18.2.16

filha da puta

porque não me doeu como eu esperava, a cada nova partida era mais de mim que se acumulava numa auto-suficiência digna dos ermitões desérticos e isso era intolerável. eu não sei viver se não tem um sentimento me guiando, fico perdida como uma pessoa comum atrás de coloral no supermercado.

espero que alguém entenda o que está acontecendo, não sinto necessidade nenhuma de explicar, mas espero que alguém entenda. espero que esse alguém seja você. espero que você ainda saiba quem é também. 

depois do meio dia, dizem que essa é a hora onde os demônios apertam as cabeças dos doentes, ou talvez seja o sol forte demais que desmaia o que sobra de razão, depois de meio dia eu senti medo. há três horas me recuso a sair de dentro desse frio que, aleluia, finalmente chegou. quantas vezes você morreu nesses dias em que eu não derramei uma lágrima? a indiferença não é justa quando ela te impede de tocar a vida e queimar os dedos. no mínimo espelha uma falsa proteção, postergando e acumulando debaixo da pele o que virá depois, eventualmente. 

depois veio agora, atrasado, púrpura ofegante, quase não chegando. há algo que me beira nesse momento com olhos de fome, aguardando a brecha permeável para agir. venha, não espere mais, venha que eu to mansa, venha trucidar o tédio com teus dentes afiados pela vida, não espera a noite para dar o bote. quando você se foi eu fiquei tão só, tão só, que decidi ir também. você me julga por isso? por ser outra pessoa enquanto eu não conseguia ser eu sozinha sem você? isso é tão louco, que eu me obrigue a sofrer para que nada tenha sido em vão. 

quando eu caio, nem sempre me levanto de primeira. na verdade, tenho o estranho hábito de engatinhar para trás, até que estenda o primeiro movimento de alçar-me. me levanto apoiando em algo conhecido. 

eis que você desaparece quando eu chego, talvez já esteja refeita em alguma outra história. serviu de algo, as ideias estupidas que criasse para conseguir me fazer outra coisa que não te atraísse tanto? eu não repeli sequer um pingo de merda seu enquanto você enlouquecia atrás de um fio de razão para me odiar. eu me odiei infinitamente, calada para não te dar o gosto de ouvir um "ai". AI, CARALHO. AI, PORRA LOUCA DO CARALHO. EU VOU TE MATAR AQUI DENTRO MESMO QUE ISSO ME CUSTE QUASE TODA VIDA. isso basta agora? ou já é tarde demais? 





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