26.1.14

sobre o que não será dito

das coisas da vida, pouco se compreende. como ninguém ensina à uma criança que um dia alguém virá e quebrará aquele tambor no peito dela? 

que talvez isso aconteça de forma tão rápida, um dia, que ela nem se de conta do quanto morreu. 

pode ser que não, também. tem gente com jeito de quem nunca foi quebrado, de ritmo tão constante que parece surdo. 

ensinam que podemos vencer, que vamos crescer e casar, ou não, ter filhos, ou não, morrer, com certeza. ninguém fala dos marginalizados, dos que nunca chegaram a lugar algum, dos asilos lotados de vidas esquecidas, dos sanatórios, hospícios, bueiros. ninguém fala dos que morrem antes de que tudo se inicie. mas dizem que devemos tentar, porque vamos vencer.

deixa eu te dizer uma coisa, que talvez nunca mais te será dita: não temos uma vida; temos o peso de mil mortes e duas mil reencarnaçoes. tenho pra mim que cada noite dormida é uma pequena falência. você vai lembrar disso na próxima vez que sua garganta não travar de choro. sentirá falta da dor quando topar o pé no chão. sentirá falta da fome de quando era mais vivo. algumas coisas morrem, outras param de existir.

boa sorte, meu amor.

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