23.7.14

trecho 1

era uma asfixia seca, sem a umidade abafada do saco plástico, embora houvesse ar abundante, oxigênio, nitrogênio, todos os compostos nas porcentagens certas, ainda assim o ar parecia magro, pouco, ausente. sonhava que passava logo a sensação, mas no sonho nem sonhar ajudava mais, continuava confinada à condenação daquela pseudo-asfixia, veja bem que engraçado seria, jamais acordar, hilário, morrer do sonho de uma falta de ar enquanto na verdade engasgava-se aos goles de vento fresco, naquele cochilo esperto depois do almoço, afogava-se na pressão do estômago cheio sobre o diafragma, mesmo que não fosse suficiente, no sonho era, no era exatamente o necessário para o que há anos aguardava, era uma faísca surgida de tão forte o pensamento que a desejava, como aquele amor antigo que roça os dentes nos próprios dentes, afiando o osso para o próximo pedaço de carne que, ele sabe, virá.

Nenhum comentário: