4.4.10

fui eu que fiz!

eu não pedi para nascer, mas nasci.
é, é injusto, mas não cabe a mais ninguém no mundo a responsabilidade da minha vida, ainda que ela nao tenha sido necessariamente desejada por mim. eu posso escolher não aceita-la e levar uma vida infeliz, culpar minha mãe que foi muito ausente, meu pai que me amou demais, minha opção sexual, meu sexo, minha cor, raça, altura, a chuva, o trânsito, o cachorro da vizinha, o professor chato que me reprovou, ou posso aceitar que essa dor é minha e cabe a mim mudá-la.
posso não saber o que quero também, e isso não é nenhum crime. o crime não está em ficar parado, apenas em acomodar-se e esperar que tudo mude com o tempo. alguém disse uma vez que a maior loucura da vida é fazer tudo igual, dia após dia, e esperar resultados diferentes. eu concordo plenamente. tenho muito medo de mudanças, mas sei que são necessárias quando viver torna-se pesado.
estar vivo é tão óbvio quanto respirar, mas viver requer uma grande responsabilidade. ou eu encaro a vida com todas as suas desigualdades, ou eu fico em casa reclamando que ela é injusta. revolucionário de sofá é que não falta por aí...
ainda que nada possa contra quem fui, ou até contra alguns aspectos de quem sou, muito posso por quem quero ser. e isso só eu posso. por mais que às vezes eu gostaria que alguém me carregasse no colo um pouquinho, sou eu que devo chegar lá com meus pés. viver dói, machuca, erramos muito tentando acertar e às vezes é difícil ter que aceitar tudo isso sozinha, saber que fui eu que fiz aquela pessoa chorar, saber que fui eu que decepcionei, machuquei, saber que a gente é capaz de tanto. mas somos, mesmo, capaz de tanto, e só sabemos disso depois que tentamos e vemos que não morreu, estamos vivos no final das contas impossíveis.
a gente tem que ser o que a gente é, sem passar por cima de ninguém, muito menos da gente. sofrer pelo outro não é poupação, não é nenhum ato heróico, é egoísmo, julgar que aquela pessoa não tem capacidade de suportar-se. cruzar os braços e dizer "não posso fazer nada" faz de nós inválidos para a vida, e talvez merecedores desse destino que não é o nosso. não acredito em pobres coitados, em vítimas do acaso, em castigo de deus. acredito apenas na capacidade do ser humano de se superar justamente quando se tinha por acabado, e não me contento com nada menos do que isso.
não estou dizendo que é fácil, porque não é. cada um tem sua batalha, cada vitória tem seu preço, cada dor tem seu peso.
não é fácil, repito,
mas não é impossível.

quero apenas poder olhar para vida e ser capaz de dizer "que gostoso, fui eu que fiz!"

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