21.5.14

flores

como que ao acaso, surgiram novas flores bem ali naquele pedaço de quintal que eu nunca ia, talvez pela falta de sombra, talvez pela distância das outras ilhas verdes ao redor; talvez sempre estivessem ali, mas a falta de olhar nunca lhes deu existência. aproximei-me quieta, como se um barulho qualquer fosse assusta-las, fechando suas pétalas e fazendo-as partir. mas não, eram flores, não iam a lugar nenhum a não ser à morte, um dia. deve ser bonito demais viver flor e morrer flor. encolhi os joelhos e agachei-me ainda mais perto, dessa vez prendendo a respiração. mas por que tinha tanto medo de assusta-las? nunca me fizeram falta até então; foi a partir do momento que me dei conta de sua existência que surgiu em mim aquele medo de perdê-las. imagine, perder algo que não passava de uma flor num canto inabitado de um jardim com tantas outras, algumas mais bonitas até, algumas mais simples de cuidar. eram minhas porque agora eu era delas. eram minhas porque meu olhar lhes deu a existência, porque antes morreriam inapercebidas. não.
existiam apesar de mim, viveram ali deus sabe quanto tempo, e eu na casa ao lado, me julgando independente, elas crescendo com chuva e sol, e eu na casa ao lado, logo ali pertinho, me julgando tudo saber, sem saber delas ao menos. então foi isso; eram vivas, não importa o que me acontecesse, seriam vivas e mortas, independente de mim. mas eu, agora dependente delas, não poderia mais viver um so dia sem vê-las; dedicaria tempo e água e carinho, como se houvesse sido descoberta pela primeira vez por olhos que nem sequer viam. meu apego cresceu como se houvesse sido gerada de flor também, como se agora em mim existisse uma água morna molhando uma vida oculta. antes delas, eu apenas existia, com a latencia de uma semente de girassol; agora broto por todos os poros.

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