9.6.10



o que fazer com as marcas?
porque a dor eu aguento, a dor eu choro, remedio, espero paciente. mas e as marcas antigas, as feridas velhas e secas que não fecham, como é que se faz quando a dor é crônica e o coração idoso? o que é que se faz quando já se fez de tudo e de nada adiantou, quando dos remédios só se teve os efeitos colaterais, das palavras só o áspero, como é que se faz quando o ar passa feito uma lixa nos pulmões e quando tudo por dentro está um caco? eu me sinto um fim de festa, uma âncora sem navio, apenas peso que ninguém tem mãos para segurar, escorro feito a água que me afunda, disparo incoerências e na confusão de remadas, distribuo murros e socos e ponta pés. eu não posso falar nada disso porque minha boca é um pequeno buraco de um dique cheio, e se eu abri-la pra te contar, vou derramar em você tudo que não quero. eu não posso dizer que quero solidão porque busco paz, pois a paz não está em mim. quando eu digo que quero ficar só, não é sua presença que incomoda; é a minha. eu quero solidão para engolir tudo, para chorar com calma, sem perturbar ninguém, pois ultimamente eu tenho sido demais e ainda tem muito. pedir paz é muito, eu só quero evitar as minhas guerras conhecidas e novas feridas velhas.

me sinto aquele sofá velho que vez ou outra avisto boiando no canal; já fui lugar de conforto para uma família.

Um comentário:

. disse...

e ainda vai ser muitas outras vezes.