23.6.14

mais uma ideia do chuveiro que ficou melhor na minha cabeça

não há como explicar a partida, de tão súbita que chega, ou que vai. mas há o medo que cerca o momento, como uma inútil fumaça que paira sobre a chama do inacontecido. 

não tenho medo da solidão dos outros, temo apenas a minha, de acordar de manhã e não estar lá. olhar-me nos inúmeros reflexos que se apresentam no dia, nos reflexos das espelharias, das vidraças das casas, sem intenção de ver o que exibe, apenas para perceber que lá não está mais: um susto. então, neste exato momento, sinto-me inabitável e, logo, sou tomada por uma legião de sensações que cercavam esse momento, aguardando o ultimo bater dos olhos que antecederia o primeiro olhar vazio. perco-me tão distante que sinto meus braços mais longos, delírio que meu corpo se estendeu, de que alongaram minha pernas, aumentado o tempo necessário entre estica-las e tocar o chão, ou quando os dedos lá na frente dos olhos, meu olhar poderia estar cruzando dois continentes entre eles, até minha mão lá no final, meus dedos tão além, atiçados de palavras. escrevem um cartão postal me lembrando das obrigações de amanha, mas o tempo que demorará para chegar até minhas verdadeiras mais, eu não sei, pode ser meses ou anos. enquanto o estômago se definha, a luz dos vasos se estreita e o calibre da traqueia diminui, diminui, diminui, chegando o ponto onde o ar passa rasgando, possesso de raiva, e eu cheia de farpas. ai, as farpas do carinho, eu me lembro bem: foi numa dessas que me perdi e não soube voltar. 

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