10.3.10

de caneta

uma dica para qualquer um que já escreveu algo na vida, que tenha sido apenas o próprio nome na ata de presença de uma faculdade;
nunca apague o que escreveste, 
ainda que teu nome tenha mudado, ainda que tenhas mudado por inteiro, ainda que não mais te reconheças naquilo.
não tens o direito de apagar-te assim, covardia.
mover peças do que já passou é desafiar pesado o que virá.
para que mexer em monstro que já dormiu?
penso em todas as coisas que estavam apoiadas naquele rabisco, que aquele rascunho talvez sustentasse o equilíbrio ecológico da fauna e flora de alguém, que alguém teria derramado lágrimas ao ler ou dado uma boa gargalhada e estupidamente deletaram tudo aquilo, sutileza indiferente.

anda que não gostes, palavras criam raízes.
flores murchas, parasitas de árvores mortas.
o tempo é responsável, não a borracha.

naquela tinta tinha a ti, junto com a ponta da grafite foi uma ponta de ti,
depositaste ali o que um dia foste.
se não gostas do que vês, muda agora, não lá.
de que adianta mudar no que já passou...

assim como ninguém desvive nada, não se passa borracha em passado.
assume-se a responsabilidade ou ignora, vira-se a página, folhas brancas não faltarão lá na frente...

me decepcionei bastante hoje quando vi borracha onde havia voz.
não é matando que se corrige, é amando por cima.
e se é assim que se joga hoje em dia, apagando os erros, 
deve ser por isso que ninguém aprende mais nada nessa vida.

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