28.10.15

para Solange:

tenho consciência do momento exato que vou explodir, por exemplo; segunda-feira Luiza me disse que era borderline. Sim, no primeiro momento o que senti foi inveja, depois rapidamente uma raiva de mim mesma por senti-la, e então, mesmo que ela me pedisse "fala, me conta, pq ficasse tão estranha de repente?" não conseguia sair de mim, nem aceitar dentro de mim, a ideia do sentimento que tive. por que invejava aquil? seria o alívio que eu queria ou a atenção de ser o centro, a border? E depois o que? Travei em raiva. Primeiramente de mim, porém expressa totalmente através dela. Saco de pancada. "Voce tá com raiva pq queria ser border, não é? Eu sei que é" e então a gota d'agua. "Pare o carro, eu quero sair, pare o carro, me deixa ir embora, vc não entende nada" e então passou-se uma hora de falta de ar, de vista vermelha de ódio. Eu saiba que ela mandaria a mensagem, eu respondi bufando "morre, eu te odeio, vai embora, vc n entende nada!" 

"EU TE ODEIO VC JÁ TEM SEU DIAGNÓSTICO AGORA ESPERO Q VC MORRA DELE"

tremendo de raiva, bufando de raiva, raiva irracional, abro a porta e vou comprar cigarros e por um segundo me sinto perdida, em lena consciência do que fazia, alimentando ainda mais aquela raiva. 

"Ele disse que algumas pessoas não precisam de muitas consultas e que eu era o tipo de borderline que faz mal pra si mesmo"

(Então eu sou o tipo ruim, o tipo que faz mal pros outros, o tipo que eu mesma não queria ser, o tipo que destrói, o tipo que inveja esse diagnóstico no lugar de estender uma mão e ouvir)

"Por que tas assim tão estranha? Tas parecendo outra pessoa, às vezes tu parece outra pessoa"

"Não to estranha, só quero ouvir"

(Eu sei que to estranha e eu não sei o que fazer pq a qualquer momento o monstro vai surgir aos golpes, só queria q ngm me perguntasse nada e eu não fosse eu)

"Não, tu tas estranha sim, o que foi que eu fiz? Tu tava de boa agorinha."

"Não é nada, fiquei esperando esse tempo todo e tava ansiosa pra saber como foi tua consulta"

(Eu to ansiosa, eu quero explodir, se eu te contar o que pensei vc ngm jamais gostaria de mim, eu sou de fato uma pessoa ruim)

"Queres fazer alguma coisa?"

"Me deixa em casa"

(Por favor, não me deixa, por favor, eu sou uma pessoa ruim, vai embora)

"Oxe, tu quer ir pra casa?? A gente mal ficou juntas hoje. O que é que tu tem hein, pelo amor de Deus? Não adianta dizer que tá normal"

"Eu to normal, só to cansada"

(Eu quero tudo e nada e não queria ser eu no meio de toda essa ansiedade, eu não sei, eu vou perder o controle, eu não sei quem sou)

Para na farmácia, quase um piloto automático, tomada pela ansiedade, pelo medo, pela raiva, meu deus se vc existe de onde vem tanta raiva? Compra o remédio, eu nem existo nesse mundo onde meu cartão de crédito foi negado, eu quero ir embora de mim. De novo tudo isso, e ao mesmo tempo que machuca, tem alguma coisa de bom, de vivo. Em cinco minutos estarei urrando de raiva e desespero, abandonada por algo que eu mesma criei. Em cinco minutos eu descarrego minha metralhadora de palavras em você sem nenhuma, N E N H U M A, consideração por você, pelos seus sentimentos. Em dez minutos eu me martirizo, eu sou a pior pessoa do mundo, sempre EU. 

"A culpa é sua, vc disse que eu queria ser borderline"

(Eu sei que a culpa é minha mas eu não aguento isso, então te dou ela a todo custo)

"Vc podia ter conversado comigo, eu não aguento mais isso, esse acaba e volta, vc não sabe conversar, simplesmente explode sem falar nada"

"Eu sei"
(Eu sei)

E agora, o que tenho a dizer sobre isso e sobre os dias onde chego em casa e já sei que vou me martirizar procurando algo sobre borderline ou histrionismo, onde sinto surgir o desespero no meio de um sorriso que mal acabei de dar, sozinha no meu quarto pesquisando mil coisas e me perdendo no que sou e não sou, perguntando para André o que eu sou, afinal, pela milésima vez, você vai enjoar de mim, por favor na me abandona tá? Ele ri, me diz que não, tenho meus problemas mas não sou nada disso, e que diferença faz um nome? Você não vai deixar de ser feliz seja lá o que vc for. Mas não para aí, eu deveria estar estudando, eu deveria estar fazendo alguma coisa boa para mim mesma e to aqui, mais uma vez me perdendo no desespero e buscando ajuda e me perguntando coisas que são duras demais pra responder sozinha pq às vezes eu sei as respostas, mas queria que fossem outras. Eu estou perdendo tempo e postergando tudo, foi assim no vestibular, foi assim na faculdade, vai ser assim pra residência também? Sera que esse não passa de um mecanismo meu para me impedir de seguir em frente com a vida que eu tanto temo, que eu tanto me sinto incapaz? Eu não sei mais no que acreditar, a verdade é essa, não sei se acredito nas minhas próprias mentiras ou se me perco nas verdades absurdas, ou os dois, eu não sei quem sou e demora um longo tempo até que volte a bater no ritmo normal, o coração. Então eu escrevo, estou aqui, escrevendo, não é útil, mas também não me dói tanto, alivia. E quem garante o amanhã? E quem garante os próximos trinta minutos? Tudo muda o tempo todo e eu só tento me manter sabendo, ao longo de tudo que me acontece, ou que faço. Preciso assumir que faço as coisas, que não sou vítima ou irresponsável pelas minhas ações. Sei. Desde quando saber me trouxe algo bom? Quando foi que essa inteligência me trouxe descanso? Tantas vezes consegui pensar até ficar infeliz, nunca o contrário. Vou tentando falar algumas das coisas indizíveis, como o sentimento de inveja. E a terrível certeza que uma parte de mim quer que tudo isso aconteça. Até quando?

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