12.3.20

ilusão - val

coqueiros milimetricamente enfileirados, são assim desde que me lembro de uma janela de carro passeando ao largo da praia, num jogo de agora-vejo-agora-não, o mundo passa na velocidade do seu acelerador, eu encolhida no calor do seu banco de couro e lá no horizonte um azul acolhedor que parece dominar todo o fundo dos olhos. a terra virou o céu? é normal me sentir tão feliz ao ponto de querer criar uma entidade divina à qual possa agradecer por isso? 
olho para o outro lado e vejo você rodando o volante, o reflexo que eu daria ao rosto da divindade que me agracia. 
“obrigada”, repito só para mim. 
depois repenso, “mas nada me faz sentir-me obrigada, pelo contrário, é tudo voluntário, foi tudo voluntário; você dentro de mim, você fora de mim, você em cima de mim, você do meu lado, você querendo ser eu, você preenchendo o lugar vazio do outro que há muito tempo estava vazio por medo.”
então eu rio aliviada. não como eu ria, não aquele riso de quem sabe de que tudo não passará de uma estrela irrompendo em supernova, não. é um riso sereno, com gosto encorpadodo e digno, o gosto do primeiro gole de uma longa, leve embriaguez.


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