24.7.14

eu te anulo

sim, não tenho dúvidas da natureza obsessiva dos meus sentimentos por você, as vezes me pergunto até se são de fato sentimentos ou um sumo viciante extraído da razão, tão espremida entre minhas mãos quando as levo a cabeça e me ponho a pensar. mas já discutimos isso antes, você não estava presente ainda que quase te materializei de tanto desejar a presença, ou seria temer a ausência? creio cada vez mais que é isso, que temo muito mais a tua ausência do que de fato deseje tua presença, presença que nunca soube dividir o instante com a minha, não por histrionismo ou amostramento, mas pela incompatibilidade que eram nossas vidas juntas, como se uma anulasse a outra temendo a anulação própria, de tão pleno que era tudo, cada falta de coisa cementada ao ponto onde não havia mais a falta em si, e sem a falta não havia a curiosidade, nem a dor, nem a vontade, nem nada que me fizesse querer sair daquele prazer infinito que era como deve ser um útero, do qual ninguém quer nascer. então veio o parto junto com a partida, a intolerância do teu corpo pelo meu, a plenitude perfeita se desfez como todas as coisas perfeitas: num rasgo, num murro, num qualquer coisa agressiva que caiba num pequeno tempo, de birra, pantim, tantrum, enfim; veio a depressão logo depois da raiva absorvida pela felicidade estática daquela união, pela felicidade abafadíssima, e o cheio de medo que exala uma pessoa feliz, provavelmente possessa de uma raiva secreta e intimia que só conhece nos sonhos, nós sonhos onde te apresentam janelas e você não sabe voar, nos sonhos onde você tem o melhor discurso do mundo pra aquela dor acabar e quando você acorda vê que era apenas coragem, nada mais que isso, que foi corajoso como num teste, mas de que nada vale na vida real. 

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