9.3.10

it's only suicide

para quem vê de além dos muros, pareceu morte,
morte purpurina, ou morte enfia-um-abacaxi-no-cú-e-diz-que-é-sereia.
que frágil esse momento calafrioso onde os músculos da face se enrijecem escolhendo a palavra certa para dublar a palavra mais certa, onde eu sempre me concentro para analisar se é uma auto-poupação ou se, de fato, buscam poupar-me de mim mesma, como se eu fosse me constranger comigo, e algumas vezes avistei também o sincero reconhecimento de falta de intimidade para tal abordagem, perdi muita gente nesse aí que preferem pegar a tangente de um outro assunto qualquer, já vi outros toparem nos seus próprios limites com sujeito tão pesado e pararem para olhar para dentro e terem verdadeiros monólogos onde eu era apenas disfarce para eles com eles, alguns poucos que montam no assunto e resolvem que é touro domado e levam um tombo cavalgando meu mistério como se fosse aventura de filme, nunca nenhum que acertasse na mosca porque eu não deixo já que é marca minha e quem quiser que sangre para conseguir a sua, e é um grande momento de conhecimento alheio, esse breve instante de escolha de palavras que é tão individual e único embora o papo seja sempre o mesmo e a palavra a ser encoberta seja sempre aquela, que sussurram até nos próprios pensamentos com medo de ouvirem.
"suicídio"
foram tantos os consolos que ouvi, muitas vezes direcionados para meus arredores, algumas vezes para o próprio consolador, poucas vezes para mim.
e eu sempre explico ao pé da letra o que aprendi nesses meses de análise e auto-análise que sim, eu tinha intenções de matar alguém dentro de mim, mas não a mim e agora estou de luto por quem morreu em parte, e a parte sã vela a parte partida, e todo o meu velório e reza vela ficou por minha conta quando a vaca de freud disse tchau e obama aprovou coca cola de inhame e john lennon previu naquela música tudo isso... 
é mais ou menos essa a imagem final de quem fica até o final para ouvir.
balançam a cabeça e sorriem empaticamente pensando assustados e com medo do próprio pensamento ("loucura é contagioso!" "pobre menina rica!") 

"talvez tenha morrido mesmo, talvez fosse melhor se tivesse"
essa vem de lá e de cá

"cicatrizou tão bem!"
"é, mas nas noites de sal desatina que é uma beleza"
essa eu nunca respondi

"foi tentativa de suicídio mesmo?"
"não, foi tentativa de tentar viver, suicídio é esse viver pouco de agora!"
essa ainda lateja

eu me divirto, aprendo muito com estes momentos e instigo um sempre que vejo a brecha na porta do assunto, "sim, sim, olha aqui a cicatriz" fisgo os curiosos.
esqueço os que doeram, os que não conseguiram dormir comigo e os que aceitaram dormir comigo novamente mesmo depois de ter passado por tudo isso e ai lateja e rasga e a carne sangra tudo de novo, e eu morro toda de novo, eu morro nova de novo.
"é que eu achei que mortos descansavam em paz..."

Um comentário:

Gabriela Baldasso disse...

o viver é um suicídio.