1.3.16

a boca seca, o coração seco

dar um pega e jogar a cabeça para trás, a certeza de que sua mão estará ali quando repousa-la sobre o palet descoberto. a boca seca procura a tua boca seca e dois desertos se despejam em uma tentativa de afeto. um gole de cerveja quente, eu lembro do carnaval com esse gosto, e de novo. eu não te amo, deixo bem claro como uma tentativa de aviso, uma anti-declaração, na verdade acho que nunca amei ninguém exceto uma ideia muito boa que criei sobre uma menina, mas ela morreu. na verdade mesmo, se a gente tirar a primeira camada do que disse anteriormente, acredito que seja bem o oposto: amei demais, amei tanta gente, amei cachorro, menina, mulher, homem, gente que nem sabia quem era, eu amei. mas essas coisas secam, sabe? como fruta seca, feito uma uva-passa que deve ter esse nome por tudo que ela passou na vida pra ficar seca daquele jeito, seca comida, seca como eu. árida, pois já falei seca demais. você não liga, eu sempre esqueço disso. é tanta coisa que a gente pensa no meio de coisas desinteressantes, e penso em tudo que deveria estar fazendo agora e na lista enorme de tarefas e to-do's e to aqui perdendo meu tempo tentando achar uma posição boa para minha língua na tua boca. mas quanto desse tempo já não se foi, despertar? a menina não volta, depois que ela vira mulher, dragão ou entristece, ela não volta mais a ser menina, pois não cabe mais, sabe? como se a realidade tentasse vestir uma roupa e sair na rua disfarçada de menina mas todo mundo a reconhece pelas roupas rasgadas que já não lhe pertencem. coisa triste de se ver, ainda mais quando é você quem cai na imbecilidade de tentar pertencer ao que não te dá mais.

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