10.6.10

iazul

eu já fiz muita coisa errada na vida, errei tentando acertar, como todos, e algumas vezes errei pelo prazer da dor alheia, fiz o mal puro e simples.
já fui infiel com namoradas, desleal com amigos, já menti coisas absurdas, justifiquei muito meio pelo fim... não importa a qualidade das minhas péssimas ações, nem a intensidade, eu sempre paguei calada no final; já fiquei sem dormir simplesmente por não ter abraçado alguém com mais carinho sabendo que aquele abraço significaria muito para quem o recebeu. não sou santa, nunca mando ninguém a merda, é verdade; eu os levo pessoalmente.
mas sempre, sempre, acordo sem dormir de uma noite de travesseiro pesado, quando a consciência derruba o corpo. fazer o mal por acaso, como quando alguém tropeça sem querer no nosso pé, é aceitável, são coisas da vida, acontece. mas quando eu coloco o pé para alguém cair, quando eu antecipo a queda e fico lá sentada, apenas observando, eu não aceito, eu não durmo. posso citar o princípio da não-maleficência, posso dizer que a minha falta de ação já é uma ação em si, e que ninguém poderá tudo por todos, posso. mas eu não entendo.
repito, eu já fiz muita coisa errada na vida, errei tentando acertar, errei por prazer da dor alheia, errei a data de um aniversário importante, errei na hora de marcar o gabarito, errei na escolha de palavras, errei na ausência de carinho intencional, errei no julgamento, errei comigo e com os outros, sempre pagando com dias pesados de sono no final, porque se arrepender é uma forma de redenção, aprenda a lição e siga maior, e eu nunca reclamei dos preços impostos por mim mesma no final de todos os erros.
e agora eu não sei justificar essa coisa que nunca senti antes, que me impede de sentir tudo, porque eu não enxergo o erro, eu não entendo o que está acontecendo, só estou sendo sugada para dentro, sentindo minha conta emocional se esvaziando, os números vermelhos de dívidas piscando, e eu não consigo ver com os olhos que buraco enorme é esse que não fecha, que erro absurdo é esse que vale uma vida, a minha.

sentaram no meu peito, apertaram meu coração e disseram: tudo passa.

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