24.10.15

estou aqui

voltei depois de dois dias de ausência, de ossos roídos sem medula. um casal de dias inferteis, posso dizer, onde toda tentativa de desejo era um fruto podre ainda no galho. estou de volta, Luiza dorme envolta das colchas como um pequeno novelo de ossos frágeis e pensamentos densos. tudo me acalma e me anuncia o recomeço que já nem conheço: acabou a era, se é que posso chamar tão curto período de tempo de era, da solidão inócua. mas assim me pareceu, para quem estava dentro da ampulheta esperando ansiosamente o último grão daqueles dias caírem. e agora o shift, a mão voluntariosa é imprevisível que levanta a ampulheta e gira, quase que invertendo os polos da terra. mas não, sei que o que me aconteceu aconteceu apenas para mim, sendo assim indizível a exata quantidade de tempo que se passou desde aquele último inverno. tenho mil estações, não como um trem que segue sua linear, com pausas programadas, sempre cheio e vazio de gente. sim; tenho mil estações tal qual uma locomotiva, louca emotiva, a qual todas as noites pequenos homens levantam do chão sua rotina de ferro e as desviam por outros caminhos, por vezes inabitados, por vezes em círculos sadicos ao redor de um centro que jamais atinge. há colisões, por vezes, entre minhas estações, porém não se engane quem acha que são frutos de acidentes; o caos segue a linha e a linha estava sempre deitada antes dos passos, não podendo haver acidente devido à ausência de espontaneidade no desastre. 

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