21.3.10

coisas contidas

viver é um passatempo, para alguns.
para outros e para mim viver é apenas uma distração da morte, esse eterno perdurar das coisas que vão se arrastando para o fim, até um ponto onde o fim torna-se desejável e elas cessam de ser, ainda vivas.
o fim de qualquer coisa é um pouco o fim de nós, e as coisas são sempre mais cheias da primeira vez que são, depois são pedaços, pedacinhos, fragmentos, pó, lembranças, passado e
passou.
a primeira vez de qualquer coisa será sempre mais pura, mais doce, mais selvagem. elas jamais serão novamente aquilo que foram na estreia, pois tudo na vida é domesticado, e depois disso... bem, já não são mais como antes; intensidades mais leves de vida. por exemplo, aquele riso que rio agora é o que sobrou do choro vivo de quando nasci porque quando a gente nasce, a vida explode em mil pedaços de coisas que vamos comendo ao longo do viver, e é do nascer que todo homem se alimenta. por isso sinto cada vez menos gosto e procuro cada vez mais pedaços maiores, a fome de viver está me comendo de fome de dentro para fora e se essa minha teoria estiver certa, por favor não esteja, eu estou em dívidas profundas de pratos vazios.

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