18.7.14

meu X foi aqui.

a princípio o sonho é ser jovem pra sempre, manter a pele firme, os seios no lugar, a disposição, o coração curioso, manter-se intacta na medida do possível. mas não se pode. os dias passam, somam-se, multiplicam-se, não parece haver nunca uma pausa, um platô, um chão menos íngreme; é só subida. algumas quedas. algumas trombadas. mas ainda assim, sobe, nos trancos mesmo, a gente se arrasta, o sonho começa a se esgarçar, você pensa em outro lugar sabe? talvez outra cidade ajudaria, talvez outra pessoa chegue, pode ser que haja um revezamento mais na frente, e ontem já faz três anos, os sonhos começam a mudar de forma, a aceitar, os sonhos diminuem, a vontade diminui, a esperança diminui, os velhos já morreram de velhice, ou de esquecimento, a vaga está aberta, será que é lá que termina essa estrada toda?! já não se é mais tão jovem quando começamos a aceitar que perdemos, seja lá o que for que ficou no caminho, foi preciso deixar ou não se caminha, era peso morto, o primeiro fio de cabelo branco já estava aí há quanto tempo? que cor eram meus cabelos há dez anos? quem era há dez anos? sobe mais um pouco, não há mais ninguém no caminho, todos pegaram estradas paralelas e elas nunca se cruzam, você vai ter que envelhecer sozinha minha filha, e não há nada mais triste que isso, e um dia você vai dormir e os sonhos não virão mais, você vai acordar e eles não virão mais, então marque um X no local exato em que perceber isso: só os jovens podem sonhar.

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