18.2.15

sobre o sobrinho do homem

você está deitada na cama de um menino que não tem nada demais, ele é um homem na verdade, tem idade para ser homem, tem barba feita e completa, mas ele é um menino pelo jeito que sorri sem seriedade, pela ausência de responsabilidade, pelos gestos impulsivos da mão ao te envolver numa história, e pelo jeito que brinca, especialmente com os músculos do teu peito 
e tem um
balde embaixo do ar-condicionado que enche a conta gotas, uma atrás da outra a água pinga em ritmo inconstante, o produto final do frio seco que se instala, agonizante tortura no canto do quarto que conta aos poucos a história do teu peito, do sangue que vaza a conta gotas para um terceiro espaço ali no fundo da garganta, da tradução do frio que agora escorre pelos teus pés gelados, teus pés que não pousam, tudo desde que o menino anunciou sua presença dentro daquele homem.

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