6.7.14

g.h.

mas há também a necessidade ser vista, mesmo que por alguém tão mudo que nada diga, a necessidade é apenas dos olhos repousados sobre mim, sem muito piscar, sem que haja tantos desvios, do contrário em um desses lapsos me perderei em outra coisa, ou morrerei rapidamente de carência. sim, é necessário criar uma pele, antes de pensar no resto, antes de pensar em um coração ou um cérebro ou rins, nada funcionará se não houver uma camada de pele satisfatória aos olhos recobrindo todo caos interno. mas, ater-se a necessidade de tal coberta significa cobrir-se, você entende? você entende que quando digo cobrir-se, digo da forma como uma colcha cobre a cama em que se dorme; não se dorme na colcha, porém durante o dia é tudo que se vê, é tudo que é necessário para que evite poeira, para que evite o desconforto de uma visita sentar diretamente no íntimo da minha cama. então estou coberta, admito. talvez por algo que não necessariamente criei para mim, mas talvez pelo molde dos anos adormecidos na pele, ou pela crosta leve que o tempo cria em tudo que é cômodo, e mais do que cômodo, aquela coberta me era essencial, sendo o olhar sobre ela a única coisa mais importante que si mesma. 

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