2.3.16

(dis)trair-se


"como que constrangidos consigo mesmos: sabiam sentir-se da mesma forma pulsante, ali de mãos dadas, contemplando o infinito que era se esquecer. um se perguntava ansiosamente se outro também sentia, e sentia que sim, pois não precisava se perguntar; a mente quieta respondia todas as perguntas não feitas, apenas estavam ali, de mãos dadas e sendo; pela forma que olhavam dentro da mesma coisa, pelo jeito que tudo bastava e nada faltava e pela troca de tanto quando nada foi dito; eram felizes, felizes demais para não julgar a si mesmos, como se houvesse algo de proibido em querer mais do que já era bom, como se fosse justo ter um senso do que é justo, como se fosse simples demais para não estranhar, para não se perguntar em que exato momento desfariam as mãos e tudo acabaria, e quem soltaria-se primeiro, e qual dos dois aguentaria por mais tempo o grande pesar que era ser feliz? foi então que um sorriso ficou tenso, e o outro percebeu, e percebendo, piscou, e o sorriso vendo o olho piscar, desfez-se em suor, e o aperto úmido de mãos começou a afrouxar, o encaixe escorregava, e já não enxergavam mais aquele nada, e sim tudo, e então nada mais bastava e tudo lembrava o momento iminente em que se desfariam, porque lembraram-se: não há infinito. até que um soube, e o laço se desfez em nó, e a fala precisou de palavras, e estas, racionalmente tentando explicar o que não precisava de explicação, consumiram letra por letra cada segundo de levitação."

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