26.1.14

ainda

num dia como hoje você desatina, como as reumáticas antes da chuva. mas lá fora tem sol.

não me previno mais, sabe? aceito e recebo quando chegas, ainda que seja nos momentos mais inapropriados, ainda que nunca venhas quando chegues. 

te disse que há tempos não choro? sem um pingo de orgulho por essa seca. seria tão mais fácil te materializar em lágrima e deixar que escorra até bastar. 

eu sempre vou te amar. mas parei de fazer arrodeios quando preciso mencionar seu nome em alguma notícia. as vezes dirigindo, paro no sinal e você entra no carro e te desejo tudo de tão bom, com o raio de sol quente batendo no braço esquerdo, um calor no peito e um desejo desumano e sincero de que você esteja bem, ainda que queime tudo por dentro, e o sinal abre e você salta e eu continuo meu caminho pra onde vou. 

entenda, eu não espero mais parada. sempre vou te amar durante um passeio de bicicleta, sempre vou te amar preenchendo as papeladas do dia a dia, te amarei nas contas de luz, te verei no café da manha, vou te amar nas mãos dadas com outra pessoa. seria traição comigo se não traísse os outros. eu vou em frente e você vem comigo, eu faço história e você a entrelinha. 

o coração é um músculo, o mais solitário dos músculos. mas é músculo para poder crescer quando usado. para bater quando apanha. não há autópsia no mundo que revele os que moram ali. tenho um zoológico de gente no meu, e você anda livre entre as jaulas. fui tão maior desde então, fazendo apenas mais espaço ao redor do seu. é seu, meu amor, não há nada que eu possa fazer, nem você. 

é mais bonito lembrar do que viver. mas viver lembrando, não quero mais. 

dorme, dorme tranquila. aqui é teu.

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