativa. associava isso ao meu relacionamento tanto materno quanto amoroso (mamãe, luiza).

havia um homem que falava bastante, ele gritava entre ondas enormes enquanto eu só queria voltar para o paredão que continha as entradas para inúmeras saunas. lembro que eu queria sempre ir para q sauna três, achando que lá era um ambiente só para mulheres, mas ficava decepcionada quando via que a sauna três era mais uma sauna mista.

em algum ponto, Neide me ajudava.
em algum ponto, o homem que gritava entre as ondas fazia sentido e eu entendia sua voz e percebia que ele era, na verdade, uma mulher. isso me reconfortava.

(sempre a urgência para me masturbar)

em outro sonho, eu me masturbava muito, não lembro mais o contexto do sonho, não lembro das pessoas que participavam nem onde ele acontecia, mas lembro que me masturbava com meu vibrador (em algum momento eu tive que pega-lo do esconderijo com cuidado pois meu irmão estava dormindo no mesmo quarto) e não conseguia gozar. 


me masturbava também com minhas mãos, com as mãos de luiza (que já estavam cansadas), com o vibrador (que parecia ser muito pouco para preencher minha vagina), e nada era suficiente para me satisfazer. 

8.5.17

amor proprio

burra e monotemática,
os ossos mal vestindo a pele
tão medíocre caber em si

acon
tecemos
de grandes expectativas
empu
tecemos
os telespectadores 
em algum dia longíquo 
o extraordinário apodrece 

esperando quem nunca seremos

16.4.17

tecer

Tecemos as noites de retalhos tão pequenos
Tecemos acordados ou dormindo com a respiração incansável
Acon
Tecemos os dias,
Todos os nossos e os alheios e os que jamais veremos,
Nessa noite de hoje,
Tao insignificante e necessária

Assim somos, cascas amassadas,
Sucos fluindo das agulhas metálicas
Empu
tecendo a trama da vida

Se eu cair, eu volto logo.

15.4.17

deixe-me passar

À multidão que é um rosto só,
Pelas cascas e cernes da modernidade
Sou uma mordida na sua tela
Que não transpirar os poros quebrados
O plasma distraído, acorda!
Deixe-me passar
Estou me curando

Pela solidão radioativa
Encharca a gente de cansaço
E assédios diários no corpo da mulher
Entre os espelhos histéricos
Dando rosto ao meu grito
Ao meu semblante indignado
Deixe-me passar
Está pesando

Entre os recifes da cidade,
Escorrem medos, caos e carne,
E eu levando contra a correnteza
Uma fatia de bolo
Do aniversário do futuro
Que plantei para espantar os furos
No concreto de quem

Quer passar também 

deixe-me passar

À multidão que é um rosto só,
Pelas cascas e cernes da natureza
Transpirar os poros quebrados
Deixe-me passar
Estou me curando

Através do tempo a conta-gotas,
Pela solidão radioativa
Entre os espelhos histéricos,
Deixe-me passar
Está pesando muito

Entre os recifes da cidade,
De medos, caos e carne,
Estou levando uma fatia de bolo
Do aniversário do futuro
Que plantei para espantar 
Os furos no concreto de quem

Quer passar também 

3.4.17

solidão

jantávamos sempre juntos, hoje a comida sobra na panela debochando da solidão.

num jantar de pazes, quem traz a fome?

casa

já mudamos o endereço e ele nos acha, como uma mulher desesperada procurando uma menina.
revistamos as bagagens de roupas dobradas e malas de vinte e sete chaves, ele nos acha.

a mala, a mulher, a menina e o medo: eu esqueci de tirá-los do couro.

então eu lembro mais uma vez

que eu não vi (e aconteceu exatamente por isso).

1o de abril

o dia da mentira, o dia que me tira a sanidade.

mentira
me tira
daqui.

pai

cada momento é uma semente que se planta na minha memória e brota três noites depois, quando todo resto já passou, todo o resto exceto pela imagem das tuas mãos pressionando a garganta que me ensinou a falar, chacoalhando o seio do meu primeiro alimento.

por que me prende tanto o que eu não vi? se eu estivesse presente, teria evitado?
pai, tuas mãos já me bateram tanto, mas é a violência do estranho evitável que me agride. e se eu estivesse lá, aqui?

é quando olho ao redor e todos parecem ninguém, pois é exatamente para ninguém que se conta o que não aconteceu. mas aconteceu, bem aqui onde eu durmo, bem naquela que foi minha cama por nove meses ansiosos.

a violência não assusta mais, eu também já fui mão; só não diga inevitável.

tuas palmas ecoam na minha lembrança o som de "pai, pai, pai" contra a minha mãe.

1

a dor não dói -
ela acorda, uiva rouca ao meio dia,
desorienta,
toma um copo d'agua como se fosse remédio
para acalmar o que não é e o que não deixa de ser.


a dor é mais uma falta -
de dor mesmo? -
que invoca a cárie, a artrite, a lembrança,
e essas, essas sabem ferir
a carne já amaciada
pela insistência letal
dos dias convalescentes.


é sempre quase e sempre nunca conveniente,
essa mágoa que não desatina num finalmente
apenas corrói o estômago
já tão revestido de papel de parede, insônia e
tinta azul marinho.

27.3.17

descobrimento das coisas banais

descobri que tuas mãos tremiam pois nelas haviam fios atados, transparentes, segurando marionetes de gente. teu tremor era uma dança dos meus pés cansados. agora eu entendo, posso dizer.
agora eu enxergo. agora eu sou livre.

cruzei os dedos numa promessa e numa tesoura que cortava qualquer verdade do que eu disse antes; nada é garantia de nada, promessas são compromissos procrastinatórios, palavras vencidas no próprio hálito da boca.

tuas mãos e as minhas, tão necessárias. 

do dia

Nada fornece qualquer garantia a ninguém. Existimos em suspensão. Há muitas maneira de respirar e deixar de respirar. Temos os nossos ritmos. É preciso viver e morrer com eles.

24.3.17

a carne dos dias

As horas não estão como estão para mim.
O tempo são cédulas vencidas. Quando se descobre o porquê, troca-se a pergunta e a moeda local. 
O que motiva esse mercador a sair todos os dias e lustrar meus ossos,
Varrer minhas veias
Não é pela renda que lhe pesa os bolsos dos olhos ao final do dia
Mas pela inadiável redenção de todas as coisas
À sua vassoura palpitante.

23.3.17

trêmulo caule

Espiar a vida por uma janela; já estar nela.
Aquela dor que há tempos agia; hemorragia.
Eu não procuro mais entender o quanto de mim se deve ao esquecimento, às invasões transgressoras: apenas me ajude a atravessar essa noite.
Sou um andaime suspenso por dois pássaros cansados; andai-me longe, andai-me dentro, nunca param teus pés em minha memória.
Quando sinto medo, é no tremor das tuas mãos que penso. Tudo treme, meu amor. As árvores, todas elas, beijaram a terra não importa o quão distantes sejam suas copas. Penso no dia em que beijarei para sempre um algo, e esse será de que?

20.3.17

O amor nunca é amor quando é novo, puro e limpo,
De dentes brancos arredondados
Antes dos olhos vermelhos
Os pulsos roxos
Sorrisos reféns

O amor antes da tempestade é uma lei, obrigação ilusória que pega pela mão e atravessa
E tudo o que durar depois da mordida e do sopro e destruição íntima,
Intestinos rasgados
Juntas inchadas
Desespero, desespero,
Depois das coisas que você jurou que nunca faria -
E somente após -
Essa, minha rainha, é a escolha que merece a coroa
E tudo antes é o comprimido para dormir antes da cirurgia,

Nunca flores na sala de recuperação.

O amor nunca é amor quando é novo, puro e limpo,
De dentes brancos arredondados
Antes dos olhos vermelhos
Os pulsos roxos
Sorrisos reféns

O amor antes da tempestade é uma lei, obrigação ilusória que pega pela mão e atravessa
E tudo o que durar depois da mordida e do sopro e destruição íntima,
Intestinos rasgados
Juntas inchadas
Desespero, desespero,
Depois das coisas que você jurou que nunca faria -
E somente após -
Essa, minha rainha, é a escolha que merece a coroa
E tudo antes é o comprimido para dormir antes da cirurgia,

Nunca flores na sala de recuperação.

conheço profissões que nunca me ocorreram pela cabeça:
designer de transportes?

as coisas simplesmente não são.

as coisas poderiam simplesmente ser, mas não são.
são tantas as intrigantes funções que meu corpo religiosamente exerce a cada instante, inclusive os instantes ocos automáticos - respirar enquanto durmo, transpirar enquanto estou tentando - 

tempo

tempo, meu caro - e assim te chamo pois me custas muito, não por afeto - o quanto te devo em dias debaixo desse sol que tanto já viu nascer e perecer, sou apenas mais um grão na tua ampulheta, mais uma alma de muletas que se escora nos teus ponteiros e te estende um tapete pedindo, por favor, passe logo.

um terço de mim é você, pois as outras duas partes já passaram ou estão por vir, e juntos, nos três, somos esse ponto no meio do destino que se cruza cada dia em uma esquina diferente, olhando a mesma sombra que se dobra e alonga conforme os astros nos regem. tempo faminto, viúvo, órfão, mãe de chocadeira.

18.3.17

engenho de dentro

As entrelinhas
como convencer o tempo de que já passou?
inumeráveis palavras criadas para descrever, categorizar, contar o que o perecível tem a dizer, contar a história de tudo já existiu debaixo do sol,
fazê-lo entender que é ele o dado desse jogo, e que nem eu, nem ele, temos controle algum sobre o que virá
pois as mãos são sempre ásperas e as apostas altas

7.3.17

Admirável sombra, cumprida em seu eixo que gira conforme o sol adentra o horizonte, sem deixar um traço no chão, nem uma cicatriz na calçada para que lembre o local exato onde pousou. Depois de amanhã, novamente. Interrompida pela passagem dos faróis brancos que chegam e vermelhos, que partem.

A história aqui é outra, a história é sobre o que não estava ali todos os dias. Sobre o cão irracional que pisou no cimento molhado e deixou para trás um adeus na calçada.

A história aqui é sobre o vento que desfez teu penteado quando querias apenas se sentir segura.

6.3.17

LUIZA


Cambaleando passa ao meu lado com olhos de águia

As expressões são as mesmas porém os copos são diferentes

E essa alegria? Você se olhou no espelho hoje? Era você mesmo ou era só uma máscara grudada na sua cara? Você sentiu que era o outro? Você sabe quem é o outro? Há quanto tempo vive nesse silêncio confuso que somente te traz uma paz mentirosa nessa vida com cheiro de ralo? Fede. Socorro, eu não sei quem eu sou. Os sorrisos ralam nos seus rostos de porcelana.

Bruno

o  sono rançoso preso entre os dentes
o cardume ansioso de pássaros 
que mergulharam no céu de Bruno
e dormiram no ninho de conchas 
pérolas das tuas dores

se está preto é porque te vi de perto
e me reconheci 
nos teus dedos de todas as cores 
presos ao papel
por esse arame farpado que nos talha o peito.

bloodbuzz

i never thought about love when i thought about home

2.3.17

you think flying is hard?

try landing

desague

há sempre uma artéria que corre pro mar
e outra pra memória 

zona de trégua #3

viver é bombardear os pulmões de ar, inevitavelmente 

zona de trégua #2

inquietude de fios de sangue entre as unhas

zona de trégua #1

mapa perdido,
acorda a cárie, acorda a artrite
a solidão é um rosto gigante que chantageia meu sono

1.3.17

às vezes me invade o estranho

estou cansada da minha pele, do meu reflexo, de minhas pupilas grandes e escuras,
abrem e fecham conforme a luz,
mas nada muda no que vejo

21.2.17

one out of four

Took one pill out of the four prescripted, the one that took away my libido and my hunger, my hunger for thrill.

signs along the way

I sometimes wish I hadnt encountered any restriction towards me being myself, not by my family, not by society, not by the restraints of my bra on my chest, or the pills numbing my brain, nothing, just a clear road ahead of me. And, a few, few times, I have thanked every single restriction along the way because I somehow felt that road was taking me to a younger grave.

19.2.17

gabri(ela)

sou uma cidade construída sob as montanhas, com dois rios que me correm, e depois pequenos riachos de ruas sem saídas;
as outras, mulheres, meninas, cidades autodestruidas e reerguidas, me parecem sempre tão mais fáceis, tão mais planas, habitadas;
e todo muro em que dois meninos se beijem, deitados na vertical da vida, tão jovens e descontrangidos,
qualquer muro que não sirva de cama aos que amam em pé,
por favor, saia.