19.6.17

o que é justo


Quando penso no que é justo, imagino uma roupa apertada que me dificulta o movimento. Me vem à mente uma ruela estreita, quase uma brecha, pela qual preciso passar. Penso no amor, esse pequeno fiapo de arame que me talha o peito e delimita minha respiração a pequenos suspiros.

(E você me disse que nada disso era justo comigo.)

Quando penso no que é justo, percebo que sinto-me claustrofóbica. O justo, em termos de justiça, do honesto, sei que a muito pouco do que existe se aplica. Já a angústia, o aperto, a mão invisível, esses me colam a pele com tamanha precisão que sim, me encurralam com o mais tangível dos sinônimos: é mais do que justo, é justaposto.

(Então o ciclo girassol, passatempo, maltratar, pontapé - culminando em mais uma tentativa frustrada de separar cirurgicamente o que é de cada um.)

Estamos diante do impasse de nossas interpretações do que é justo, meu amor. Ou seria mais justo dizer que estamos diante do impasse de nossas interpretações do amor?
Pesquise então o que é justaposição, e aí talvez tenhamos uma trégua:
Para você, a circunstância irremediável em que duas coisas estão unidas de maneira que nada as separem (nada, meu bem, nem mesmo o que deixamos de ser para que pudéssemos assumir essa posição).
Pra mim; a forma como os corpos inorgânicos humildemente acumulam suas camadas de erros.

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